Minna Salami é uma das atrações internacionais da Flica; conheça

Escritora de origens nigeriana, filandesa e sueca foi eleita como uma das "12 mulheres que mudaram o mundo"

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  • Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2017 às 06:45

- Atualizado há um ano

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Foi da vontade de dedicar o tempo ao que realmente importava para si, que Minna Salami resolveu criar em 2010 o blog MsAfropolitan. Escrever sobre feminismo e pensar sobre a cultura contemporânea a partir de uma perspectiva centrada na África passou a ser o seu principal objetivo com o blog, e acabou se transformando também em uma espécie de auto-descoberta. Aos 39 anos, Minna segue mais do que nunca disposta a quebrar barreiras. Nascida na Finlândia, Minna é filha de pai nigeriano e de mãe filandesa. Durante a infância e parte da adolescência viveu na Nigéria, mas se naturalizou sueca. Hoje, vive em Londres, mas também já morou por um tempo em Nova York e na Espanha. Pelas ideias divulgadas no blog e proferidas em uma série de conferências e eventos, ela foi escolhida pela Revista Elle como uma das “12 mulheres que mudaram o mundo”, ao lado de personalidades como Angelina Jolie e Michelle Obama. É um pouco dessa trajetória que ela conta na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). Ao lado da escritora Cidinha da Silva, ela participa da mesa Escrita de Resistência Contra os que Desejam Sufocar a Nossa Voz, no sábado, às 17h. O termo empoderamento tem sido usado bastante ultimamente, e, muitas vezes, parece que o sentido da palavra é esvaziado. Você tem essa impressão? O que acha que o empoderamento de fato exige? Eu acho que a palavra “empoderamento“ tem se tornado popular em todo o mundo, mas eu fico relativamente impaciente com a frequência com que ela é utilizada de forma vazia. Ser “empoderado” significa ser capaz de mudar os obstáculos que se impõem no seu caminho. Este é um processo que requer bravura, coragem, sabedoria, honestidade, amor, determinação ... os tipos de sentimentos e expressões que não se consegue com facilidade, mas que tornam a vida mais fácil quando eles vêm.

 

No Twitter, você refutou as críticas sofridas pela estudiosa e ativista Bell Hooks por conta de um comentário que ela fez sobre Beyoncé e sobre seu álbum mais recente, o Lemonade. O que você acha dessas polêmicas, potencializadas na internet, e que parecem colocar sempre um contra o outro? Como diferentes pessoas contribuíram para o feminismo de formas diferentes, eu fico incomodada que tantas feministas queiram dar “unfollow” (como elas dizem) em Bel Hooks depois dos comentários dela sobre Beyoncé. Me incomada não porque eu ache que Bell Hooks esteja acima de qualquer crítica, mas porque estamos falando de uma acadêmica, ativista, escritora e pensadora que contribuiu e  que formatou a revolução cultural por décadas. Essa tentativa de diminuir e destruir o trabalho dela por conta de uma frase fala muito sobre a superficialidade característica dessa época.Além de toda a controvérsia, o que você acha do trabalho de Beyoncé? Sou fã da música de Beyoncé e da expressão criativa dela. Do primeiro álbum até o mais recente, eu gostei de todos eles! Mas não acho que todos sejam álbuns feministas. Alguns são incrivelmente feministas, como o Beyoncé, de 2013. Já a necessidade e a submissão ao amor romântico que macam Lemonade eu não classificaria como feminista. Quem acompanha seus textos ou suas redes sociais, nota que você é uma leitor de mulheres - sempre está em diálogo com outras escritoras. Sendo assim, quem você sugeriria ao público brasileiro conhecer?  Bem, falando de Bell Hooks, aqueles que ainda não leram o trabalho dela, por favor, dêem uma olhada. Outra escritora favorita minha é Yvonne Vera, e eu também recomendaria o excelente trabalho de Nawal El Saadawi.Outra autora que você sempre cita é a também nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Qual o livro dela que você mais gosta? E por que? Meu livro favorito dela é Meio Sol Amarelo. Isso porque o li logo quando foi lançado e achei que era um tipo de história radicalmente diferente das que eu já tinha feito sobre a Nigéria. Foi muito emocionante me reconhecer naquela literatura, que é mainstream.Nessa sua visita ao Brasil, você terá a oportunidade de conhecer Cachoeira, uma cidade do Recôncavo da Bahia essencialmente negra e muito rica culturalmente. O que você já sabe do Brasil? Eu costumava dançar samba e fazia parte de uma comunidade brasileira de samba em Londres, então eu sei muito sobre o Samba ... Em 2009, eu visitei o Rio de Janeiro para participar do Carnaval - desfilei na ala de passistas da Uniao da Ilha. Durante essa viagem, eu descobri quantos legados comuns havia entre a cultura afro-brasileira e a cultura iorubá. Nós temos muitos dos mesmos alimentos, da dança, dos maneirismos. Sem mencionar as práticas espirituais que eram familiares para mim por ser uma nigeriana e iorubá.No evento, você vai participar da mesa Escrita de Resistência Contra os que Desejam Sufocar a Nossa Voz. Quais são as expectativas para a Flica, especialmente no que diz respeito ao diálogo com escritores (da resistência) daqui?  Estou muito animada para conversar com a Cidinha Da Silva sobre esse assunto tão importante. Estou curiosa em ouvir o que ela e outras escritoras brasileiros pensam sobre escrever histórias de resistência e existência. Não consigo nem descrever o quanto animada eu fico por visitar o Brasil e Flica. É simplesmente maravilhoso!