Mulheres contam sobre como fica o convívio social depois dos filhos

Ir para a rua com os pequenos ou ficar em casa? Crianças e adultos precisam se adaptar juntos

Publicado em 11 de fevereiro de 2019 às 11:45

- Atualizado há 9 meses

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Uma mulher chega com uma criança pequena em uma loja de maquiagens caríssima. No mesmo instante, todos os olhares se voltam para mãe e filha. “Por que trazer uma criança para uma loja dessas? Esse não é um lugar para ela”. É o que alguns pensam e que outros chegam a dizer às duas. Há quem defenda que se trata apenas de um cuidado para segurança das duas: e se a criança quebra um dos produtos?  Para as mães, que vêem seu convívio social totalmente transformado depois do nascimento dos filhos, a preocupação, na verdade, esconde uma série de preconceitos. “O que eu percebo é que muitas vezes essa postura vem disfarçada de cuidado, só que na verdade o que a gente vê é muito adulto mais incoviniente que as crianças“, diz a comunicadora Alana Câmara, mãe de Malu, de 2 anos. Alana e Malu passeiam na Pinacoteca de São Paulo. Desde o nascimento da filha, a rotina de Alana mudou muito, mas ela nunca deixou de ir a um lugar por conta da menina. "Vou a restaurantes ditos chiques e a museus, lugares que requerem certa postura, porque a criança só aprende pelo exemplo" (Foto: Acervo Pessoal) Com a chegada dos filhos, a vida de homens e de mulheres (especialmente a delas) muda radicalmente. Um dos âmbitos afetados com a chegada das crianças é justamente a vida social. Com os pequenos, fica mais difícil ir a restaurantes e teatros, fazer uma viagem de avião ou mesmo ir a festas. Desde o nascimento de Maya, há quatro anos, a fotógrafa Gabriela Brito tem saído “muito menos” de casa. Para ela, algo natural, mas nem tanto assim. “É inegável que a chegada da criança nos modifique, modifique a nossa forma de entender e vivenciar o mundo. É um processo de descoberta e é natural que nos primeiros anos nos ausentemos de  espaços utilizados anteriormente. Mas não é natural quando isso se torna uma  imposição”, pondera. "É  natural que nos primeiros anos nos ausentemos, mas não é natural quando isso se torna uma imposição", diz a fotógrafa Gabriela Brito. Mãe de Maya, 4, ela criou o bloco carnavalesco A Culpa É da Mãe, cuja proposta é provocar sobre os lugares (sociais e físicos) destinados a mães e filhos (Foto: Acervo Pessoal) Pensando nisso, há três anos, ela decidiu criar o bloco A Culpa É da Mãe, que desfila nas ruas do Centro Histórico durante o Carnaval de Salvador. O nome da iniciativa é provocadora. Afinal, culpa pelo quê? “Dizem que quando nasce uma mãe, nasce uma culpa. A responsabilidade e a expectativa por essa criança sempre recai sobre a mulher que precisa estar atenta às diversas formas de violência. Não existe a fórmula perfeita para educar e atender a essa enorme expectativa, além de impossível, é injusto e sem sentido”, defende Brito.Onde quiser Para a psicóloga Elisa Maria de Araújo, a primeira coisa é tentar não criar regras quando o assunto é família. “Toda família se configura de um modo. O aprendizado de qualquer criança requer que ela seja inserida no mundo adulto, mas isso vai acontecer aos poucos, requer uma adaptação tanto dos pais, quanto dos filhos”, diz, ao ressaltar que por uma série de motivos, pais e mães têm tido dificuldade de passar por essa adaptação. “Os adultos, tenham filhos ou não, não podem imaginar que uma criança vá se comportar como um robô nos ambientes”, frisa, ao lembrar que as crianças também têm necessidades que precisam ser respeitadas, bem como o convívio social dos pais. Por isso, ela não vê como inadequada a ida de uma criança a uma loja como a citada no início deste texto, nem mesmo a festas, cinemas e museus. “Em todos esses ambientes a criança também aprende a esperar, a se conter, a falar baixo. Claro que lugares com música muito alta, com sexualidade exposta, durante a madrugada, não são os ideais para criança estar”, elenca. É no que acredita Alana Câmara. Ao lado do marido e da filha de 2 anos, ela não se priva de ir aos lugares onde quer ir e acha adequado para o aprendizado da criança, mesmo que haja olhares tortos - especialmente pelo fato de ela ainda estar amamentando. “Sempre vamos a restaurantes ditos chiques, viajamos e vamos a museus. Às vezes rola um olhar torto, mas a gente faz, porque é uma experiência legal e para gente é importante, não queria abrir mão. Ela só vai aprender com o exemplo, porque é assim que as crianças aprendem”, defende.