MP denuncia ex-presidente do Internacional e mais 13 pessoas

Grupo é acusado de crimes como organização criminosa, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro

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  • Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2019 às 14:11

. Crédito: Foto: Internacional/Divulgação

Depois de um longo período de investigações que apuraram irregularidades cometidas entre fevereiro de 2015 e dezembro de 2016, o Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul anunciou, na manhã desta quarta-feira (6), em entrevista coletiva, duas denúncias contra o ex-presidente do Internacional Vitório Piffero. Ele e outras 13 pessoas são acusadas de crimes como organização criminosa, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro durante a gestão 2015/2016 do clube.

Assinadas pelo promotor de Justiça Flávio Duarte, as duas denúncias foram encaminhadas à 17ª Vara Criminal da capital gaúcha e são fruto da denominada Operação Rebote. A primeira delas se refere ao núcleo de finanças e patrimônio do Inter e a segunda ao núcleo futebol do time colorado, sendo que as investigações apontam desvios superiores a R$ 13 milhões, informou o MP.

Em entrevista coletiva com representantes do MP do Rio Grande do Sul nesta quarta-feira, na sede do órgão, em Porto Alegre, Fabiano Dallazen, procurador-geral de Justiça, destacou que "pela relevância dos fatos, do clube, e mesmo pelo ineditismo dessa investigação, tendo em vista que talvez seja um dos primeiros casos de uma investigação mais profunda dentro de um clube de futebol no Brasil, nós designamos a Promotoria Especializada e o nosso Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) para que procedessem a essa investigação, buscando, desta forma, fazer o resgate e a apuração de todos os fatos, para que não restassem dúvidas e fosse possível o esclarecimento completo daquilo que nos foi trazido".

A denúncia relacionada ao núcleo de finanças e patrimônio do Inter aponta a prática dos crimes de organização criminosa, estelionato, lavagem de dinheiro e falsidade documental relacionados a obras não realizadas.

As investigações concluíram que, no período entre fevereiro de 2015 e dezembro de 2016, em nada menos do que 200 oportunidades, os denunciados Vitorio Carlos Costi Piffero, Pedro Antonio Affatato, Emídio Marques Ferreira, Carlos Eduardo Marques (todos então dirigentes do Internacional), além de Ricardo Bohrer Simões e Adão Silmar de Fraga Feijó (empresários da construção civil e contabilidade), obtiveram para si a quantia de R$ 12,8 milhões, em prejuízo do Inter, após induzirem em erro funcionários da administração do clube e atestarem obras que não ocorreram.

"Para tanto, utilizaram artifícios administrativos e contábeis, entre eles a apresentação de notas fiscais e documentos fraudulentos", revelou o MP do Rio Grande do Sul.

Saques totalizaram R$ 9,6 milhões "As fraudes ocorreram em dois momentos. Entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016, o vice de finanças, Pedro Antonio Affatato, autorizado pelo presidente Vitorio Piffero e em concordância com os demais denunciados, fez 145 saques diretamente da tesouraria do clube, de forma direta e pessoal, no valor total de R$ 9,6 milhões. A alegação era de que os valores seriam utilizados para o pagamento de obras e prestações de serviços da alçada da vice-presidência de patrimônio, administrada por Emídio Marques Ferreira", sublinhou o MP.

As investigações também apontaram "para induzir em erros os funcionários da tesouraria (do Inter), além de simular a existência de serviços relacionados à construção civil que, na realidade, não foram prestados, Affatato e os demais denunciados inseriram informações e dados falsos nas notas fiscais emitidas pela Keoma Construção Incorporação e Planejamento Ltda., Pier Serviços Eireli, Estela Regina Rocha da Silva e Rejane Rosa de Bittencourt Eireli, das quais eram proprietários por figurarem como administradores de fato ou como responsáveis pela respectiva contabilidade, descrevendo serviços relacionados à construção civil que, na realidade, não ocorreram e que essas empresas sequer tinham condições de prestar".

De acordo com o MP, estes trabalhos fictícios foram avalizados como realizados pelos denunciados Emídio Marques Ferreira e Carlos Eduardo Marques, então vinculados à vice-presidência de patrimônio do clube. "As notas fraudadas foram apresentadas por Affatato na prestação de contas para a tesouraria do clube que, induzida ao erro, validou os valores sacados", indicou o órgão.

"Em um segundo momento, entre fevereiro e dezembro de 2016, para evitar suspeitas, Vitorio Piffero determinou que os pagamentos e saques destinados aos supostos serviços de construção civil não ocorressem mais sob a forma de adiantamentos, mas somente mediante a apresentação das respectivas notas fiscais e no valor exato delas. Então, em outras 55 oportunidades, Affatato determinou o pagamento pela tesouraria do montante de aproximadamente R$ 550 mil, com a apresentação das respectivas notas fiscais, além de outros R$ 2,6 milhões, repassados pelo Internacional para as empresas. Novamente, foram fraudadas as notas emitidas pela Keoma Construção Incorporação e Planejamento Ltda., Pier Serviços Eireli, Egel Empresa Gaúcha de Estradas - Ltda., Estela Regina Rocha da Silva, Rejane Rosa de Bittencourt Eireli, Feijó e Giraudo Ltda. (Conserte Certo), Incorporadora Parthenon Eireli e Engenan Empreendimentos Ltda", revelou o MP.

Lavagem de dinheiro Já ao esclarecer a acusação de lavagem de dinheiro supostamente cometida pelos denunciados, o MP indicou que as investigações apontaram que "Pedro Affatato ocultou, pelo menos, R$ 3,3 milhões, ao realizar depósitos para a Sinalizadora Rodoviária Ltda - Sinarodo, da qual era sócio-administrador, juntamente com os denunciados Paola Affatato Leitão dos Santos e Arturo Affatato (seus irmãos)".

"Os depósitos ingressaram como 'entradas' provenientes da empresa Rodoseg Segurança e Engenharia Rodoviária Ltda. ou como empréstimos. Pedro Affatato, Pedro Antonio Affatato, Ricardo Bohrer Simões e Adão Silmar de Fraga Feijó também lavaram outros R$ 2,4 milhões, desta vez com esquema diferente. Primeiro, os valores foram destinados às contas das empresas Pier Serviços Eireli, Egel Empresa Gaúcha de Estradas - Ltda., Feijó e Giraudo Ltda. (Conserte Certo), Incorporadora Parthenon Eireli e Engenan Empreendimentos Ltda. Em seguida, foram realizados pelo menos 49 saques dessas contas e, posteriormente, Ricardo Bohrer Simões entregou parte dos valores sacados em espécie para Pedro Antonio Affatato, em locais combinados de maneira prévia", destacou o MP

As apurações deste tipo de crime apontaram também, segundo revelou o Ministério Público, "que Emídio Marques Ferreira desviou R$ 53,4 mil para sua conta pessoal, bem como para a de sua empresa, a Pavitec do Brasil Pavimentadora Técnica Ltda, a partir de direcionamentos de pagamentos realizados para as empresas Egel Empresa Gaúcha de Estradas Eireli e Engenan Empreendimentos Ltda., administradas pelos denunciados Ricardo Bohrer Simões e Adão Silmar de Fraga Feijó".

"Também foi efetivada uma triangulação de operações bancárias com a empresa Pier Serviços Eireli, com a participação de Simões e Feijó", reforçou o órgão.

Núcleo futebol Já a segunda denúncia, apresentada contra acusados de crimes de corrupção que teriam sido cometidos por ex-integrantes do núcleo futebol do Internacional e por pessoas ligadas a este departamento, foi direcionada ao ex-vice-presidente de futebol Carlos Capparelli Pellegrini, ao técnico Paulo Cezar Magalhães e aos empresários Rogério Luiz Braun, Giuliano Pacheco Bertolucci, Fernando Luis Otto e Carlos Alberto de Oliveira Fedato.

"Pellegrini obteve mais de R$ 230 mil como comissões para efetivar a contratação dos jogadores Paulo Magalhães (sobrinho do técnico denunciado), Cláudio Winck, Alisson Becker (ex-goleiro do Inter e hoje titular do Liverpool e da seleção brasileira), Ariel Gerardo Nahuelpan Osten e Réver. A lavagem do dinheiro obtido ilegalmente também passou por triangulações financeiras semelhantes às praticadas pelo outro núcleo. Todos foram denunciados por estelionato, e Carlos Capparelli Pellegrini, Paulo Cezar Magalhães, Giuliano Pacheco Bertolucci e Carlos Alberto de Oliveira Fedato também devem responder por lavagem de dinheiro", revelou o MP.