Na ponta do lápis: cinco estratégias para gastar menos com a escola dos filhos

Mensalidades tradicionalmente aumentam mais que a inflação e por isso as famílias devem se preparar

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  • Priscila Natividade

Publicado em 19 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Leonardo Azevedo tem 18 anos e está cursando atualmente o 3º ano do Ensino Médio. Até aí é um rapaz normal, que prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na última semana. No entanto, não foi fácil para a família de Leonardo chegar até aqui na hora de manter os estudos do filho em uma escola particular. 

“Teve momentos que eu pensei em desistir de manter ele no colégio. O preço da mensalidade era salgado, ainda tinha os gastos com transporte, livros, fardamento. Tudo isso chegava a R$ 1 mil, por mês. Foi um momento de grande dificuldade”, lembra a esteticista e mãe de Leonardo, Rosana Azevedo. 

Para não sair do colégio, a ideia de trocar serviços em turno oposto às aulas por uma bolsa de estudos veio do próprio Leonardo. “Hoje eu ajudo em várias funções de acordo com a necessidade da instituição. Faço pagamentos em bancos, ajudo na logística de arrumação de sala de aula, viagens e provas, supervisiono salas quando necessário”, conta o estudante. 

Leonardo faz parte do Projeto Aluno Mirim, criado pelo Colégio Fortunato, localizado no bairro do Cabula.  Além da bolsa de 100%, depois que concluir o 3º ano, ele está com o emprego garantido: “Graças ao programa já entro 2019 com o salário para custear minha faculdade. É muito bom porque eu consigo ajudar também minha família em casa. A gente sabe que as coisas não estão fáceis”.

E quanto o assunto é a cesta de despesas escolares, as coisas não estão fáceis mesmo. A pedido do CORREIO, o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), André Braz, fez um levantamento sobre a inflação acumulada até agora pelos principais itens, entre eles a mensalidade, material escolar, livros didáticos e os livros não-didáticos. 

No acumulado de novembro de 2017 a outubro de 2018, a inflação média de todos os itens do IPC Geral de Salvador ficou em 4,67%. A mensalidade escolar no mesmo período chegou a 6,10%. “Os pais vão precisar preparar um pouquinho o bolso por que há grandes chances destes índices avançarem em 2019. Teremos uma inflação bem maior e tudo isso deve ser transferido para o ano que vem”, analisa o economista.

Ainda que a inflação do material escolar (4,49%) tenha ficado um pouco abaixo da inflação média de todos os itens e livros didáticos (-0,79%) e não-didáticos (-1,82%) tenham caído, os pais precisam se preparar para os gastos de 2019, como aconselha Braz. “Em geral estas despesas escolares sobem bem acima da inflação. Ano passado a economia estava mais devagar e a inflação caiu mais que a metade. Vale a pena ficar alerta”, completa. 

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 Alternativas

De olho nestas despesas que estão por vir, a troca por serviços é só uma das cinco alternativas que especialistas em educação financeira listaram para que os pais possam conseguir conter os efeitos do reajuste na mensalidade e o peso que tem a mochila das despesas escolares.

Entre as soluções estão também a negociação de descontos, os concursos de bolsas de estudo, formação de grupos de pais e o pagamento antecipado da matrícula (confira ao lado). Segundo o diretor de dados e pesquisas econômicas do Guiabolso, Márcio Reis, para todas as estratégias dois pontos são fundamentais: primeiro, abrir o jogo, ser sincero com a escola; e, segundo, saber argumentar a favor dos dois lados. “É explicar que vale mais pagar menos, mas em dia, do que atrasar ou ser inadimplente. O pai pode usar o histórico de pagamento pontual como trunfo para iniciar esta conversa com o colégio”. 

Antes de bolar a melhor proposta, o dever de casa está em rever as contas, como acrescenta o fundador da fintech Konkero, Guilherme de Almeida Prado. “É um diagnóstico importante para que possa avaliar quanto pode realmente pagar. Faça uma proposta de valor que é acessível para você. Analise o quanto um eventual reajuste vai impactar no orçamento e se houve mudanças nas receitas e despesas da família de um ano para o outro”, orienta o especialista. 

Foi o que fez a funcionária pública Andrea Santos, que está aliviada por ter pago a anuidade da escola dos dois filhos em 2019. “As mensalidades dos meus dois filhos custam ao todo R$ 710. Com a antecipação, o valor caiu para R$ 500, ou seja, uma economia de R$ 2.520 no ano. O dinheiro que ficou eu pago a capoeira, coloco na poupança para os estudos futuros e a para uma viagem à Disney”.

Para ela, juntar o dinheiro do 13º salário com o marido vale a pena para ter esta tranquilidade lá na frente. “Os pais precisam driblar a inflação, os gastos e qualquer coisa que se economiza é importante para que a família possa investir em outras coisas durante o ano sem pesar no orçamento”, pontua.  

NA HORA DA MATRÍCULA

O que a lei diz sobre reajustes abusivos?  De acordo com a Lei nº 9.870, não existe um teto de reajuste escolar, porém, o novo valor deve estar de acordo com as despesas da escola e só poderá ser realizado uma vez a cada 12 meses. A necessidade do aumento deve ser comprovada por meio de planilha de custos, mesmo que o reajuste seja resultado de modificações no processo didático-pedagógico da instituição de ensino.

Como os pais podem identificar o reajuste abusivo e o que devem fazer caso se sintam lesados?  O fato de não existir um valor máximo para o reajuste da mensalidade não impede aos pais de contestarem o aumento. Caso o consumidor se depare com um aumento que considere abusivo, ele pode solicitar à escola a justificativa detalhada deste reajuste. O ideal é tentar uma resolução amigável com a escola. Uma outra alternativa  é reunir um grupo de pais para contestar o aumento na Justiça.

A escola pode consultar o nome dos pais nos órgãos de Proteção ao Crédito?  Se é certo que toda divida vencida pode ser cobrada, também é certo que o consumidor não deve ser exposto a cobranças constrangedoras como prevê o Código de Defesa do Consumidor. A escola também não pode proibir o acesso do alunos à sala de aula, realização de provas, reter documentos ou qualquer outra sanção pedagógica por motivo de inadimplência. 

Onde reclamar estes direitos? Os pais sempre poderão recorrer às orientações presenciais nos Postos de Atendimento da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA). É importante que o consumidor leve para o atendimento os documentos pessoais, cópia das mensalidades dos últimos meses, cópia do contrato de matrícula e o valor da mensalidade que seria cobrada no ano letivo seguinte, após o reajuste.

DICA DA SEMANA: CINCO ALTERNATIVAS PARA AMENIZAR OS GASTOS ESCOLARES

Troca de serviços* Analise  as reais necessidades da instituição e apresente alternativas para uma permuta saudável para os dois lado, a famosa negociação do ganha-ganha. O diálogo entre as partes para encontrar uma solução favorável poderá ter como ponto de partida um percentual de desconto nas mensalidades em troca de algum serviço útil para a escola.

Diálogo Monte um projeto tendo como base a necessidade da escola e tenha isso em mãos, ao argumentar a troca de serviços com a direção. É preciso garantir que você vai mesmo prestar aquele serviço. A escola precisa ter segurança de que irá cumprir o acordo.

*Edval Landulfo é economista e educador financeiro

Negociação de descontos* O momento é agora. Procure negociar tão logo saia os valores da mensalidade. Avalie quanto você consegue pagar. Pergunte, primeiro, se existem opções de bolsa e desconto da escola. E como é possível se qualificar para esses benefícios. 

Fique atento Mentir ou blefar é o principal erro. Se sua família tem condições de arcar com a escola, não dá para ir até a direção argumentar que não consegue pagar. Procure abordagens realmente verdadeiras. Uma boa proposta é  oferecer  trazer novos alunos para escola. Isso pode ser positivo para ambas as partes.

*Guilherme de Almeida Prado é fundador da Konkero

Concursos de bolsa de estudo* Os candidatos que terão o orçamento avaliado precisam colocar no papel todas as despesas do mês e o volume de ganhos de todos os integrantes. Quanto mais detalhado, melhor.  Caso consiga reunir um histórico grande, mostre o quanto é preciso apertar o cinto pra pagar a mensalidade.

Abra a jogo Ir pessoalmente é melhor do que ter uma conversa por telefone. O pai pode usar o histórico de pagamento pontual como trunfo pra pedir a bolsa de estudo. Se a criança é maior, já é adolescente, e tem bom desempenho em alguma matéria os pais podem negociar uma ajuda do filho. Em troca da bolsa, o filho poderia ser monitor daquele assunto e auxiliar os colegas que não entendem tão bem o conteúdo.

Márcio Reis é diretor de dados e pesquisas econômicas do Guiabolso

Criação / organização de grupos de pais, parentes e amigos* A principal dica aí é montar um grupo com pessoas conhecidas e ir visitar outras escolas equivalentes e pegar propostas. E aí sim, com estas propostas na mão, sentar com a escola e negociar. É importante falar sempre a verdade, expor os motivos e que realmente tem propostas, não blefar.

Estratégia Novembro e dezembro são meses que as escolas estão com a inadimplência no pico e quando têm inúmeras despesas extras, como o pagamento do 13º salário, por exemplo.  O momento é extremamente oportuno para iniciar  estas negociações.

*Angelo Guerreiro é educador financeiro

Pagamento antecipado da matrícula* Final de ano, 13° a vista, é preciso fazer um bom uso desse dinheirinho extra. Uma opção inteligente é antecipar despesas que são certas, por exemplo, pagar a matrícula e as primeiras mensalidades escolares.

Dinheiro extra Antecipe o valor máximo que puder. Pague à vista - cartão de crédito ou débido geram despesas para a escola que podem comprometer o valor do desconto. Negocie sempre com a pessoa com maior poder de decisão e com a qual tenha mais empatia.

*Antônio Carvalho é educador financeiro