Motorista que atropelou e matou ciclista estava com habilitação vencida

Ele foi autuado por homicídio culposo e omissão de socorro

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  • Bruno Wendel

Publicado em 25 de julho de 2018 às 11:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

O pedreiro Ademir de Jesus Anunciação, 55 anos, estava com a carteira de habilitação vencida quando dirigia o carro que colidiu e matou o ciclista João Evangelista Alves dos Santos, 67, na Avenida Luís Eduardo Magalhães. A situação foi descoberta no interrogatório dele na 11° Delegacia (Tancredo Neves), nesta manhã (25).

Ele foi autuado por conduzir veículo com habilitação vencida, além de homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e omissão de socorro por ter fugido sem dar socorro à vítima. 

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Ademir chegou à delegacia por volta das 9h e prestou depoimento por quase uma hora e meia. Ele chegou em um mototáxi e entrou pelos fundos da delegacia para evitar falar com os jornalistas que o aguardavam. 

Segundo o delegado plantonista, Israel Aristides, Ademir afirmou que conduzia o carro do sogro e seguia para trabalhar quando foi surpreendido pelo ciclista atravessando a pista."Ele disse que tentou desviar para um lado, mas o ciclista desviou também para o mesmo lado", contou o delegado.No interrogatório, Ademir confirmou que fugiu do local do acidente. "Ele contou que temia ser linchado, mas que depois comunicou o acidente ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)", disse o delegado. 

O delegado disse ainda que não foi necessária a prisão em flagrante porque Ademir se apresentou no dia (hoje) combinado com o advogado. O motorista foi submetido ao exame de alcoolemia. "Não teve sinais de embriaguez", pontuou o delegado, que não informou os dados do veículo (cor, modelo e ano) conduzido por Ademir.

Velocidade A velocidade do veículo será apontada pela perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT).  A via onde ocorreu o acidente tem velocidade máxima de 40 km/h. O laudo deve ficar pronto em até 30 dias. 

Por volta das 10h30, Ademir deixou a delegacia. Ele estava no banco do carona de um Fiat Elba com o rosto coberto. O veículo saiu em alta velocidade da garagem dos fundos da delegacia e por pouco não atropela o repórter da TV Record Itapoan, Henrique Terra, que chegou a cair no chão para desviar do carro. 

"Não foi essa a orientação que o delegado deu - para sair dessa forma. Ele (Ademir) queria só preservar a imagem", disse o advogado do motorista, César Ruseval Teixeira Rocha fazendo referência sobre a orientação do delegado de o cliente dele sair pelos fundos.

Perguntado se um parente de Ademir era quem dirigia a Elba, o advogado disse que não. "Era um motorista do aplicativo Uber", respondeu ele, sem se dar conta de que o modelo Elba não é mais fabricado e que uma das exigências para ser motorista de aplicativo é que o veículos tenha no máximo cinco anos de uso.

Sobre o fato de Ademir ter sido autuado pelo fato de dirigir com a carteira de habilitação vencida, o advogado informou que ele estava em processo de renovação da habilitação.

Velocidade O ciclista foi atingido próximo a uma placa de trânsito onde consta que a velocidade no local é 40 km/h. Questinado sobre o fato, o advogado respondeu: "Não procede. O acidente foi depois da placa e ele não estava em alta velocidade", destacou.

O advogado não soube informar a velocidade do carro conduzido por Ademir. A defesa de Ademir tentará provar que o acidente não foi causado pelo motorista. "Houve concorrência do ciclista para produzir o evento colisão. O ciclista atravessou em local não apropriado. Ali não tem uma ciclovia", finalizou César.

O corpo de João Evangelista, que também era pedreiro, permanece nesta quarta-feira (25) no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. Não há informações sobre o enterro.

João Evangelista deixou sete filhas com mulheres diferentes. Uma das ex-esposa, Joana Nascimento Oliveira, 66, estava no IML, junto com as três filhas que teve com a João Evangelistas – uma de 44 anos, outra de 46 e a última de 37. 

“Soubemos da morte através dos noticiários. Estava em casa, em Sete de Abril, quando tive a notícia. Não estávamos juntos a mais de 10 anos. Tentei liberar o corpo, mas o pessoal do IML disse que só quem pode é a atual mulher dele”, declarou Joana.

João não fazia mais nada a pé ou de ônibus, preferia estar ao lado da sua bicicleta. Ele, que usava capacete e estava com a bicicleta toda sinalizada, morreu atropelado na manhã de terça-feira (24), por volta das 7h, nas imediações do viatudo de acesso à Avenida Paralela. Ele voltava de São João do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário, com sua caixa de ferramentas para começar um novo serviço.

A Transalvador registrou, de 2013 até maio deste ano, 654 acidentes envolvendo ciclistas na cidade - 16 morreram.  Especialista explica possíveis rumos da investigação Para o advogado criminalista e professor da Faculdade de Direito da Ufba, Cesar Faria, Ademir pode ser indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar) após o decorrer das investigações. A pena neste caso pode chegar até 20 anos de reclusão. “É preciso verificar se ele estava com excesso de velocidade e, além disso, averiguar se o motorista foi responsável criminalmente”, explica.

A pena de homicídio culposo (sem intenção de matar) no Código de Trânsito Brasileiro é de 2 a 6 anos, além da suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No caso de Ademir, a pena pode aumentar mais dois anos porque ele não prestou socorro à vítima. “Outro agravante é o fato dele não possuir permissão para dirigir, já que a CNH estava vencida”, detalha César. 

Ainda conforme o professor, dirigir com a CNH vencida é uma infração administrativa gravíssima. A multa custa R$ 293, 47. “Ele vai ser multado, mas isso não tem nenhuma relação com o inquérito criminal. A infração não presume culpa penal”, diz. O CORREIO procurou o Detran-BA para apurar possíveis infrações cometidas anteriormente por Ademir, mas o órgão não respondeu até o fechamento da reportagem. Protesto  No próximo sábado (28), um grupo de ciclistas vai realizar um protesto para pedir mais segurança no trânsito para os ciclistas. Eles irão instalar uma bicicleta branca no local do acidente. O ato é chamado de Ghost Bikes e é feito mundialmente em locais de acidentes fatais com ciclistas.

Confira quais são os direitos e deveres de motoristas e ciclistas no trânsito

1 Os motoristas devem manter distância de 1,5 m das bicicletas 2 Os ciclistas devem trafegar em vias seguras e sinalizadas, com infraestrutura adequada, além de dispor de equipamentos de segurança acessíveis, com preços baixos e qualidade 3 Na ausência de ciclovias e ciclofaixas, andar próximo ao meio-fio  4 Seguir o fluxo do trânsito e sinalizar com as mãos em caso de manobra 5 Não avançar sinais e usar adesivos reflexivos e espelho 6 Respeitar o pedestre e não circular por calçadas

Fonte: Transalvador

*Colaborou Milena Teixeira