'Não é viável', diz FBF sobre recomeçar o Baiano dia 16 de maio

Em entrevista ao CORREIO, presidente Ricardo Lima conta detalhes sobre reunião com a CBF e medidas para retomada do estadual

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  • Daniela Leone

Publicado em 29 de abril de 2020 às 13:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho / Arquivo CORREIO

A bola passará a rolar nos gramados brasileiros em meio à pandemia de coronavírus. A sinalização foi feita pelo Ministério da Saúde no começo desta semana. Titular da pasta, o ministro Nelson Teich informou na segunda-feira (27) que o governo federal estuda a possibilidade de liberar a realização de jogos de futebol sem a presença de público nas arquibancadas. Na terça (28), o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, e o secretário geral, Walter Feldman, se reuniram através de vídeoconferência com os presidentes de todas as federações para tratar do recomeço gradual dos estaduais já a partir de 16 de maio. 

No entanto, em entrevista ao CORREIO, o presidente da Federação Bahiana de Futebol (FBF), Ricardo Lima, afirma que a retomada do Campeonato Baiano não é viável nesta data. Ele iniciou diálogo com os 10 clubes que disputam a primeira divisão do estadual e fará o mesmo com prefeituras e governo do estado.

O Campeonato Baiano foi interrompido na 7ª rodada da fase classificatória. O triunfo da Jacuipense contra o Vitória, por 1x0, foi o último jogo disputado, no dia 15 de março. Com 15 pontos, o Bahia é o líder isolado. Com apenas um, o Jacobina amarga a lanterna. Ainda restam duas rodadas da fase classificatória a serem disputadas. Os quatro primeiros colocados avançam às semifinais e o último colocado é rebaixado. 

Como foi a reunião com a CBF? O que ficou acordado entre a entidade e as federações sobre o retorno dos estaduais?

Não existiu um acordo; a CBF sugeriu. Ela está vendo que os prazos estão curtos. Vai soltar uma nota oficial, ficou de soltar hoje, liberando os treinos e sugerindo que as federações que pudessem reiniciar os seus estaduais a partir do dia 16 de maio já o fizessem. Iria lançar um protocolo de segurança para que pudesse ser cumprido e aí os clubes cumpririam isso para o reinicio das competições. Tudo isso no dia de hoje. Porém, existem algumas particularidades.

Qual é a realidade do Campeonato Baiano diante disso?

O nosso estado é totalmente favorável ao isolamento social. Isso gera um impacto grande pra gente e, no caso da Federação Bahiana de Futebol, eu expus que a data sugerida seria inviável pra gente, até porque nós temos decretos e outros decretos estão por vir. O que a gente vai fazer é o nosso papel. Vou pegar essas informações que a CBF vai publicar, vou adequar o protocolo de segurança à nossa realidade e vou conversar, tanto com o governo como com as prefeituras municipais onde nós temos praças esportivas para que nós tenhamos um consenso. Se é viável reiniciarmos com os portões fechados, a gente reinicia. Se não, continua do jeito que está.

É viável recomeçar o Baiano no dia 16 de maio?

Não é minha expectativa, diante de tudo que estou vendo no nosso estado, trabalhar com as datas de 16 e 17. Os campeonatos que têm seis datas, você utilizaria quartas e domingos. Aqueles que têm quatro datas, ficaria a critério. Ontem, depois da reunião eu já liguei para a maioria dos clubes e já informei a eles que nós não pretendemos trabalhar com essas datas. Eu solicitei reuniões com as esferas estaduais e municipais para que a gente possa ter um balizamento e aí sim dizer algo conclusivo. Eu estava aguardando realmente o start da CBF, que ela precisava liberar esse período de treinos, liberar o reinício das competições e ainda tem uma outra questão: tudo isso que foi tratado, eles estão aguardando o Ministério da Saúde soltar uma portaria revogando a anterior, pois quando era ainda o ministro (Luiz Henrique) Mandetta, ele fez uma portaria pedindo para que cancelassem as partidas de futebol, então eles vão ter que soltar uma nova permitindo.

A FBF já tem uma data que considera viável para o recomeço do Baiano?

Não, não penso ainda em uma data. E a questão da inviabilidade dos dias 16 e 17 (de maio) é por tudo que a gente vem mantendo contato com as demais secretarias. A gente sabe que não é possível. Eles têm dado feedbacks pra gente. Então, não tem a menor viabilidade de eu chegar para um clube e dizer "retorna amanhã, dia 2, e joga no dia 17". E o estado que está cheio de decreto? Como é que você negocia com os municípios em que temos praças esportivas? É inviável. Uma data para que a gente reinicie eu não vou ter para te dizer. Espero que eu consiga fazer isso até o final de maio, não sei, mas vou depender deles, que são autoridades e estão por dentro disso. Eles vão ter que me dizer "aqui você pode, eu vou liberar tal dia" e a gente vai juntar tudo e fazer com que o campeonato ocorra.

Alguns clubes do interior já sinalizaram que terão dificuldade para voltar a disputar o estadual principalmente por causa do fim do contrato de jogadores. Como fica isso?

A CBF exige um retorno dos estaduais e a gente vai ter que concluí-los dentro de campo. A gente sabe das dificuldades. Alguns têm muitas dificuldades, pois já desmancharam seus times, mas se você observar a grande maioria dos times da gente tem elencos. Nós temos Bahia, Vitória, três times na Série D (Atlético de Alagoinhas, Bahia de Feira e Vitória da Conquista), que vão cumprir o calendário, e temos um time na Série C (Jacuipense). O Fluminense está com seu elenco, então nós temos três times aí para tratar de forma diferente, que são Doce Mel, Jacobina e Juazeirense. Vamos ter dificuldade sim, pois o momento é difícil, mas não será algo absurdo como se está ventilando. Eles sabem do compromisso que nós temos e eu tenho dito a todos que o campeonato será reiniciado. Sabe por quê? Se a gente não reinicia esse campeonato, faz o que com ele? Anula? A gente passa a ter uma série de ações, volta ao mesmo processo que houve no campeonato de 1999, que até os dias de hoje tem ações contra a Federação Bahiana. Qualquer torcedor pode arguir qualquer coisa, solicitar valores de ingressos, pois foi para partida e não teve validade. Uma série de problemas. A gente vai ter que construir juntos o retorno do estadual. Não tem outra solução.

A FBF já pensou em alguma forma de ajudar Doce Mel, Jacobina e Juazeirense?

Não, ainda não se foi pensado. São considerações que a gente faz, inclusive de buscar os maiores clubes do estado, para que eles possam ajudar, a Federação ajudá-los também, mas a gente vai tratar excepcionalmente esses três clubes para encontrar uma solução para eles. E, às vezes, a gente tem que ser até um pouquinho sincero. A Juazeirense, acredito que venha ainda com um pouco de dificuldade, e os outros clubes não podem simplesmente olhar para si porque estão disputando rebaixamento e achar que não têm que voltar para a competição. A gente está atento a toda essa situação.

Os jogadores seriam testados para covid-19 antes dos jogos? Esse é um dos protocolos?

Isso está dentro de um dos protocolos. Estuda-se algumas maneiras de como isso acontecerá. Muitos jogadores ao retorno do treino já irão fazer seus testes, casos de Bahia, Vitória, Jacuipense. Os demais, como se faria? No protocolo da CBF está se estudando. Você pode fazer em toda a equipe e membros familiares ou fazer por amostragem. Essa informação eu não tenho de forma exata para dar, até porque nós ainda não recebemos esse protocolo.

Todos os jogos serão realizados com portões fechados?

A princípio, a orientação da CBF é de portões fechados e eu acredito que a portaria do Ministério da Saúde e também a orientação dos governos estaduais e municipais sejam de portões fechados. Não vejo outra possibilidade com aglomeração de público.

As partidas continuariam sendo às quartas e domingos ou estuda-se um formato mais rápido?

Eu preciso de seis datas (duas para a fase classificatória, duas para semifinais e duas para a final). Nós temos hoje, por força, as 66 horas de intervalo entre uma partida e outra. Como nós temos contrato com a TV, eu vou precisar ouvi-la e dizer qual a grade, qual o interesse, para que a gente possa montar uma grade bacana e entregar o que ainda não conseguiu entregar.

Como a Federação enxerga essa posição da CBF para a retomada dos estaduais? Dá para fazer de forma segura?

Veja só, é por isso que eu não estou reiniciando de imediato. Quem vai ter que me dar segurança são os órgãos competentes. Se eles me disserem que eu posso, eu posso. Agora, a decisão que ela tomou e da forma que eu enxergo, eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso seria necessário acontecer. Então, acho que o primeiro passo foi dado e agora cada um vai ter que ter cautela e tranquilidade para dialogar e saber se é possível o retorno ou não. Observe que, em Santa Catarina, com o protocolo de segurança todo pronto, reuniões com o governo anteriormente, no dia de ontem foi negado o retorno do estadual devido ao aumento dos casos de covid-19. Uma reunião dessa, ontem, e logo após a reunião tivemos a notícia de que batemos recorde de óbitos, então é uma tomada de decisão, cada um vai ter que tomar. Agora eu, aqui, enquanto Federação e presidente, vou tomar respaldado nos órgãos de segurança. Se disser não tem agora, não tem depois, não pode depois, eu não tenho o que fazer. Não posso assumir um risco simplesmente por conta do futebol.