Mulheres lideram a busca por imóveis em Salvador, diz Zap

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Victor Lahiri
  • Victor Lahiri

Publicado em 28 de junho de 2018 às 03:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Há sete anos, quando se mudou de Feira de Santana para Salvador para investir na carreira em produção cultural, Lisia Lira passou pelo Garcia, pela Barra e agora está nos Barris. Na habitação, ela não divide o espaço próprio com ninguém, mas no comportamento ela não está sozinha. De acordo com um estudo inédito divulgado pelo Grupo Zap, as mulheres lideram a busca por imóveis em Salvador - seja para comprar ou para alugar, com 63% de participação.

“Morar sozinha foi uma necessidade e mudou toda a minha lógica de vida”, diz Lisia, que viveu os primeiros meses na casa de uma tia, mas logo percebeu que lá não seria abrigo por muito tempo. A necessidade de um espaço próprio com maior privacidade e mais perto do trabalho e da faculdade foi decisiva na busca pelo primeiro apartamento.

Desde que resolveu morar só, sempre procurou maior conforto e mobilidade. Agora, ela planeja, a longo prazo, a casa própria, mas para isso precisa de estabilidade. “É algo que busco e sempre”. Falando apenas em números, o destaque feminino até poderia não ser surpresa, já que as mulheres também lideram a demografia soteropolitana, segundo o Censo 2010 do IBGE, com 53,3% da população, e o crescimento da presença feminina no mercado em posições com carteira de trabalho assinada voltou a crescer depois de dois anos em declínio de acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).

Apesar do protagonismo, o dado contrasta com a disparidade salarial em relação aos homens e às dificuldades encontradas por elas em relação ao acesso a postos de trabalho. Isso faz com que, quando comparadas ao sexo oposto, aumente o jogo de cintura exigido na hora planejar a aquisição da casa própria e com os custos de morar só.  

Pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher (Neim) da Universidade Federal da Bahia, Márcia Macedo acredita que muito mais do que o destaque em números e estatísticas, a participação feminina na movimentação do mercado imobi liário é marca de um comportamento que ultrapassa as barreiras geográficas, já que o cenário atual reflete uma mudança construída ao longo dos últimos 50 anos."Esse processo é movido principalmente pela ampliação da escolarização e melhoria na remuneração das mulheres", Márcia Macedo, pesquisadora do Neim“Esse processo é movido principalmente pela ampliação da escolarização e melhoria na remuneração. Com isso, aumentaram o poder de consumo e, consequentemente, o interesse na aquisição do imóvel próprio, considerado um elemento importante nos projetos de estabilidade”, explica. Além disso, ela aponta que o fim da crença de que a mulher só podia sair da casa dos pais para casar, como se pregava antigamente, também fortaleceu essa procura.

A vendedora Débora Nery, por exemplo, colocou a compra de um apartamento na lista de prioridades assim que teve a carteira assinada. “Sempre planejei a minha vida sem focar na perspectiva de casamento, então o imóvel foi meu primeiro foco assim que comecei a trabalhar. Para mim, era a tradução da independência financeira”.

Depois de alguns anos pagando as prestações, ela conheceu o marido, Valbert, e juntos adquiriram um outro imóvel para morar. “Cheguei a pensar em passar o apartamento, mas vi que não valia a pena, pois o imóvel é um investimento. Apesar de não morar lá, ele está locado, gerando renda”, explica.

Com mais de 25 anos de experiência na área de corretagem imobiliária, o segundo vice-presidente do Creci-BA, José Alberto de Vasconcellos, revela que atualmente mais de 60% dos imóveis negociados por sua empresa têm como clientes, mulheres. “A postura da mulher em priorizar o seu planejamento pessoal tem um grande papel nisso, mas mesmo na configuração tradicional familiar, é a mulher que pesquisa e é ela também quem bate o martelo, então é normal que o corretor esteja mais focado nela”, afirma.

Ele destaca que o mercado já está de olho nesse “filão” e não deve demorar para que até as campanhas publicitárias e a forma como os lançamentos são divulgados assumam um apelo muito maior para o público feminino.

Mercado Desigual A última edição da Pesquisa Salarial e de Benefícios da Catho revelou que a média salarial em Salvador para homens em cargos de nível médio é de R$ 2.420,52, enquanto que para as mulheres é de R$ 1.418,63. A diferença, segundo Márcia Macedo, do Neim, leva as mulheres a realizarem uma série de malabarismos para concretizar o objetivo da independência habitacional.

“São decisões que passam pela privação de alguns interesses, como uma saída com amigos, viagens e etc. Ter que se esforçar mais para alcançar o mesmo objetivo do outro só mostra o quanto é importante lutar para mudar essa diferença de gêneros”.

Além da questão de orçamento, Lisia ressalta que até o processo de negociação de um aluguel pode ser mais complicado para uma mulher em função do machismo ainda presente na sociedade. “Quando a mulher busca um imóvel, ela recebe uma série de questionamentos sexistas e invasivos, que um homem não recebe. Já vi casos de pessoas que recusaram o aluguel para uma mulher que morava sozinha”.

 Por isso, ela visualiza o imóvel próprio como uma expressão de independência e pontua que continuar lutando em prol das mudanças é o caminho para alcançar um cenário onde o gênero não possa ditar o tamanho do esforço para alcançar objetivos.

Reparos domésticos feitos por mulheres Quem acha que o desafio de manter uma casa só sua, se restringe ao aperto com as parcelas do financiamento ou taxas de aluguel e custos fixos, se engana. A manutenção do imóvel é uma peça fundamental, e como se não bastasse a dificuldade de administrar os reparos corriqueiros em função dos custos, no caso das mulheres, não faltam relatos desconfortáveis sobre visitas de técnicos de serviços.

Foi pensando em mudar esse cenário e oferecer uma opção que traga maior segurança a elas, que a museóloga May Bastos criou, em Salvador, o “Entre Minas”, microempresa que além de ofertar reparos domésticos para mulheres e também promove capacitações para acabar com a ideia de que o trabalho com furadeira, martelo e afins é inimigo do sexo feminino.

“O manuseio de ferramentas e serviços rápidos aprendi com meu pai, era algo que eu já fazia para mim mesma e para amigas, mas há dois anos estava buscando novas perspectivas profissionais e tive a ideia de transformar em uma atividade comercial”, afirma. Ela conta ainda que já tinha ouvido diversos comentários sobre constrangimentos que mulheres próximas passaram ao contratarem homens para serviços simples, como troca de resistência do chuveiro ou substituição do sifão da pia.

Ela relata que na maioria das vezes o mal estar não acaba no assédio,  pois há  “profissionais” que costumam se aproveitar da falta de conhecimento das moças para cobrar valores muito mais caros ou simplesmente se negam a corrigir os serviços mal feitos. Foi daí que surgiu a iniciativa de promover a Oficina de Manutenção Residencial para Mulheres, que aborda uma série de técnicas que fazem toda a diferença no dia a dia, entre elas, troca de tomada, interruptor, torneira, sifão, manuseio de furadeira, entre outros.

Além dos reparos, o Entre Minas também oferece serviços para a decoração como pintura, marcenaria e até mesmo reaproveitamento de móveis velhos. A funcionária pública Silvana Maciel, que conheceu o trabalho da ‘Entre Minas’ pelas redes sociais, se tornou cliente, parceira e faz questão de divulgar a empresa para o máximo de pessoas que conhece. “Sempre busquei olhar de maneira especial para esse tipo de trabalho feito de mulher para mulher. Hoje tenho uma círculo de amigas que indico o trabalho delas e já estou me programando para participar da próxima oficina, pois pode não parecer tanto mas é um passo enorme de afirmação da nossa autonomia”.