Na véspera do Enem, estudantes buscam maneiras para aliviar a tensão

Revisar assuntos no último dia é desencorajado por professores

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  • Thais Borges

Publicado em 3 de novembro de 2018 às 06:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO)

Luiza decidiu ir ao cinema com a mãe. As gêmeas Patrícia e Priscila preferiram ficar em casa, com a companhia da cachorrinha Mimosa. Preocupação, agora, só se for com o título do filme que vão assistir. Amanda preferiu buscar o equilíbrio com ajuda da espiritualidade. 

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Seja lá qual for o caminho, a ordem do dia é só uma: relaxar. Para quem vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), neste domingo (4), a recomendação de professores e outros especialistas é eliminar a tensão na véspera do primeiro dia de provas.“Na véspera do Enem, não adianta pegar nada para estudar. Primeiro, porque não vai fixar nenhum assunto. Segundo, porque a gente acaba ficando mais nervosa, achando que não sabe”, diz a estudante Priscila Manieri, 18 anos.Assim como a irmã gêmea Patrícia, ela pretende cursar Odontologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

Priscila é uma das estudantes que decidiu ficar em casa neste sábado (3) e assistir a um filme. Patrícia, a irmã, vai aproveitar para ficar com a mascote de estimação da família, Mimosa, 12. “Ela é muito velhinha, mas é muito fofa. É o xodó da família e ajuda a esquecer um pouco da prova, da tensão”, diz ela. 

As duas, que concluíram o 3º ano do Ensino Médio em 2017, tiveram um ano intenso. Davam início aos estudos às 6h da manhã e só paravam no fim do dia, com uma pausa para o almoço. Os fins de semana eram reservados para curtir em família. Para o dia da prova, ambas reservaram um “kit” com água com gás, isotônico, um pacote de torradinhas e um chocolate. 

“Não exagero. Levar mais do que isso é perder tempo comendo”, brinca Priscila, que ressalta que tanta preparação é justificada pelo fato de que enfrentarão a concorrência de estudantes do Brasil inteiro.  Especialistas indicam que estudantes fiquem longe dos livros na véspera da prova (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Momento de descanso Já a estudante Luiza Vigné, do 3º ano do Colégio Militar de Salvador, preferiu sair de casa para espairecer e foi ao cinema. O objetivo era esquecer os últimos dias, que têm sido difíceis. “Tenho tido alguns probleminhas de crise, tipo ficar nervosa. Às vezes, choro. Minha mãe está me ajudando bastante, por isso, decidi relaxar nesse fim de semana”, explica. 

Ela, que pretende cursar Psicologia na Ufba, chegou até a pensar em ir à praia para surfar e encontrar amigos. Em seu grupo de colegas mais próximos, alguns já passaram por essa fase. Isso, para ela, acaba ajudando a aliviar a tensão. “No sábado, pretendo descansar muito. Vou dormir o dia inteiro”, contou, aos risos.  Foto: Arte CORREIO A coordenadora pedagógica do Colégio Isba, Angelina Rubio, destaca que esse é mesmo o momento de trabalhar o emocional. Na escola, os professores decidiram nem mesmo fazer revisão nos últimos dias. 

“Já fizemos a revisão toda. O que a gente tem feito é dar as orientações finais, com um momento de conversa para que eles fiquem mais preparados. É para que eles saibam que vão ter que levar todos os documentos, projetar a chegada aos portões, preparar o ‘kit’ alimentação”. 

O pró-reitor de ensino de graduação da Ufba, o professor Penildon Filho, destaca que o Enem é um exame democrático e considerado mais inteligente do que os antigos vestibulares.“O Enem foi considerado um grande avanço porque, de uma só vez, a pessoa pode entrar nas universidades públicas e em grande parte das particulares. Além disso, trabalha com raciocínio e interpretação de texto”, elogia o pró-reitor. Força espiritual Quando a estudante Amanda Silva, 27, chegou ao terreiro Axé Abassa de Ogum, em Itapuã, na quinta-feira (1º), já se sentiu mais leve. Ela, que cursa Engenharia Civil na Ufba e Direito na Unifacs, decidiu seguir a segunda opção. E é justamente para conseguir vaga na universidade federal, que ela decidiu fazer a prova do Enem.

“A gente busca o equilíbrio mesmo, um lugar que dê conforto, que acalme. A espiritualidade é importante. Não vai te fazer ser aprovado, mas te dá caminhos. Faz com que você esteja bem psicologicamente, porque todo mundo sabe que é muito cansativo. Já estou mais tranquila, todo o nervoso foi embora”, revelou. 

A ialorixá da casa, mãe Jaciara Ribeiro dos Santos, já é acostumada a ajudar os filhos de santo e outras pessoas que não são da religião, em situações como essa. Ela explica que os terreiros de candomblé costumam valorizar o acolhimento – independentemente de Enem ou qualquer tipo de seleção. “Minha casa tem muitos filhos com idades entre 15 a 28, 30 anos. São jovens. E a gente está sempre cuidando do filho por esse mundo aí afora.  A gente não tem psicólogo na casa, mas a Ialorixá também faz esse papel de ouvir, de acolher, e as pessoas estão muito tensas. A gente tem acalmado os filhos e mesmo os que não são da religião. Eu cuido independente da escolha, até um católico, um evangélico”, conta. Uma das formas de ajudar a acalmar os estudantes que frequentam o terreiro é com um banho de folhas. “Como eu sou filha de Oxum, dou banho com água de cachoeira, pétalas de rosa e a gente oferece ao orixá que mais cuida do pensamento, que é Iemanjá”, completa.

Na Igreja do Bonfim, o reitor da basílica, padre Edson Menezes, já está acostumado a receber estudantes que buscam por ajuda espiritual. Na quinta, recebeu grupos dos colégios São Paulo e Anchieta. Na sexta (2) e no sábado (3), espera receber ainda mais alunos pedindo uma benção espiritual. 

Lá, o costume é abençoar as canetas com as quais eles pretendem fazer a prova. “A mensagem que a gente passa é que eles precisam estudar. Se estudaram, Deus ajuda. Não pode só buscar a proteção sem estudar. É uma mensagem de incentivo, mas claro que a força espiritual ajuda, tranquiliza, fortalece”, diz Menezes.