Mostra Amotara, online, reúne filmes de mulheres indígenas

Mais de 30 longas e curtas são exibidos até o fim de março

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  • Roberto Midlej

Publicado em 2 de março de 2021 às 12:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos divulgação

Os indígenas sempre apareceram no cinema retratados de forma caricata e às vezes até folclórica, sob o olhar dos não indígenas. Mas aos poucos, com o acesso à tecnologia facilitado, esse povo começou a botar as mãos na câmera e criar seus próprios filmes, para lançar seu próprio olhar sobre o mundo. E para lançar também um novo olhar sobre ele mesmo. Kunhangue – Universo de um Novo Mundo   é um retratos das guaranis paulistas  E, embora a produção indígena praticamente não chegue ao circuito comercial, há hoje um número  expressivo de realizadores em diversas aldeias. E, sim, há também mulheres indígenas atrás das câmeras, dirigindo ou escrevendo as histórias. E a partir desta terça-feira (2), as criações dessas mulheres poderão ser acompanhadas na segunda edição da Mostra Amotara - Olhares das Mulheres Indígenas, no site www.amotara.org.

Potencial A pesquisadora baiana Joana Brandão, 37 anos, desenvolve um doutorado em cinema indígena e é uma das coordenadoras da mostra. Joana é professora da UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia) e diz que, enquanto realizava sua pesquisa, notou que havia pouco espaço para o cinema indígena no Brasil. “Percebia também que  havia um protagonismo masculino dentro dele. Mas quando participei de uma roda de conversas sobre cinema indígena feminino, notei que havia um potencial muito grande entre as mulheres”, afirma Joana. Mãe Cajarana, da cearense Bábara Leite Matias, do povo Kariri  Nesta segunda edição, Joana divide a coordenação com Olinda Yawar, 31, produtora cultural e indígena do povo Tupinambá e Pataxó Hã Hã Hãe. Olinda é formada em jornalismo numa faculdade particular de Salvador e hoje vive entre a sua aldeia e a cidade vizinha de Pau Brasil, a 553 km de Salvador. Ela também é diretora e já realizou quatro filmes, sendo duas ficções e dois documentários.

Olinda ressalta a importância da Amotara: “É um espaço que visa amplificar e mostrar os diferentes olhares das mulheres indígenas e os temas propostos por elas. É através do cinema que as diretoras indígenas têm contado suas próprias narrativas, demarcado seus espaços, denunciando violências vivenciadas pelas suas comunidades”.

Diversidade Os mais de 30 filmes na mostra, entre curtas e longas, são marcados pela diversidade de temas e também pela diversidade regional, já que há produções de dez estados brasileiros, incluindo a Bahia. O público terá a oportunidade também de conhecer diversas línguas indígenas, como guarani, maxakali, kaiabi e kaxinawá. Os filmes são legendados em português. Para estar na mostra, o filme precisava ter uma indígena na direção, roteiro ou fotografia. Olinda Yawar, 31, é uma das coordenadoras da mostra Segundo Joana, os curtas e longas variam nas temáticas e também na estética: “Alguns tratam de conflitos, enquanto outros falam dos saberes indígenas, das anciãs, das parteiras, rezadeiras.... Tem um belo filme boliviano, Thakhi, que registra a volta de uma menina para a terra dela”. Mas há também roteiros que mostram o olhar das realizadoras sobre sociedades não indígenas.

Olinda tem três filmes na mostra: Equilíbrio; Kaapora, O Chamado das Matas e Mulheres que Alimentam. A cineasta diz que na aldeia dela não há outras diretoras e afirma que uma das razões dessa escassez de realizadores indígenas é que seu povo não tem acesso à formação em cinema. “Aqui na Bahia, a produção cinematográfica indígena é muito incipiente. Em outros estados, mesmo em aldeias isoladas, há acesso à formação”, diz Olinda.  

Terça-feira (2) a 31 de março, no site amotara.org. Grátis