Miro Palma: Richarlyson e o preconceito no futebol

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  • Miro Palma

Publicado em 17 de maio de 2017 às 05:02

- Atualizado há um ano

A quem interessa saber com quem um jogador de futebol se relaciona? Ao clube em que ele estiver atuando, aos colegas jogadores ou aos torcedores? A nenhum deles, não é? Afinal, a vida pessoal do jogador interessa somente a ele. Simples assim. Mas, tem muita gente com um déficit de entendimento quando o assunto é sexualidade, principalmente se for de um atleta do futebol.E se tem alguém que sabe muito bem disso é Richarlyson. O seu currículo é de dar inveja a muito esportista: em 2003, conquistou a Copa São Paulo de Futebol Júnior com o Santo André; um ano antes, em 2002, levantou o caneco do Campeonato Paulista com o Ituano; em 2005, foi campeão mundial com o São Paulo, e nos três anos seguintes foi campeão brasileiro também com o tricolor paulista; em 2012 e 2013, foi campeão mineiro com o Atlético e, em 2013, ainda venceu a Libertadores da América com o Galo.Só que quando o nome dele surge nas manchetes, na maioria das vezes, está acompanhado de alguma polêmica sobre a sua sexualidade. A última notícia foi sobre a sua chegada ao Guarani para disputar a Série B do Campeonato Brasileiro, na semana passada. Antes do anúncio oficial, o Estádio Brinco de Ouro da Princesa foi alvo de, ao menos, cinco bombas atiradas por dois homens em uma moto. Nas redes sociais, a recepção ao jogador não foi muito diferente. Além das típicas piadas homofóbicas, o vereador campineiro, Jorge Schneider (PTB), que torce para a Ponte Preta, ironizou a contratação dizendo que o atleta era “a pessoa certa no lugar certo”. Lamentável.E isso não é novidade, infelizmente. Em sua carreira, Richarlyson teve que enfrentar atitudes como essa por diversas vezes. Foi chamado de “bicha” por torcedores do Cruzeiro enquanto disputava um jogo pelo Atlético em 2013 e, no mesmo ano, viu um desabafo feito em campo após ganhar a Libertadores, em que disse: “Tive que engolir muita coisa”, ganhar mais destaque que o seu feito na imprensa e ser transformado em piada na internet. No tempo em que esteve no São Paulo, viu a torcida se recusar a falar o seu nome quando cantava a escalação do time.Ele já teve sua sexualidade questionada inúmeras vezes. Até o diretor do Palmeiras José Cyrillo Júnior se sentiu no direito de insinuar que ele era gay durante uma entrevista em 2007. E, depois de processá-lo por calúnia, Richarlyson ainda teve que ver o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, que julgou o caso, sentenciar que o “futebol é jogo viril, varonil, não homossexual”. Como é frágil a masculinidade de certos homens que só têm a virilidade como suporte, não é?A carreira do jogador, apesar de recheada de títulos, não é nem um pouco fácil. Talvez por isso tenha cogitado a aposentadoria em 2014. Mas, ele segue para mais um desafio. Disposto a, mais uma vez, calar os seus críticos, Richarlyson só pede respeito. “O país só tá em guerra porque o ser humano não sabe respeitar. Você não é obrigado a aceitar, mas tem que respeitar”, disse ontem em entrevista ao Esporte Interativo.Digo mais, Richarlyson, o futebol, dentre tantos setores da nossa sociedade, é um dos que mais precisam encontrar esse respeito. Respeito às diversidades étnicas, sexuais e de gênero. E, principalmente, respeito à privacidade. Afinal, você não precisa assumir nada porque não nos diz respeito com quem você se deita.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras.