MPT fará reunião com pais de menino que sofreu preconceito em shopping

Objetivo é entender porque ele estava trabalhando e buscar solução

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2018 às 16:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu inquérito para investigar as condições que levaram o menino envolvido em uma confusão com segurança de shopping a trabalhar como vendedor de balas e doces. Os pais do garoto de 12 anos serão ouvidos para explicar a situação e, segundo o MPT, o objetivo é encontrar soluções para que a criança possa se dedicar exclusivamente a estudar e brincar. O Shopping da Bahia também será ouvido. A rede de proteção da infância e da juventude será acionada.

"Queremos usar esse fato para pensar um projeto de política pública para enfrentar situações como esta", diz a procuradora regional do MPT, Virginia Senna, que está responsável pelo caso. Para a procuradora, o garoto estava exposto por trabalhar vendendo doces na rua. "Esse caso veio a público no Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil e revela uma faceta cruel desse problema, que é a exposição de crianças e jovens a situações de risco quando são empurradas para o trabalho. Se ele estivesse na escola ou brincando em casa, não teria passado por esse constrangimento", acredita. (Foto: Reprodução) A audiência acontecerá nos próximos dias na sede do MPT com os pais e a administração do shopping. Outros órgãos públicos serão acionados para que possam adotar medidas de apoio ao menino, como inclusão em programas de renda mínima, matrícula em escola integral, qualificação profissional dos pais e encaminhamento para vagas de emprego formais. O shopping será chamado para prestar esclarecimentos e colaborar com a família no afastamento do garoto do trabalho.

Venda sustenta família A mãe do menino de 12 anos, que foi barrado na praça de alimentação do Shopping da Bahia, sustenta a família com o dinheiro da venda de balas e salgadinhos nos ônibus de Salvador.  A vendedora Eliene de Oliveira Santos, 57 anos, além de sustentar os três filhos e os dois netos, ajuda financeiramente os pais, que moram no município de Terra Nova, a cerca de 80 km de Salvador.  Os dois filhos mais novos ajudam a mãe vendendo balas nas ruas e em shoppings da capital. Na última segunda-feira (11), um segurança do Shopping da Bahia tentou impedir que o empresário Kaique Sofredine pagasse almoço para a criança.  “Me senti arrasada. Já aconteceu outras vezes, mas nunca foi filmado”, conta a vendedora ao CORREIO. O caso ficou famoso porque toda a ação foi filmada por um cliente do shopping e compartilhada nas redes sociais. O vídeo original foi assistido por mais de 9 milhões de pessoas. 

Eliene mora com a família em uma casa no bairro de Pernambués. O menino de 12 anos é o filho mais novo e tem duas irmãs e dois sobrinhos recém-nascidos. A irmã mais velha tem 17 anos e um filho de 4 meses, e a outra tem 14 anos e um filho de 5 meses. Os cinco dividem o mesmo quarto. O outro quarto da casa é o de Eliene.

Na última terça (12), o menino foi acolhido pelo time do Vitória para participar do programa de ações sociais do clube, batizado de Vitória Cidadania. “Eu gostei, né? Pelo menos não fica na rua”. Eliane conta que o shopping não entrou em contato com a família.  Por meio da assessoria, o shopping afirmou que não tinha nada a acrescentar sobre o caso além da nota emitida na última terça, quando anunciou o afastamento do segurança.

“Além disso, ele foi advertido e segue para uma nova rodada de cursos e capacitações”, diz a nota. O texto ressalta que os seguranças do estabelecimento passam periodicamente por treinamentos técnicos. 

Escondido Em conversa com o CORREIO, a irmã de 14 anos do menino abordado no shopping afirmou que sempre entra nos shoppings para tentar vender balas e revistas de caça-palavras escondido. A jovem conta que conhece o segurança que tentou tirar seu irmão do shopping:"Aquele segurança [do vídeo] a gente até conhece. Ele é uma pessoa boa, sempre pedia pra gente sair, dizia que a central tava mandando, e a gente saía. Não sei por que dessa vez ele fez daquele jeito com meu irmão”, conta.Repercussão A OAB afirmou que vai oficiar o Shopping da Bahia em decorrência da atitude do funcionário. “A gente vai mandar um ofício para o shopping, para que eles esclareçam oficialmente o que aconteceu e o que vão fazer para reparar o ocorrido – se vão fazer medidas reparatórias garantindo o acesso de jovens negros da periferia, por exemplo, a atividades de lazer; se vai haver política de inclusão de funcionários”, diz o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-BA, Jerônimo Mesquita. O ofício deve ser encaminhado até essa sexta-feira (15), mas não há prazo para que o shopping responda. Se não houver nenhum tipo de diálogo, a OAB-BA vai avaliar internamente que medidas serão adotadas em seguida – inclusive, com a possibilidade de acionar o Ministério Público Estadual (MP-BA).