Musical Noviças Rebeldes encerra temporada neste domingo

Dirigido por Wolf Maia, espetáculo marca 30 anos da Cia Baiana de Patifaria no Teatro Isba

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 10 de setembro de 2017 às 15:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Genilson Coutinho/Divulgação

As cinco freirinhas sobreviventes da sopa contaminada servida no convento da Irmandade Salue Marie encerram temporada do espetáculo musical Noviças Rebeldes neste domingo (10), às 20h. No show, elas precisam arrecadar fundos para o sepultamento das quatro irmãs que não foram contempladas com o enterro, especialmente depois que a madre decidiu comprar um iPhone 7Plus e raspou as economias da ordem religiosa. 

A peça voltou aos palcos baianos depois da primeira versão, que estreou em 1995. Dessa vez, os atores Lelo Filho (presente no elenco desde a primeira temporada), Mário Bezerra, Marcos Barretto, Rodrigo Villa e Lázaro Reinaldo encerram temporada de shows no Teatro Isba, com direção de Wolf Maia, que repete a parceria após 22 anos. 

Primeira montagem mundial com elenco totalmente masculino, a versão baiana  realizou mais de 600 apresentações e conquistou plateias que somam mais de 350 mil espectadores. O ator Lelo Filho, um dos fundadores  da Cia Baiana de Patifaria,  conta que  essa versão foi totalmente atualizada, inclusive no repertório,  coreografias e nas homenagens. “Na primeira versão nos anos 90, o desfalque havia sido para comprar um videocassete, hoje é um iPhone prateado”, destaca Lelo, lembrando que o musical, que  já fez homenagens à  axé music, agora  incorporou   o funk. As coreografias do musical vão desde balé clássico ao sapateado e uma trilha que reúne ritmos como  baião, chorinho, axé e  funk.

Risos e terapias Para Wolf Maia, o sucesso do espetáculo, que em sua primeira versão chegou a ficar cinco anos em cartaz e foi apresentado por duas semanas no St. Clement Theatre, no circuito off Broadway, em Nova York, reside na brincadeira com códigos religiosos e com a vaidade. “A comédia é um tipo de comunicação que chega mais fácil ao brasileiro, num período em que se encontra tão poucos motivos para rir, o gênero chega a funcionar como uma terapia”, defende o diretor.

Wolf Maia acrescenta que o fato da comédia ser inteligente e feita por atores muito sérios e competentes também é outro ponto positivo. “Em cada local onde o espetáculo se apresenta há uma brincadeira com os costumes locais e isso cria uma identificação com o público”, completa. Com uma postura parecida, Lelo Filho ressalta que o repertório de piadas chega a mudar nos dias de apresentação. “É tudo muito dinâmico e rico, talvez isso explique toda essa sobrevida e o sucesso da montagem”, diz. 

Vale salientar que a peça Noviças Rebeldes se baseia no musical da Broadway de Dan Goggin, que chegou a vir ao Brasil conhecer a versão masculina de um musical feito para mulheres. “Ele ficou encantando com essa versão tão inusitada”, destaca o diretor.  A remontagem do espetáculo marca os 30 anos da Cia Baiana de Patifaria e homenageia o diretor musical das duas primeiras temporadas, Sérgio Souto, que morreu em 2014 .  “Convidamos a Manuela Rodrigues, que se guiou no trabalho dele para fazer toda a nossa preparação vocal”, explica Lelo Filho. O elenco conta com quatro dos atores que, atualmente, se encontra em cena com A Bofetada: além de Lelo Filho, Mário Bezerra, Marcos Barretto e Rodrigo Villa. O quinto ator, Lázaro Reinaldo, que interpreta a Irmã Frida, foi escolhido numa audição. “Nosso patife caçula já chegou com uma química muito boa e completamente integrado”, elogia Lelo.

 “Tive uma semana para ensaiar o texto e a música da seleção. Foram sete dias bastante especiais e tensos para mim e meus vizinhos”, lembra Lázaro Reinaldo, ao acrescentar que, devido aos constantes ensaios, recebeu alguns avisos da síndica do prédio onde mora. Ele recorda que, apesar da tensão antes da audição, o elenco da Cia Baiana de Patifaria o acolheu com muito afeto. “Recebi o resultado da aprovação na mesma noite e, no dia seguinte, já começamos a ensaiar para valer. Tem sido uma experiência fantástica e única. Eu só posso agradecer ao universo, ao ator Marcos Barretto por me indicar e a Lelo pela oportunidade”, declara, emocionado, o ator, que faz teatro há apenas dois anos.

Ele destaca que a experiência tem proporcionado aprendizagens diárias. “Além dos colegas de cena, tenho tido a chance de trabalhar com Wolf Maya, que tem uma direção precisa, objetiva e fluída. Ele conhece todas as nuances da peça e de cada personagem. É nítido nos ensaios que todos os personagens ganhavam alma depois dos toques dele. Um mestre. Foram ensaios divertidíssimos, regados a gargalhadas”, pontua.

Novatos Quanta à personagem Frida, Lázaro fala que ela é a definição da religiosidade. “Não haveria outra coisa pra Frida ser na vida, a não ser freira. Ela ama ser freira, mas, ao mesmo tempo, ela é muito espontânea: fala o que vem à mente e não tem papas na língua. Frida é a primeira personagem feminina que interpreto e Noviças Rebeldes minha primeira comédia”, realça.

Outro novato na Cia Baiana de Patifaria é o ator Rodrigo Villa, que fala ser um sonho a oportunidade de fazer parte de uma das companhias de teatro mais importantes e respeitadas da Bahia e do Brasil. “Entrei na companhia para fazer A Bofetada e tenho aprendido muito e aproveitado cada segundo como se fosse o último”, diz. Villa interpreta a  irmã Léo, que é a única noviça de fato no convento louco e que sonha em ser bailarina. “Foi bastante doloroso trazer o ballet, a feminilidade e delicadeza que essa personagem precisa”, completa o ator.

Já a Madre Superiora, outro personagem marcante do musical, agora ganha vida com  Mário Bezerra. Ele  entrou em 2014 na Cia para fazer Abafabanca e agora está em  Noviças Rebeldes dando vida à religiosa,   uma mulher vaidosa que gosta de subjugar as colegas.Wolf Maia Conhecido do grande público por dirigir novela como Cobras e Lagartos, Ti Ti Ti, Mulheres de Areia, Fina Estampa, Amor à Vida e I Love Paraisópolis, o diretor Wolf Maia conheceu os patifes no início da Companhia e, desde então, estabeleceu com eles uma relação de admiração e identificação por meio da comédia. Comandou a estreia das Noviças Rebeldes em 1995 e a montagem comemorativa de dez anos, em 2005, e agora está de volta com a trupe.  “Me considero um ‘patife’, antes mesmo do falecimento de Moacir Moreno”, conta.  Fora do teatro, Wolf se afastou da direção de teledramaturgia, depois de 35 anos de atuação e, hoje, se dedica a formação e treinamento de atores, no Rio e em São Paulo, por meio da Escola de Atores Wolf Maya.  “Não me desliguei da Globo, não iria para outra emissora, mas a direção de novela requer um trabalho intenso durante cerca de 11 meses e isso impossibilita tocar outros projetos”, pontua. Além da direção da peça Noviças Rebeldes, atualmente, Maia prepara dois elencos específicos para projetos da Globo, que contemplam atores indígenas  e um grupo de atores negros da Cidade de Deus. Aliado a isso, grava o seriado Barra Funda para o Netflix e o filme Glória para o HBO.

Serviço O quê: Peça Noviças RebeldesElenco:  Cia Baiana de PatifariaOnde: Teatro ISBA - Av. Oceânica, 2717 – Ondina (4009-3622)Quando: Até hoje (10), às 20hIngressos: R$ 60 | R$ 30