Moradores de Matarandiba poderão passar informações sobre cratera via WhatsApp

Após investir quase R$ 1 mi em segurança na ilha, Dow diz que situação está sob controle

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 20 de novembro de 2018 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Dow Química/Divulgação

Foto: Dow Química/Divulgação Um relatório apresentado pela Dow Química na tarde desta terça-feira (20) concluiu que a Vila de Matarandiba, vizinha à Ilha de Itaparica, está segura e que a cratera não deve oferecer riscos aos cerca de 900 moradores da comunidade, localizada no município de Vera Cruz. A comunidade passou a ter um contato direto com a empresa, via WhatsApp, para comunicar possíveis alterações ou qualquer emergência em relação ao buraco (ver mais abaixo).

O relatório foi apresentado por cinco diretores da empresa estadunidense: Marcelo Braga, diretor de operações; Marcos Lobão, diretor da unidade Matarandiba; Fabrício Martinez, diretor de saúde, segurança e meio ambiente; e Diego Arango, diretor geral do complexo de Aratu, foram os responsáveis por conduzir a apresentação.

O estudo encomendado pela empresa ainda terá duas etapas, que têm conclusão prevista para o ano de 2020. Segundo Diego Arango, uma fase intermediária do estudo deve ser finalizada em abril do próximo ano. A primeira fase, apresentada nesta terça, concluiu também que a cratera deve chegar a cerca de 120 metros - atualmente tem 86 metros de comprimento e aproximadamente 36 metros de largura.

A profundidade do buraco reduziu por conta das pedras e detritos que caíram por lá durante os últimos meses: era de 41,5 metros a profundidade em setembro e, agora, caiu para 40 metros.

Fabricio Martinez explica que esse aumento na cratera é natural e faz parte de uma fase chamada de “estabilização”. O que se vê hoje é que o buraco possui a base menor que o topo e o processo de erosão vai ampliar o buraco até que o fundo da cratera tenha a mesma largura do topo.

“Esse processo [de aumento da cratera] é natural e vai acontecer. O principal agora é saber que a Vila está segura e estamos monitorando tudo 24 horas. Os primeiros estudos ainda não apontaram a causa dessa cratera, mas já possibilitaram afunilar a quantidade de hipóteses e atualmente trabalhamos com três teorias”, explica Arango. Diretores da empresa falam sobre medidas em relação a cratera (Foto: Dow/Divulgação) As três teorias restantes para os estudos investigarem são: causa natural, ação de águas subterrâneas e, por fim, a própria ação da empresa Dow, que explora a região desde 1976. Além disso, para Arango, ainda existe a possibilidade da cratera ser fruto de uma junção das três hipóteses.

O diretor-geral do complexo de Aratu salientou que o contato com a comunidade é um ponto de preocupação constante da Dow. Ele explica que além de fazer reuniões constantes com a associação de moradores de Matarandiba, a empresa realiza uma capacitação para que os moradores estejam preparados para eventuais ocorrências de risco como incêndio florestal ou, inclusive, incidentes que decorram do próprio buracão de Matarandiba.“Basicamente, neste momento, estamos em capacidade de poder falar que a comunidade está tranquila. A probabilidade de acontecer um evento similar é de praticamente zero”, garante Arango.WhatsApp Além disso, o diretor Marcos Lobão apontou que um canal de comunicação direta entre empresa e comunidade foi criado. Trata-se de um WhatsApp e através dele os moradores podem entrar em contato para tirar dúvidas e fazer denúncias sobre a cratera, caso observem algum tipo de situação suspeita.“Caso alguma variação seja identificada, a comunidade será comunicada de imediato e todas as medidas de segurança para preservar a integridade das pessoas que moram na vila serão adotadas. Nós também isolamos o local da erosão com barreiras de segurança. Colocamos seguranças para vigiar e também instalamos placas para alertar a população local”, explicou Lobão.Durante os mais de 40 anos em atividade na região, a Dow já perfurou 57 poços de extração de salgema e atualmente existem oito em atividades. Segundo a empresa, existe um monitoramento em cima de todos os poços, desativados ou não.

Investimentos Diego Arango explicou que “boa parte da estrutura de investigação e monitoramento da cratera já faz parte do cotidiano da empresa”. Ainda assim, novos equipamentos precisaram ser adquiridos. Ele destacou os cinco sensores microssísmicos, que demandaram o investimento de 250 mil dólares (cerca de R$ 940 mil em valores atuais) para a empresa. Eles verificam todos os movimentos e conseguem fazer previsão de novas ocorrências que podem acontecer.

Cada equipamento consegue analisar um raio de 4km, ou seja, com cinco sensores é possível analisar toda a extensão de Matarandiba.

Outro investimento feito para as investigações foi nas imagens via satélite, que também monitoram a região dia e noite. Essa tecnologia permite monitorar e recuperar todo o histórico de movimentação do solo em todo o território da ilhota - e com precisão milimétrica.

Relembre o caso Há cerca de seis meses o povoado Matarandiba, no município de Vera Cruz, na llha de Itaparica, convive com um mistério tem despertado a atenção dos moradores. No meio de uma área de mata fechada, uma cratera de mais de 40 metros de profundidade. O buraco surgiu “do nada” e deixou os moradores intrigados.

O buraco fica em um terreno em que a indústria Dow Química tem o direito de explorar água de salmoura, com altíssima concentração de sal.

A empresa identificou a alteração no dia 30 de maio e fez uma proteção com fita plástica e cartazes para tentar evitar que os moradores se aproximem. Um segurança também fica no local explicando à população do risco de queda.

O problema é que a cratera, que fica a cerca de um quilômetro do povoado, tem se tornado um ponto de visitação dos moradores. Famílias se arriscam e vão até o buraco para ver o fenômeno, como se estivessem num passeio qualquer de fim de semana.

O povoado é habitado em sua maioria por marisqueiros, pescadores e caçadores - a maioria, gente de pouca condição financeira e pouca instrução formal.

Hipóteses Se é um fenômeno natural ou ação do homem ainda é muito cedo para dizer, de acordo com Marco Antônio Botelho, geográfo e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), é preciso um estudo da cratera e da área em que ela está inserida.

Mas a única coisa que pode se afirmar, no momento, é que se trata de uma sinkhole (em tradução livre, 'buraco que afunda'), algo como um estresse no solo que surge quando há uma falha no terreno – nesse caso, de origem ainda desconhecida.

Mas o geográfo possui duas hipóteses para o sedimento da terra. A primeira é que ali já existia um fluxo de água subterrâneo, lençóis freáticos que ao longo dos anos foi capaz de levar todos os sedimentos existentes.

"O fluxo dos lençóis freáticos facilita a passagem de fluídos, então, isso, ao longo dos anos, décadas, pode ter sido capaz de escavar uma caverna na rocha arenítica", explicou Botelho em entrevista ao CORREIO.

A outra hipótese é que ali já existia uma falha natural, que pode ter sido acentuada devido à exploração da Dow no espaço. Mas Botelho lembra que as perfurações são subterrâneas e acontecem a mais de 1 km da superfície. Nunca, segundo ele, uma fenda como essa surgiu na superfície devido à utilização do solo por empresas.

"Essa falha pode ter facilitado a percolação de água nessa escavação e ter sedido alguma coisa. Historicamente, nunca aconteceu algo de colapso que veio a refletir na superfície", assegura o geográfo da Ufba.

*Com supervisão da editora Mariana Rios.