Museu de Ruy Barbosa não tinha câmeras: 'Só agora vimos a necessidade'

Dezesseis peças foram levadas de antiga casa do jurista, no Centro Histórico

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  • Bruno Wendel

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 16:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: ABI/Divulgação

Peças furtadas de museu são procuradas (Foto: ABI/Divulgação) O Museu Casa de Ruy Barbosa, no Centro Histórico de Salvador, fica a apenas 500 metros do 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM) e mais perto ainda das sedes da Prefeitura e da Câmara Municipal. Nem mesmo a proximidade com os três locais que são símbolos de poder, vigiados 24 horas por dia, foi capaz de intimidar bandidos que arrombaram e furtaram a primeira casa do maior jurista do país. A ação, no entanto, não foi registrada no imóvel, já que o local não possui câmeras de vigilância. Assim, ficou mais fácil empreender a ação e mais difícil de recuperar as 16 peças do acervo, a maioria de bronze.

A presidência da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), proprietária do museu, informou que o local é administrado através de um convênio, firmado em 1998, com o Centro Universitário UniRuy/Wyden (antiga Faculdade Ruy Barbosa), e admitiu a necessidade de instalação de equipamentos de monitoramento das peças. 

O roubo aconteceu entre as noites de sexta-feira (28) e domingo (30), quando a porta principal do museu foi arrombada. A ação, no entanto, só foi percebida na manhã de segunda (2), quando uma funcionária da UniRuy chegou para trabalhar e encontrou a porta da frente apenas encostada. 

Entre os itens levados da casa onde nasceu Ruy Barbosa (1849-1923) estão objetos pessoais e antiguidades, incluindo as peças mais valiosas do acervo: três bustos e uma estátua do jurista.

“Foi com muito pesar que recebemos essa notícia. A polícia está investigando. Entre as suspeitas do que pode ter acontecido é o fato de o roubo ter sido encomendado por causa do 180º aniversário de Ruy Barbosa. Mas acredito que essas peças ainda estão por aqui, no Centro Histórico, já que não é todo lugar que é possível comercializá-las porque são materiais peculiares”, declarou Antônio Walter Pinheiro, presidente da ABI.

Câmeras Os vigilantes contratados pela UniRuy para a guarda patrimonial não estavam no local na hora do ataque. A ação, segundo a ABI, sequer chamou a atenção de vizinhos do edifício situado no nº 299. Questionada sobre a ausência dos vigilantes e de câmeras, Pinheiro disse que a responsabilidade é da UniRuy. “Desde a assinatura de um convênio em 1998, o museu é administrado pela UniRuy, mas infelizmente não havia ninguém aqui, o que está sendo investigado. A falta de câmeras é outro problema que só agora vimos a necessidade da instalação do equipamento”, declarou Pinheiro.Por meio de nota, a UniRuy/Wyden lamentou o episódio. “Convicta do papel que exerce na sociedade baiana, a instituição ressalta que está colaborando com as autoridades a fim de auxiliar com as investigações e resolução do caso”, diz a nota.

Investigação O roubo foi registrado na Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur) como “furto qualificado/arrombamento com subtração de bens”.

“Ontem (quarta), ouvimos funcionários do museu. Ainda nessa semana, vamos ouvir os vigilantes. Temos que descobrir se as ausências deles foi algo pontual ou se já tinham o hábito de faltar nos finais de semana. Faremos todas as ouvidas e encaminharemos o inquérito para a unidade da área, Delegacia dos Barris”, declarou a delegada Maritta Souza. 

A delegada lamentou a ausência das câmeras no museu. “Infelizmente, estamos começando do zero. É inadmissível que um museu não tenha um sistema de câmeras. Vamos recorrer a filmagens de outros prédios”, explicou a delegada.

Segundo ela, nas imediações do museu é possível encontrar alguns pontos de compra e venda de ferro-velho. “Nossas equipes estão se dedicando desde o dia do episódio e, tão logo, daremos uma resposta”, finalizou a delegada. 

História Ruy Barbosa morou até os 16 anos (de 1849 a 1865) na rua que hoje leva seu nome. A Casa de Ruy Barbosa foi arrematada em leilão pelo jornalista Ernesto Simões Filho, então presidente do Jornal A Tarde, no início do século XX. Em 1935, a ABI conseguiu a posse do imóvel. Naquele mesmo ano, foi feita a reconstituição no imóvel original, que estava completamente em ruínas.

O diretor de Patrimônio da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares contou que o roubo dos objetos altera o projeto de exibi-los em evento preparatório da reabertura do Museu de Imprensa da ABI. Segundo ele, nos últimos anos, a ABI realizou o inventário do acervo da Casa Ruy Barbosa, de modo que conhece, com detalhes, cada objeto roubado. “Essa ação criminosa instala a ABI entre as entidades brasileiras agredidas devido à missão que se impuseram de preservar a história nacional”, comentou.

Quem tiver informações sobre o paradeiro das peças deve entrar em contato com o Disque-Denúncia pelo telefone 3235-0000 (Salvador e RMS) ou pelo 181 (interior).

“É assustador o que tem sido feito com a memória do Brasil e, particularmente, da Bahia. Um acervo constituído por peças que contam a história do ‘maior dos brasileiros’, como Ruy era chamado, se transformou em relíquias sujeitas a roubos e transações”, declarou o diretor de Cultura da ABI, Jorge Ramos, também no site da entidade. 

Precedente A Casa de Ruy Barbosa abriga um museu gerido e mantido pelo Centro Universitário UniRuy/Wyden. O Convênio de Intercâmbio e Colaboração Técnica e Cultural firmado em 1998 entre a instituição e a ABI teve o objetivo de devolver à comunidade o espaço do Águia de Haia, como também era conhecido o jurista baiano. O imóvel chegou a ser invadido por ladrões em 1997. Na época, a maior parte dos objetos roubados foi recuperada e seguia disponível para exibição até agora.

A pró-reitora administrativa/operações do UniRuy, Eliana Martins, acompanhou a ocorrência. Por e-mail, ela reforçou a parceria e manifestou a disponibilidade do reitor da instituição de ensino, Hubert Basques, em contribuir com as investigações.

Confira a lista de materiais roubados 1 busto de Ruy Barbosa em bronze (meia idade) 1 busto de Ruy Barbosa em bronze (ancião) 1 busto em miniatura de Ruy Barbosa em bronze (peso para livro) 1 estátua de bronze 6 medalhas de bronze de formato circular, com borda lisa. (1849/1907) 1 medalha de prata de formato circular, com borda marcada por friso em relevo. (09/10/1907) 1 medalhão de bronze dourado com bordas lisas 1 par de óculos de viagem com antolhos, armação de metal prateada, formato oval, lentes ovais acinzentados 1 par de óculos de grau, armação de metal prateado de formato oval, lentes ovais incolores. 1 Caneta tinteiro preta. 1 Taça.