Muito violento e com história inusitada, Bacurau é thriller e western

Filme que venceu o Prêmio do Júri em Cannes é uma distopia passada no sertão

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  • Roberto Midlej

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Victor Jucá / Divulgação

Até o final do ano, o leitor deste texto poderá  dizer que viu um filme melhor que Bacurau, afinal isso é uma questão de gosto. Mas dificilmente verá algo mais surpreendente ou impactante que a produção brasileira que brilhou no Festival de Cannes - onde ganhou o Prêmio do Júri -, com direção de Kleber Mendonça Filho (Aquarius) e Juliano Dornelles. Com sua história absolutamente inusitada e seu o primor técnico, Bacurau brilha do início ao fim.

Vamos à trama e nos perdoe se, por um deslize, revelarmos algum spoiler - mas pode ficar tranquilo, afinal um grande filme, como Bacurau, não depende de grandes reviravoltas na história, já que a dupla que o dirige tem méritos de sobra. Então, uma ou outra revelação da trama não irá diminuir em nada o prazer do leitor em assistir ao filme. O alemão Udo Krier, que já foi dirigido por Tarantino Passado no sertão do Brasil, Bacurau conta a história de um pequeno povoado fictício homônimo ao título do filme. A vidinha pacata e provinciana dos “bacurenses” é interrompida quando uma série de assassinatos bárbaros e inexplicáveis começa a acontecer por lá. E aí está a primeira surpresa: o longa, que começa como um drama social e político - denunciando a pobreza do sertão e os políticos populistas - ganha ares de western, thriller e até de ficção científica distópica.

Direção A essa altura, você já vai estar se perguntando, surpreso: “Este Kleber Mendonça Filho é o mesmo diretor de Aquarius?”. Sim, creia, embora os filmes tenham ritmo e forma absolutamente distintos um do outro, Kleber e Juliano dominam incrivelmente bem a narrativa. Bacurau é tão bom quanto Aquarius, embora seja completamente diferente.

Há, claro, uma importante semelhança entre os dois: a presença de Sônia Braga, brilhante em ambos. Aqui, ela interpreta Domingas, a médica que faz as vezes de assistente social e psicóloga do povo. No elenco, também estão Karine Telles (a dona da casa em Que Horas Ela Volta), o alemão Udo Kier, que já trabalhou com cineastas como Wim Wenders e Tarantino, e a baiana Luciana Souza (Café com Canela). A baiana Luciana Souza O público já se acostumou a ver filmes distópicos (caracterizados por um ambiente hostil, em que as pessoas vivem sob condição de extrema opressão), porém, quase todos são ambientados no futuro, o que causa um certo distanciamento para o espectador: Blade Runner (1982); Brazil - o Filme (1985); THX 1138 (1971); O Exterminador do Futuro (1984) e por aí vai.

E vem daí o impacto de Bacurau: a história se passa num futuro bem próximo, como o espectador notará. No início, um letreiro anuncia, sem precisão: “Daqui a alguns anos”. “O espectador vai procurar detalhes que mostram ou sugerem aspectos futuristas e acho muito eficaz começar o filme com aquelas quatro palavras. A ideia do sertão realista sempre fez parte do filme. Sempre pensamos nele se passando daqui a uns dez anos”, diz Kleber. E esse realismo dá ao filme um toque de horror, já que toda a violência parece tão próxima da nossa realidade.

Uso de armas

É impossível não associar Bacurau a uma questão que tem sido muito discutida atualmente: a posse e o porte de armas de fogo. “A ideia do filme veio daí, desse apego, esse amor, essa tara que as pessoas têm por armas. O filme veio muito da cultura que a gente observa dos EUA e à qual o Brasil tem se alinhado a partir deste momento político”, explica Kleber.

Julio Dornelles, no entanto, diz que o filme não é um recado direto para os Estados Unidos, embora, em alguns momentos, a história possa insinuar isso: “Bacurau fala da reação à opressão e os EUA interferem muito e até invadem outros países. Mas isso está na história da humanidade, nas grandes navegações, nas colonizações, no Império Romano... Essas histórias se repetem, então o filme não é endereçado especificamente aos americanos, mas é uma crítica à condição humana de se colocar maior que o outro”.

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