Música para Quando as Luzes se Apagam funciona como bambolê colorido

Filme integra o Panorama Coisa de Cinema e será exibido neste domingo (12), às 17h05

Publicado em 11 de novembro de 2017 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Se você chegou até aqui e viu quase todos os nossos filmes em competição, já tem uma ideia da riqueza da jovem geração do cinema brasileiro. E “Música para quando as luzes se apagam”, primeiro longa de Ismael Caneppele, coloca mais um tijolo nesse belo edifício a ser eternamente construído. Trata-se de um filme sensorial, que se liga generosamente em situações diversas e não necessariamente contínuas. Pode-se fechar os olhos e escutar o filme por um tempo. Ou, ao contrário: vê-lo no silêncio. Os elementos não necessariamente se completam, mas criam sentidos diversos. E o filme, ao final, é coerente em sua totalidade. Não é um filme para a cabeça e nem necessariamente para o coração. “Música” tem o potencial de nos atingir em todas as partes do corpo, burilar em todos os sentidos.

Em “Música”, temos a chegada de uma contadora de histórias (Julia Lemmertz) a uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Ela é estranha. Não se define e não se revela por inteiro. Mas, ela se interessa pela jovem Emelyn. A tal contadora/ pesquisadora/ cineasta, seja o que realmente for, filma a jovem de uma forma livre. Registra o cotidiano de Emelyn, que passa por uma transformação. Há uma crise existencial em curso, mas que se dá de forma leve. Do jeito que, em tese, deve ser um período tão rico em descobertas. Emelyn passa a ser Bernardo, que passa a ser Emelyn, que descobre o sexo.

“Música” brinca com as texturas e com as janelas do cinema. A câmera é leve e parece flutuar, muitas vezes. O filme brinca com os nossos sentidos em algumas belas e estranhas sequências!

Em algum momento, entra em cena um bambolê luminoso. A menina brinca com ele na rua, seminua. Depois, no bar à noite. Há forte dose de uma sensualidade tranquila, doce, de descoberta juvenil. Antes disso, o bambolê passeia em cima de um carro, numa estrada, também à noite. Aliás, boa parte do filme se passa em noturnas. Não sei se antes ou depois, a mão carrega uma lanterna, que descobre o seio. Excitação!

Há mais que ser apreendido do que compreendido, aqui. Mas, creio, tudo se encaixa em certo ritual de auto-descobrimento na juventude.

Há um quê de Gus Van Sant em “Música”. Mas, os jovens não são perdidos, embora não pareçam produtivos. Em uma cena, garotos observam cavalos a comer a grama na beira do rio. Depois, temos patins e skate. E futebol e basquete. São jovens que vivem. Simplesmente, assim. O gestual é cotidiano, mas performático e belo! Há um nítido carinho na forma de ver tal juventude do interior.

Nenhum personagem se desenvolve, num sentido tradicional. Diálogos dão pistas, mas não dizem tudo. “Quando eu tô feliz o meu olho fica quase azul”, diz alguém em algum momento. Fala-se sobre sentimentos e transformação.

“Música”, também, é um filme sobre a identidade, numa cidade em que os mais velhos falam em alemão. Há uma suave melancolia, que permeia todo o longa. Uma bela descoberta, em um filme de estreia extremamente generoso.

SERVIÇO Competitiva Nacional V - 12 de novembro, às 17h05, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha  - Ingressos: R$ 10,00 / R$ 5,00 Filmes: Inocentes, de Douglas Soares - RJ, 19', P&B Vando Vulgo Vedita, de Andréia Pires e Leonardo Mouramateus - CE, 22', Cor Música para Quando as Luzes se Apagam, de Ismael Caneppele - RS, 70', Cor Os diretores conversarão com o público após a exibição.