Nana Caymmi, e é o seguinte: Zélia Duncan parece entalada

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 29 de março de 2019 às 11:40

- Atualizado há um ano

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Sobrou pra Caetano, Chico, Gil, Elis e um monte de descendentes. Sem falar nos ex (“uns merdas”), Roberto Carlos e pra o que todos esperam de uma idosa bem-sucedida. O dinheiro é dela e é ela quem vai gastar, avisou, e não disse isso de uma forma delicada. Foram 98 palavrões, inclusive. Uma maravilha de número, mesmo para uma pessoa que sempre foi desbocada. Fuzuê e discórdia no meu grupo de amigos. Entre gargalhadas de uns e alguns “não escuto ela nunca mais”, o fato é que a entrevista que Nana deu à Folha, nesta semana, tá quase causando igual a Bruna Marquezine, suruba de Noronha ou Anitta pegando todo mundo, no Carnaval. Só que entre outro público, claro. Eu tô na turma que se acabou de rir, confesso. Não confundam isso com concordar com o que ela diz, o que seria péssimo (e meio burrinho) da sua parte. Acontece é que abri mão de uma certa interpretação do “politicamente correto” e entrei na viagem. Lembrei muito de minha avó em sua fase desbocada, quando se liberou de algumas convenções. Faz tempo isso e ela continua viva (vai fazer 101), mas eu sei que me disse certas coisas porque sabia já estar nos finalmentes da sua passagem por aqui e resolveu chutar o pau da barraca. Sábia decisão, eu acho. Deve o que, mais, uma pessoa nessas idades? Sou muito mais uma velhice barulhenta do que o silêncio depressivo pelo qual a maioria dos idosos passa. Somos nós, ainda na idade da hipocrisia, que precisamos aprender a lidar. Velhice é a hora em que viramos “malas”. Momento em que, apesar de muitas vezes sustentarem gente cumaporra (com direitos autorais ou aposentadoria de assalariado), pessoas têm seus discursos, gostos e hábitos inteiramente desqualificados. É quando tudo nosso passa a ser ridicularizado e se você nunca pensou sobre alguém o clássico “velho demais pra isso”, é exceção, ponto fora de curva, raridade. Na velhice, muitas vezes, a depressão bate em quem sempre foi alegre e sorridente. Quando se chega “na idade” até a sexualidade – necessidade básica – vira pecado mortal. Pelo menos aqui nos trópicos, onde toda liberdade é condicional. Nesse caso, como sabemos, condicionada à boa forma física e jovialidade. Não à toa corremos para esconder os fios brancos, trombetas do apocalipse individual. É medo mesmo, não adianta disfarçar. Porque diferente de outros cantos (e entre as coisas mais lindas que já vi está um casal de velhos, completamente nu, jogando frescobol, nos arredores de Munique), envelhecer no Brasil é uma bosta fenomenal. Sendo assim, pessoa que ainda não chegou lá, apenas deixe Nana em paz. É maravilhoso que ela queira e possa falar, que não esteja trancada num apartamento decadente como João Gilberto, por exemplo, entre outros destinos trágicos (agora que ficou rico, vamos ver se vai melhorar). Sim, eu achei massa e muito engraçado. Assim como minha amiga Ana, imaginei a cara de Paula lendo que Caetano grita com ela (duvido... hahaha). Também calculei o susto dos descendentes tomando conhecimento de que ela vai torrar os cachê tudim (com todo o direito, claro) e dei um grito quando ela esculhambou os ex, porque não é obrigada a mentir pra ser porreta, mais. Me deu vontade até de adiantar meu lado. Pode perguntar “quem se importa” (e dane-se, eu quero falar), mas vou confessar que nunca suportei nenhum cantor mineiro, que também detesto os sertanejos, que acho o ambiente de moda cafonérrimo e que Zélia Duncan sempre me parece entalada. Inclusive, tenho vontade de dar um tapinha nas costas, especialmente quando ela canta Catedral.  Sem mais para o momento, um beijo Nana! Adorei, querida. Tchau. (E não. Nem todo mundo é – ou precisa ser – Elza Soares)