Mulher com a Palavra: Daniela Mercury e Tia Má falam sobre opressões

Personalidades baianas falaram sobre direitos humanos, liberdade e as diversas formas de feminismo

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 22 de outubro de 2018 às 23:05

- Atualizado há um ano

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A noite segunda-feira (22) foi marcada pelo encontro de três baianas, filhas de Oxum, no Teatro Castro Alves (TCA): a jornalista Rita Batista recebeu a também jornalista e influencer Maíra Azevedo, a Tia Má, e a cantora Daniela Mercury para falar sobre direitos humanos, liberdade e as diversas formas de feminismo no projeto Mulher com a Palavra, que chega a sua terceira edição em 2018.

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Assim como a deusa do amor do candomblé, essas personalidades utilizam de suas vozes para espalhar o amor e combater o ódio, assim como todas as formas de violência e repressão.“Esses assuntos dizem respeito à nossa existência. Por isso, trouxemos mulheres que estão sendo diariamente símbolo de resistência.  A gente precisa focar na diversidade e no diálogo”, ressaltou Rita, ao anunciar as suas convidadas.O evento, que teve forte tom político, também abordou racismo e negritude. “A luta das mulheres deve ser no plural [...] Devem ser consideradas as especificidades de cada uma de nós. Enquanto mulher negra, passo por coisas que uma mulher branca não tem noção”, explicou ela, ressaltando que isso não impede de uma pessoa branca, por exemplo, defender causas que não são especificamente suas: “É importante falar de lugar de fala, mas é um grande equívoco excluir os outros quando se trata de discutir as diversas formas de opressão”.

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Opressão essa já calou a jornalista, mas hoje luta contra. Marcos dessa resistência são o fato dela ter sido a primeira mulher preta a ter um stand up e também de ocupar um espaço nobre no Encontro com Fátima Bernardes, da Globo. “Eu sou fruto de uma construção coletiva. Aprendi desde cedo que a gente não tem espaço à toa. A partir do momento que você está ali, naquele lugar, tem como missão devolver a quem te colocou ali. Eu não posso me calar, não posso me diminuir porque sou a voz de milhares mulheres que foram silenciadas antes de mim”, afirmou Maíra, citando o fato dela ser mulher, negra e gorda: “Eu tenho a cara de minoria política que, na verdade, é a maioria”.

Daniela também falou sobre a opressão que sofre por expor seu relacionamento com a esposa, a jornalista Malu Verçosa. “A pessoa que namora com a pessoa do mesmo gênero sofre muito preconceito de forma errônea. É como se amar outra pessoa fosse proibido. Freud já disse que temos uma sexualidade múltipla e caótica e até hoje lidam com isso de forma gigantesca. Não admito opressão. A minha maior resposta é continuar sendo a artista que eu sou, porque a arte é a minha ferramenta de luta”, falou a cantora.

Em sua fala, Daniela falou ainda que a sociedade ainda precisa melhorar - e muito - a forma que lida com as mulheres. "Pisam tanto na gente, nos colocam em um lugar tão oprimido, que, às vezes, a gente acaba acreditando nisso. É muito dificil vencer a opressão que o machismo e patriarcalismo colocam. A gente tem que se questionar pra ir se libertando. E entender que a gente se fazer como é", opinou.

Questionada sobre seu recente posicionamento político, ela contou que desde pequena exercita sua criticidade. “Minha mãe foi reitora acadêmica e minha irmã é socióloga. Sempre torci em silêncio porque acho que o voto é individual. Respeito quem acredita nisso, mas, nos tempos em que o machismo e sociedade patriarcal ainda são dominantes, tem mais coisa em jogo”, defendeu.

A cantora também falou sobre as redes sociais e disse que são ferramentas que conectam as pessoas, “mesmo que alguns ainda se mascarem quando estão na web”. “Quando não tinha internet, só queria ouvir a opinião das pessoas. Agora eu sei com mais facilidade. Com as redes socias, todo mundo fala o que quer. Nem sempre é o que eu gostaria de ouvir, mas acho genial nesse sentido, apesar de alguns assuntos as pessoas se atreverem a debater sem nem saber direito”.

Público Juntamente com a cantora Lei Di Dai, que chegou ao palco depois, as baianas foram ovacionadas pelo público, majoritariamente formado por mulheres, que se sentiram muito bem representadas. "Vim por conta do momento que estamos vivendo. Precisamos do feminismo e, cada vez mais, dar força às mulheres", contou a auxiliar de Recursos Humanos Renata de Jesus, 33 anos, que levou um amigo para apreciar suas ídolas: "Enquanto Tia Má me inspira muito nessa coisa do empoderamento, do amor próprio e de se bastar, Daniela é também um símbolo de força, num mundo tão machista".

A engenheira civil Rosi Andrade, 32, também levou uma amiga ao TCA para apreciar suas "musas inspiradoras", como ela mesma definiu. "Amo as duas. Elas têm colocações pertinentes e são pessoas maravilhosas. Servem de incentivo para nós, mulheres, não nos calarmos. O que foi discutido aqui hoje precisa ser falado todos os dias e incorporado pela nossa sociedade. É preciso entender que feminismo é uma luta das mulheres para ter uma equiparação na sociedade. Não é porque sou mulher que preciso receber menos ou ser menos valorizada", afirmou. 

A secretária de Políticas para as Mulheres da Bahia Julieta Palmeira disse que o evento, que terá mais uma edição neste anos, é sinônimo de resistência para as mulheres. "Não queremos viver uma situação de ódio. Não queremos viver numa sociedade que diz que mulher negra não serve pra casar. Não queremos viver numa sociedade que considera que uma mulher deve ganhar menos que o homem na mesma função só pare. Queremos uma sociedade de paz e de justiça. Queremos que a gente tenha uma sociedade de amor. E é isso que a gente está fazendo aqui", resumiu. 

Não foi ao evento? Assista completo abaixo.