Moradora de Itapuã, professora de dança Gisele Soares é eleita Deusa do Ébano do Ilê Aiyê

38ª Noite da Beleza Negra homenageou a beleza da cultura e da mulher negra

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 5 de fevereiro de 2017 às 08:49

- Atualizado há um ano

A professora de dança Gisele Santos Soares, 24 anos, moradora do bairro de Itapuã, foi a grande vencedora do título de Deusa do Ébano 2017. O concurso aconteceu neste sábado (4) - como parte da programação da 38ª Noite da Beleza Negra, na Senzala do Barro Preto, no Curuzu - e homenageou a beleza da cultura e da mulher negra.

Inspirado pelo tema do Carnaval 2017 do Ilê Aiyê “Os povos Ewe/Fon - A influência dos povos Jejes para os afrodescendentes”, o espetáculo teve participações das cantoras Daniela Mercury, escolhida para ser Rainha do Ilê em 2017, Larissa Luz, Nara Couto, Ana Mametto, Tainah, Juliana Ribeiro e Danny Nascimento. A atriz Denise Correia e Mãe Jaciara, ícone da luta contra a intolerância religiosa, também participaram do evento. A banda anfitriã, Band’Aiyê, agitou a noite com antigos e novos sucessos. Música, teatro, dança, poesia e outras manifestações culturais se misturaram no espetáculo assinado pelo diretor Elísio Lopes Júnior.

Participando pela primeira vez do concurso, a vencedora Gisele esperava participar do desfile apenas para ter experiência, mas acabou levando não só o troféu de Deusa do Ébano 2017, como também uma premiação de R$ 3,6 mil, uma fantasia do seu bloco do coração e dois bilhetes da Air Europa. “Não imaginei que estaria aqui, agora, sendo Rainha do Ilê Aiyê. Foi uma surpresa muito grande. Espero trazer muita prosperidade para o bloco, porque a gente está passando por um momento difícil”, disse a jovem, que tem agora a missão de levar ao público todo encanto e consciência que a mulher negra necessita para elevar sua autoestima e censo crítico.

Conheça a trajetória de Gisele Soares, nova Rainha do Ilê AiyêGisele Soares, 24 anos, derrotou outras 14 candidatas (Foto: André Frutuoso/Divulgação)Com destaque durante todo o Carnaval, a Rainha do Ilê representa a entidade em eventos sociais e integra sua comitiva em viagens e turnês, dentro e fora do Brasil. “Quero participar de todos os projetos e momentos do bloco. Quero crescer e fortalecer com o Ilê. Quero representar essas mulheres negras que não conseguem se ver atualmente na sociedade. A gente sofre a todo momento simplesmente por sermos pretas. Estamos aqui para ocupar todos os espaços. Todos somos seres humanos e devemos estar em todos os espaços da sociedade, não só dentro do Curuzu. Não só dentro de Senzalas. Temos que invadir e ocupar todos os espaços, porque temos o direito. A gente tem que tomar de volta tudo o que foi roubado da gente e abraçar, enfrentar”, afirmou a dançarina.

Aos 24 anos, Gisele é mãe da pequena Ayomí Zuhri, que tem apenas dez meses. Ela também ensina dança afro, ballet clássico, além de outras modalidades - como jazz e dança contemporânea. A jovem participa ainda de projetos sociais no seu bairro, Itapuã, e em outras comunidades, como Cajazeiras. Assista abaixo como foi o anúncio da vencedora e parte da sua performance final. 

Quem também participou pela primeira vez do concurso e levou o segundo lugar, o prêmio de R$ 3 mil, além do título de Princesa do bloco e uma fantasia foi a auxiliar administrativa Suana Emile Góis de Jesus, 24 anos. Moradora do Santo Antônio Além do Carmo, ela acompanha o bloco há 15 anos e sempre quis participar do concurso, mas, por ter vergonha do corpo, retardou o desejo. “Ainda não estou completamente realizada, mas, só de estar aqui, me sinto muito feliz e honrada por representar esta parcela da sociedade que não se sente dentro padrão. Ser gorda não é deficiência e nem doença. A gente tem que se assumir e se valorizar. Somos lindas e não precisamos de mais nada. É só acreditar”, falou a jovem, que também estuda enfermagem.

A recepcionista Juliana da Silva Conceição, 29 anos, por sua vez, participou do concurso pela sexta vez e garantiu o terceiro lugar, além do título de Princesa do bloco, do prêmio de R$ 2,5 mil e uma fantasia. “Estou muito feliz, lisonjeada, de mais um ano estar em terceiro. Para mim isso significa minha a autoafirmação enquanto mulher negra, guerreira”, declarou.Juliana, Gisele e Suana: terceiro, primeiro e segundo lugar do concurso, respectivamente(Foto: Naiana Ribeiro/CORREIO)Representatividade O fundador e presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, destacou o significado da noite e a luta do grupo para fazer o concurso resistir há quase quatro décadas. "Esse é um evento pré-carnavalesco muito importante para nós e para a cidade e que vai muito além do empoderamento do povo negro e da elevação da autoestima da mulher negra", disse. Ele também criticou a falta de apoio de grandes empresas ao bloco.

Amiga da família de Vovô há décadas, a atriz e apresentadora Regina Casé também foi prestigiar a noite de festa. “Sou apaixonada pelo Ilê. Tenho admiração muito grande pela mãe Hilda e sua memória. Esse evento é muito importante para o que hoje chamamos empoderamento. Quando se fala na valorização do povo negro, estamos avançando, mas ainda temos muita coisa para melhorar”, avaliou.Regina Cazé fez questão de cumprimentar Vovô (Foto: Reprodução)Ator e comediante, Luís Miranda também esteve na Senzala do Barro Preto e declarou o seu amor admiração pelo bloco. “Minha rela com o bloco começou há quase quatro décadas. É um amor muito grande. Por tudo: pela cultura, pela resistência e por tudo que o Ilê representa para a Bahia”.

O ator Sulivã Bispo, do canal de humor Frases de Mainha, se apresentou com a jornalista e youtuber Tia Má. Ao CORREIO, ele contou que é cria do Ilê. “Sou nascido e criado no Curuzu. Minhã mãe e meu pai saem no Ilê. Venho aos ensaios desde os 2 anos de idade. Acho que a minha personagem, Mainha (que é preta), traz muito da cultura que aprendi aqui no bloco”.

Outro momento marcante do evento foi quando as jornalistas Wanda Chase, Rita Batista, a socióloga Vilma Reis e Mãe Jaciara fizeram um manifesto contra a violência contra a mulher negra. Elas também homenagearam as crianças negras.

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