Missa, baleia rosa, baianas... Veja o que de melhor acontece na Lavagem de Itapuã

CORREIO mostra os melhores momentos da festa centenária

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  • Nilson Marinho

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 10:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Às 10h já não existe mais nenhum rastro delas. A ausência das beatas por ali anuncia que a festa ficou bem mais profana que religiosa. Também pudera. A Lavagem de Itapuã, com mais de um século de tradição, conta apenas com uma missa, realizada nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira (1º). Depois disso, o que se vê são caixas e mais caixas de cerveja que chegam para abastecer os isopores dos comerciantes.  Amigos organizam a Baleia Rosa Foto: Nilson Marinho/CORREIO Em frente à Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Itapuã, que, a essa altura já está fechada, os grupos populares também vão chegando para animar os fiéis - ou apenas foliões. A famosa Baleia Rosa, por exemplo, já descansava aos pés da escaria da paróquia por volta das 10h30. Dali, ela partiu, carregada, para a praia de Placaford onde, às 12h, refez o trajeto de volta arrastando quem estava pelo caminho. É assim há 31 anos. 

A Baleia Rosa é de PVC e mede cerca de 10 metros. Mas, no final da década de 80, o animal era de papel machê, produzido pelo artista plástico Isolino Passos. Hoje quem comanda o grupo é Cristiano Loureiro, 45, filho do também artista plástico João Loureiro que, junto com o poeta Waly Salomão (falecido em 2003) teve a ideia de colocar o gigante do mar nas ruas do bairro. 

A ideia, conta Cristiano, surgiu para homenagear Itapuã, um dos maiores portos de navios baleeiros de Salvador. "Foi para homenagear mas, também, para criar uma conscientização ambiental e cultural, para agitar nosso bairro", explica Cristiano. 

Todos os anos, a baleia chega à areia de Placaford, trazida por mergulhadores, mas, nesta lavagem, o animal não entrou na água. "A superlua exerce uma força nas marés e pode ser arriscado", justifica Cristiano.

A funcionária pública aposentada Janilda Gomes, 74, chegou por lá antes das 8h. Veio, ressalta, não pela fé, mas pela farra. É assim desde os seus 15 anos. Mas ela faz questão de deixar claro que, embora hoje não esteja muito apegada aos santos e orixás, é, acima de tudo, uma mulher de fé."Hoje aqui é sambão, farra. Diferente, por exemplo, da Lavagem do Bonfim. Quando eu era nova também era assim, vinha só para me divertir e namorar", brinca.  Aposentada só pretende voltar pra casa no final da tarde quando, considera ela, a farra começa a passar dos limites Foto: Nilson Marinho/CORREIO Pela farra Em Placaford, onde os blocos tradicionais se concetraram para o desfile, um grupo de amigas aproveitavam a sombra de um coqueiro e um som ali por perto para curtir a festa. A contadora Rita de Cássia, 57, abriu mão de qualquer cerimônia religiosa para tomar uma cerveja. Sem exageros para não errar o caminho de volta para casa. "Eu, por exemplo, só vim pela festa. Até porque a missa acontece muito cedo. Quem tá aqui está pela farra", disse Rita. 

A poucos metros dali caminhava o humorista e músico Juca Chaves que, aliás, foi um dos homenageados da lavagem. "É o Juca! Juca, meu querido, um beijo", gritava Rita. Juca seguiu até a paróquia em um carrinho de pedal, tendo ao seu lado outras personalidades do bairro. "Eu me sinto um príncipe de Itapuã, mas sou apenas um menestrel", brincou Juca. 

As baianas seguiram logo atrás e chegaram nas escadarias da paróquia às 13h, onde realizaram a lavagem. Cerca de 20 baianas ficaram responsáveis pela lavagem do espaço. 

Pela fé A ialorixá Carmén de Oliveira, 80, fez a cabeça na década 70. Deste então, todos os anos, religiosamente, vem à Bahia agradecer ao orixá que lhe rege: Iemanjá. Na cidade de São Paulo mantém um terreiro que também é obra de caridade.

Em terras baianas, diz ela, o que mais chama a atenção é o respeito que a igreja católica possui com as religiões de matriz africana. Por aqui, diferente de outros estados, por exemplo, ela pode adentrar o templo dedicado à Mãe de Jesus Cristo."Estou aqui para demonstrar a minha fé. Eu acho que é um ato de fé grande, não só para ela (Iemanjá), mas para os outros orixás. É incrível o respeito da igreja que nos permite entrar nos templos. Isso nos glorifica muito", disse a ialorixá. Cortejo começou por volta das 11h30. Veja cliques do fotógrafo Evandro Veiga, do CORREIO. [[galeria]]

Saiba tudo que acontece na lavagem Nesta quinta-feira (1º), a Lavagem de Itapuã completa 113 anos. A programação começou às 2h, com o Bando Anunciador, grupo formado por percussionistas e pessoas da comunidade, que percorrem as ruas do bairro para anunciar a festa.

A partir das 6h, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Itapuã, situada na Praça Dorival Caymmi, abriu as portas para celebração da missa com o padre Ailan Simões Costa. 

As baianas, os Filhos de Gandhy e o grupo Carro de Palha fazem um cortejo a partir das 11h. A partir de 12h, o público poderá participar e assistir a mais 17 desfiles de blocos de chão, que sairão a cada 15 minutos entre a Praia de Placadord e a Rua Aristides Milton, no início da ladeira do Abaeté.  

Se apresentam, nesta ordem: Escola de Samba Unidos de Itapuã (12h), Galera do Mar (12h15), Arrastão dos Peixes (12h30), Amigos de Pedreira (12h45), Arrastão do Bideira (13h), Sambeleza (13h15), Arrastão dos Cornos (13h30), Bloco das Santinhas (13h45), Bloco Vem Pra Cá/ Banda Zumbada (14h), Bonitol (14h15), Chabisc (14h30), Chuva de Gelo (14h45), Baleia Rosa (15h), Malê Debalê (15h15), Pinauna Power (15h30), Bloco Nem Te Conto/Banda A Panela (15h45) e Confraternização UESC (16h).