Mulheres têm destaque no agronegócio no oeste da Bahia

Bahia Farm Show, maior evento do setor no Norte e Nordeste, é coordenada pela força feminina

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 9 de junho de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Mário Bittencourt/CORREIO

Se no oeste da Bahia, para avançar, o agronegócio tem de enfrentar de estradas ruins à baixa oferta de energia e internet, a situação é contrária quando se fala na presença das mulheres no campo. Nas fazendas, elas estão presentes tanto na própria lavoura, como engenheiras agrônomas, engenheiras ambientais ou técnicas agrícolas, quanto nos escritórios, tomando conta da parte administrativa e financeira da empresa agrícola.

A inserção da mulher no campo é fruto também da evolução do próprio modo de produzir, cada vez mais sofisticado. O forte, hoje, no campo, é a inteligência para saber usar a agricultura de precisão.

Não há dados consolidados sobre a presença feminina no campo no oeste baiano. Mas, segundo homens e mulheres entrevistados pelo CORREIO, a região segue a tendência de uma pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). O estudo, de 2017, aponta que em todo o país uma em cada três propriedades rurais tem mulheres ocupando funções de comando, quando não são as principais responsáveis pelas propriedades.    

Quem esteve presente na Bahia Farm Show, maior feira do agronegócio do Norte e Nordeste do Brasil e que termina neste sábado, 09, em Luís Eduardo Magalhães, consegue perceber que o que a pesquisa aponta é algo que também está presente na região. O próprio evento, que tem Rosi Cerrato há quatro anos na coordenação geral, é um exemplo disso. A paranaense está no oeste há 24 anos, quando por lá ainda predominava a paisagem do cerrado em estado bruto.

Assim como ocorreu com outras mulheres, Rosi veio para a região acompanhar o marido, que foi contratado como engenheiro agrônomo de uma multinacional. Com o desenvolvimento da região, eles compraram uma propriedade e hoje cultivam soja, milho e algodão, principais culturas do oeste. Rosi Cerrato é a coordenadora da Bahia Farm Show “A mulher, cada vez mais em todos os meios, está fazendo a diferença, está mais próxima do trabalho, da economia, de tudo que gera no país”, comentou Rosi, que diz nunca ter sentido qualquer resistência para atuar no campo junto com o marido.

“Eu trabalho muito com meu esposo. Ele coordena a fazenda e eu fico na parte financeira e administrativa, seguro ele um pouco nos gastos”, comentou Rosi, que é especializada em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Paraná.

Uma das principais preocupações dela é com o meio ambiente, algo que os produtores da região também vêm desenvolvendo em suas propriedades, ao reservar até mais de 20% da área para preservação da mata nativa, atendendo a legislação ambiental.

“Sempre me senti muito à vontade para atuar no campo, onde tenho respeito tanto de homens quanto de mulheres, seja aqui no oeste ou em outros locais do Brasil, onde marcamos presença, com eventos ligados ao agronegócio”, acrescentou Rosi. Grasiela Bergamaschi veio de Chapecó (SC) para o oeste baiano em 2007 Chá das moças

A presença das mulheres tem sido tão importante na região que todo ano a Bahia Farm Show reserva um evento específico para reuni-las: é o chá das mulheres, que, nesta edição, foi realizado na quarta-feira (6).

Rosi Cerrato também conduz o chá, regado a muita descontração e, claro, informação e troca de experiências. “A mulher faz a diferença em todas as áreas que ela quiser. Coordenar a feira, independentemente de ser homem ou mulher, é um trabalho no qual você tem que fazer a diferença, raciocínio rápido para resolver tudo e manter a calma. Fico feliz em poder contribuir com um evento tão grandioso e ser reconhecida por isso”, comentou. 

Centenas de convidadas participaram do chá, que no cardápio contou muito mais com a força daquelas que estão mostrando que lugar de mulher é qualquer lugar, do que com quitutes e guloseimas. “A mulher hoje busca mais conhecimento e quer estar no meio de trabalho do marido para poder contribuir com a produção”, declarou Mari Zanella que além de empresária, é esposa de Celestino Zanella, presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), entidade organizadora da feira.

Na região, outra mulher de destaque é a produtora rural Carminha Maria Gatto Missio, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, entidade que reúne 740 agricultores.

“A mulher, hoje, está não só nos escritórios das fazendas, como também dirigindo tratores, algo que há muito tempo deixou de ser uma atividade que precise de força. A atividade do agronegócio, para ter sucesso, depende muito é de inteligência, e nesse quesito temos contribuído muito”, afirmou Carminha.

As mulheres entrevistadas pelo CORREIO relataram que nunca sentiram qualquer tipo de discriminação de gênero no campo no oeste da Bahia. “Muito pelo contrário, sempre tivemos por aqui foi respeito e trabalhamos muito para que o setor se fortaleça cada vez mais”, diz a produtora Grasiela Bergamaschi, 41.

Formada em Administração e pós-graduada em Gestão da Agroindústria, Grasiela, que é de Chapecó (SC), está na região desde 2007 e atua junto com o marido numa fazenda de mais 2 mil hectares em que o cultivo principal é a soja.

Ela disse que vê “um crescente interesse das mulheres por essas atividades do campo, e tenho conhecimento de que elas desempenham com muita dedicação e sucesso as tarefas”.

Para Renati Busato, “a importância da mulher nesse ramo é algo notável”. Esposa de Júlio Busato, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão, ela declara: “temos que dar destaque a essa nova mulher administradora e empresária. Não é por acaso que hoje é uma mulher que coordena a feira toda. Agora, estamos falando a mesma língua dos nossos maridos”, destacou.