Ministério Público da Bahia já havia solicitado perícia do Centro de Convenções

Na noite de sexta-feira (23), parte do prédio desabou

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  • Saulo Miguez

Publicado em 24 de setembro de 2016 às 13:20

- Atualizado há um ano

A promotora do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Rita Tourinho, disse em entrevista ao CORREIO que o órgão solicitou este ano uma perícia do Centro de Convenções ao departamento de perícias do MP. Segundo ela, a requisição pedia ao departamento a lista de obras necessárias para que o espaço pudesse ser reativado sem risco para os visitantes.

Ainda de acordo com a promotora, o engenheiro civil Carlos Strauch, responsável pela obra estrutural do Centro de Convenções, foi chamado pela Secretaria de Turismo da Bahia (Setur) quando o órgão resolveu reformar o espaço.O Centro de Convenções na manhã de sábado (Foto: Marina Silva/CORREIO)"Ele [Strauch] afirmou que não tinha como reabrir o local", disse Rita. A promotora disse também que, em depoimento ao MP, o engenheiro lembrou que a perícia no Centro de Convenções não seria muito simples, pelas características arquitetônicas da obra. "É uma obra 'suspensa', e um pouco complexa". O secretário José Alves e representantes da empresa responsável devem ser chamados pelo MP na próxima semana. O órgão vai acompanhar o caso.

Associação também avisouEm nota, a Associação dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado da Bahia (Aspra) alega que os riscos em manter o Batalhão Especializado de Policiamento Turístico (Beptur) no Centro de Convenções já haviam sido sinalizados ao comando da PM, por conta do impedimento imposto pela Sucom e MPE. “Por pouco o desabamento não acaba com tragédia envolvendo policiais militares. Se compararmos as fotos (anexo) da unidade antes e depois do desabamento, é possível ter a dimensão do tamanho da tragédia”, afirmou o coordenador-geral da Aspra, soldado Prisco.

Segundo o informe,  PMs trabalhavam na guarda da unidade (nas salas de telefonia e armamento) no momento do desabamento.  "Se ocorresse em outro horário ou outro dia da semana, teríamos militares vítimas com gravidade na tragédia. De nada adiantou os avisos dos policiais e pedidos de resolução feitos pela Aspra. Pior, menos de seis horas após a tragédia, os PMs estão sendo obrigados a continuarem as atividades no local como se nada houvesse ocorrido”, lamentou Prisco. Desabamento Na noite de sexta-feira (23), parte do prédio do Centro de Convenções desabou. Aparentemente, toda a laje do primeiro pavimento, inclusive as escadas rolantes que davam acesso ao Teatro Iemanjá. Moradores se assustaram com barulho intenso, pouco antes das 21h. Bombeiros, polícia e Defesa Civil estão no local. Um vigilante, que quebrou a janela para sair da guarita, teve ferimentos leves, assim como uma policial militar que fica em um batalhão no local. Ninguém ficou soterrado.Detalhe do pavimento onde o desabamento ocorreu (Foto: Marina Silva/CORREIO)Pelo Twitter, o Governo do Estado da Bahia comentou o assunto: "Os 2 militares do Batalhão de Policiamento Turístico que tiveram ferimentos leves no incidente do CCB foram atendidos e liberados. Área do Centro de Convenções será liberada para perícia 72h após a ocorrência, quando estará garantida a estabilidade da estrutura. Um drone foi utilizado pelo Corpo de Bombeiros para filmar, sem risco para o efetivo, as áreas comprometidas do Centro de Convenções".

Em nota oficial, o Corpo de Bombeiros Militares da Bahia (CBM) informou que a parte danificada será liberada para perícia 72h após a ocorrência, quando estará garantida a estabilidade da estrutura. Na manhã de sábado (24), ocorreu o processo de análise de risco de parte da estrutura que cedeu na noite de sexta. Os militares utilizaram um drone para filmar, sem risco para o efetivo, as áreas comprometidas. O procedimento foi coordenado pelo CBM e acompanhado pelo secretário estadual de Turismo, José Alves, por peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT), integrantes da Defesa Civil, além de engenheiros e arquitetos das empresas responsáveis pelas obras.

"Nosso trabalho está sendo realizado por etapas. Ontem, fizemos o atendimento das vítimas com total êxito", afirmou o comandante-geral do CBM, o coronel Francisco Telles. Ele destacou também que o cordão de isolamento no entorno do centro ficará por tempo indeterminado garantindo a segurança dos moradores daquela localidade. A reforma do Centro de Convenções, que teve início em setembro de 2015, também previa intervenções no local que cedeu na noite de ontem.

"Ao longo dos últimos anos, percebemos uma degradação muito grande do edifício, bastava olhar a fachada. Mas não suspeitávamos que uma coisa como essas pudesse acontecer", conta a funcionária pública Claudia Sant´Anna, 38. Desde 2012 ela mora no prédio vizinho ao Centro de Convenções, com varanda de frente para o local onde ocorreu o desabamento. "A única coisa diferente foi que a obra da reforma, que já dura meses, começou a fazer um barulho insuportável na última semana, bem mais estrondoso do que nos períodos anteriores.  Aí ontem, por coincidência, ouvi a zoada por volta de 20h50", conta ela.

Claudia estava deitada na cama no momento do acidente. "Depois do barulho, deu para escutar bem o desespero de uma policial que trabalhava lá. Ela não pareceu ter sido atingida, mas não conseguia sair dos limites do edifício por conta dos muros. E ficava gritando desesperada o nome de um colega. Hoje de manhã conseguimos ver o tamanho do estrago e isso é muito triste. Já fui para muitos, muitos eventos aí: formaturas, festas, feiras... Fez parte de minha vida", relembra. Ela relata ainda que, mesmo com a proximidade do Centro de Convenções, a Defesa Civil não aconselhou que os moradores do prédio saiam de casa.

Veja como ficou o Centro de Convenções após o desabamento parcial:

Problema antigoUma empresária que preferiu não ser identificada conta que, em 2014, quando participou de um evento de moda no local, sentiu uma forte tremedeira no chão, o que espalhou pânico por alguns momentos. "Todo mundo ficou com muito medo. Balançou tanto que fiquei tonta. Quando vi que o governo havia mandado reformar, fiquei me perguntando como é que se reforma um negócio que já estava tremendo um bocado antes... Aquilo era para ter sido derrubado. Hoje vejo o perigo que corremos sem saber", desabafa.

ConsequênciasPara o produtor de eventos Ricardo Silva, que organiza o Gamepolitan, os eventos e o turismo de negócios vão sofrer com o acontecido. "Me pergunto: onde vou fazer uma feira de games e tecnologia em Salvador? Terrível ver uma cena dessas porque acabou com toda a esperança do retorno do turismo de negócios à cidade. Se o Centro desativado por um ano já impactou de maneira negativa, imagina uma situação dessas? O jeito é aguardar a providência do governo sobre o equipamento", lamenta ele. O rapaz fazia planos de realizar a edição 2016 do evento, que recebe cerca de 10 mil visitantes anualmente, no Centro de Convenções. "De 2013 a 2015 fiz no Centro, só este ano que fiz no Parque de Exposições por causa da reforma. A estrutura não era das melhores, tava precisando de uma reforma urgente, pois já havia uma série de problemas, como infiltrações da água da chuva. Hoje chego aqui e vejo que o local onde rolou a feira em 2015 desabou. É um choque", conta Ricardo.