Mulheres negras com a palavra

Autora do premiado romance 'Garota, Mulher, Outra' abre a Flip nesta quinta (3)

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  • Ana Pereira

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: divulgação

No ano passado, o nome da escritora da escritora anglo-nigeriana Bernardine Evaristo chamou atenção dos leitores mundiais. A experiente autora de obras de ficção, poesia e ensaios de literatura ganhou o prestigiado Booker Prize pelo livro Garota, Mulher, Outras - seu oitavo trabalho e primeiro publicado no Brasil, pela editora Companhia das Letras.

Primeira escritora negra a vencer a premiação inglesa,  Bernardine Evaristo fala nesta quinta (3) sobre o livro e outros assuntos, às 18h, na mesa Diásporas, que abre a programação da edição online da Festa Literária Internacional de Paraty - Flip (www.flip.org.br). Ela conversa com a carioca Stephanie Borges.  

O tema da mesa dialoga diretamente com Garota, Mulher, Outras, que pode ser resumido como um conjunto de narrativas sobre doze mulheres, imigrantes ou descendentes de imigrantes de países africanos e caribenhos. Elas e seus filhos, pais, amantes, chefes... num emaranhado de vozes e histórias que se passam na Inglaterra e que se cruzam aqui e ali.

E também dialoga com a história da própria autora, de origem nigeriana, que podia estar na pele da dramaturga Amma, a primeira personagem do livro. Aos 50 anos, Amma já estava acostumada a viver à margem, mas de repente se vê envolvida no interesse coletivo da sociedade por textos de autoras como ela: negra, lésbica e questionadora.

 “Amma então passou décadas à margem, uma renegada arremessando granadas no establishment que excluía/ até o maistrem começar a absorver aquilo que um dia tinha sido radical e ela se ver ansiosa para se juntar a ele”, escreve a narradora, com uma boa dose de ironia. O romance começa e termina com a expectativa da estreia do espetáculo de Amma num grande teatro londrino.   

Entre um ponto e outro, o leitor vai sofrer, se irritar, rir e torcer pelas personagens, que soam tão próximas e familiares. A tensão entre mães e filhas, por exemplo, é um dos aspectos que aparecem como centralizador em várias tramas: está entre Amma e sua filha Jazz - cujo pai é um amigo gay da mãe - e que foi criada para ser uma menina politizada, consciente de sua negritude e empoderada. Só que isso tem um preço, que pode ser até bem alto.

Ou entre Carole e sua mãe  nigeriana Bummi. Primeiro, conhecemos o ponto de vista da filha, lutando para apagar as marcas que poderiam dificultar sua entrada no mundo dos bem sucedidos. O que inclui alisar os cabelos, neutralizar a ascendência ao máximo e casar um  londrino branco, de família tradicional. 

Depois conhecemos o ponto de vista de Bummi, que experimentou todas as desconfianças e negações quando partiu com o marido para tentar uma vida melhor e promissora em Londres. E para vergonha daaa filha, leva a vida à moda nigeriana.      Hibridismo

 Além da polifonia de vozes, o grande destaque do livro - elogiado até por Barack Obama - é sua forma inovadora. Sem pontos finais, mistura formas e gêneros literários, indo da prosa para os versos, da primeira para a terceira pessoa, com uma fluidez desconcertante. E varia a linguagem de acordo com a personagens: jovens da periferia, imigrantes que não dominam a norma culta, universitárias formadas em Oxford... 

Sobre os desafios da tradução do livro, Camila von Holdefer afirma que o trabalho foi um desafio constante. “A linguagem pode mudar do formal para o informal, ou vice-versa, numa mesma frase”, destaca a tradutora, avisando que a narração escorrega para o diálogo sem qualquer aviso prévio. 

 Apesar das 500 páginas que a princípio podem desestimular o leitor, Garota, Mulher, Outras é uma ótima forma de aproximação da literatura de Bernardine. Vale encarar o desafio. Companhia das Letras, 495 páginas. R$ 79,90 (físico) e R$ 39,90 (e-book) Caetano Veloso: mesa sábado, com o filósofo Paul B. Preciado (Foto: Divulgação) Programação da Flip

Dia 3/12

Mesa 1 - Diásporas (18h), com Bernardine Evaristo e Stephanie Borges  Mesa 2 - Zé Kleber – Cirandas (20h30) com Fernando e Marcello Alcantara. Mediação de Jéssica Moreira

Dia 4/12 

Mesa 3 - Florestas Vivas (16h), com Jonathan Safran Foer, Márcia Kambeb. Mediação de Jennifer Ann Thomas Mesa 4 -  Eileen para Presidente (18h). Com Eileen Myles. Mediação de Bruna Beber e Mariana Ruggieri Mesa 5 - Animais Abatidos (20h30). Com Pilar Quintana e Ana Paula Maia. Mediação de Schneider Carpeggiani

Dia 5/12

Mesa 6 - Sobre o Autoritarismo (16h). Com Lilia Moritz Schwarcz. Mediação de Flavia Lima e Flavia Rios Mesa 7 - Ancestralidades (18h). Com Chigozie Obioma e Itamar Vieira Junior. Mediação de Ángel Gurría-Quintana Mesa 8 - Transições (20h30). Com Caetano Veloso e Paul B. Preciado.  Mediação de Ángel Gurría-Quintana

Dia 6/12

Mesa 9 - Zé Kleber – Sarau (14h) . Com Rodrigo Ciríaco e Elisa Pereira. Mediação de Jéssica Moreira Mesa 10 - Batidas (16h). Com Regina Porter e Jeferson Tenório. Mediação de Guilherme Henrique Mesa 11 -  Vocigrafias Insurgentes (18h). Com Danez Smith e Jota Mombaça. Mediação de Roberta Estrela D’Alva Mesa 12 - Zé Kleber: Slam (20h30). Com Nathalia Leal e Luz Ribeiro. Mediação de Jéssica Moreira