'Não imaginei que fosse sério, até tomar um tapa', diz estudante após assalto

Escola em Cajazeiras foi assaltada nesta quinta; suspeitos fizeram buraco em muro

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  • Da Redação

Publicado em 28 de março de 2019 às 17:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Yasmin Garrido/CORREIO)

“Eu não imaginei que fosse coisa séria até tomar um tapa no braço, com muita força”. Foi assim que uma estudante de 16 anos do 3º ano do ensino médio descreveu como foram os momentos de pânico após três homens invadirem o Colégio Estadual Edvaldo Brandão, em Cajazeiras IV, para assaltar alunos e funcionários. 

O caso aconteceu no fim da manhã desta quinta-feira (28), quando o trio de encapuzados fez um buraco no muro do fundo da instituição. Segundo a polícia, pelo menos um deles estava armado.

A adolescente contou que estava assistindo a uma aula de Geografia quando os bandidos anunciaram o assalto. Segundo ela, apenas um deles estava com o rosto coberto e mandou que todos abaixassem a cabeça. Enquanto isso, um deles pegou a mochila de uma das alunas e começou a recolher os celulares de todos da sala. “Um dos assaltantes, o que parecia comandar o trio, era o mais violento e falava muitos palavrões. Todos eles estavam armados. Eles assaltaram todo o corredor do terceiro ano. Quando eles foram embora, os alunos saíram correndo da escola pedindo ajuda. Muitos colegas passaram mal de nervoso”, disse a jovem. A mãe da estudante, que também não quis se identificar, disse que está desesperada. “É a segunda vez que o colégio é assaltado desde que minha filha começou a estudar lá, há três anos. E, quando ela não está em casa, está na escola. A gente acha que esses vão ser os dois lugares mais seguros para nossos filhos, mas a verdade é que estamos vulneráveis e somos reféns da violência em qualquer circunstância”, desabafou. 

Outra aluna, também de 16 anos, contou que um dos suspeitos, que estava na porta, usava uma camisa para cobrir o rosto. Deixava apenas os olhos aparecendo, enquanto os outros pediram que a turma abaixasse a cabeça. 

“São cinco turmas de 3ª ano no meu corredor e a minha sala foi a primeira a ser invadida. Eles saíram de lá e foram para a segunda. A última conseguiu fugir, então eles assaltaram quatro salas”, explicou a garota. Segundo ela, um dos colegas reconheceu um dos suspeitos. Esse estudante ainda deve prestar depoimento. 

Quando os bandidos deixaram a sala, o professor fechou a porta. Pediu que os alunos tivessem calma.“A gente rezou e depois ele falou para sairmos correndo. Eu larguei mochila e tudo na sala. Não pensei em nada, só em sair de lá. Eu estudo lá há dois anos, no turno matutino. Ano passado, eu soube que teve outros dois assaltos, mas foi à tarde, então eu não fui vítima”, disse ela ainda com as mãos trêmulas e os olhos cheios d’água. Ainda de acordo com a estudante, a escola é muito grande e só tem um portão de entrada. O trio fugiu pelo mesmo buraco por onde entrou. “Foi tudo planejado. A gente não tem muita segurança lá: apenas um homem que cuida de toda a escola”, completou a estudante.  Assaltantes fizeram um buraco no muro da escola (Foto: Reprodução) A mãe dela contou ao CORREIO que os pais e funcionários estão preparando uma manifestação nesta sexta-feira (29) para pedir a atenção do estado na segurança deste e de outros colégios da região. 

“Ainda não sabemos o horário, mas vamos pedir segurança aos nossos filhos. Imagine o meu desespero quando recebi a ligação dizendo que a escola de minha filha tinha sido invadida por homens armados. Eu só pensei que tinha acontecido alguma coisa com ela”, disse, fazendo referência ao massacre de Suzano (São Paulo).

Terceira vez De acordo com um comerciante que não quis se identificar, essa é a terceira vez que a escola é assaltada. “No momento da invasão (desta quinta), como os homens estavam armados, os alunos saíram correndo pedindo ajuda aos moradores e comércio da rua. Eles estavam assustados”, completou. 

Segundo informações da 13ª Delegacia (Cajazeiras), que investiga o caso, os suspeitos levaram celulares de alunos e funcionários. Um policial da unidade contou que, em um dos roubos anteriores, os suspeitos armaram uma estrutura de madeira e conseguiram pular o muro, que é muito alto. Desta vez, eles fizeram um buraco e entraram pelos fundos do colégio.

De acordo com o investigador da Polícia Civil responsável pelo caso, Washington Luiz Costa, ainda não se sabe se a escola dispõe de câmeras de segurança ativas, que tenham registrado o momento do assalto. “A gente já intimou a direção do colégio e eles vão prestar depoimentos ainda nesta quinta-feira”, afirmou. Segundo ele, equipes da polícia estiveram no local de manhã e agora à tarde.

Dono de um estabelecimento na rua do colégio, ele disse que todas as lojas e bares da região têm grades, por conta da insegurança. "Todos os dias, homens de moto fazem arrastão nos pontos de ônibus da região”, contou um comerciante que não quis se identificar.

Investigação O investigador Washington Luiz afirmou que a linha de investigação vai contar com a ajuda da tecnologia, uma vez que todos os aparelhos roubados dispõem de um código IMEI, que identifica o equipamento, além de fazer o rastreio.”A gente tem hoje um sistema que funciona como um banco de dados da polícia. Então, se prendermos alguém, temos como visualizar se o celular dele é ou não produto de roubo”, disse.

O policial adiantou ao CORREIO que, há três anos, a mesma escola foi assaltada, também por três homens, sendo um menor de idade. “Um deles era ex-aluno do colégio. E a gente vai investigar se o crime desta quinta-feira aconteceu com as mesmas características. Alguns alunos conseguiram fazer vídeo dos suspeitos e, pelo menos, dois deles aparecem nitidamente nas imagens”, declarou.

A direção da escola vai ser chamada a prestar depoimento e a investigação está em curso. Uma equipe da perícia esteve por duas vezes na escola, nesta quinta. “A gente tem certeza que esse crime vai ser elucidado e nós vamos dar esse retorno positivo aos alunos e aos pais”, concluiu. A delegada responsável pelo caso é Quitéria Maria, titular da 13ª DT de Cajazeiras.

Policiamento reforçado Em nota, a Secretaria da Educação do Estado (SEC) informou que não houve tiroteio dentro da instituição. Logo após a entrada dos suspeitos, a direção da escola acionou a PM, a Ronda Escolar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para atender os estudantes. “Uma equipe da Secretaria se dirigiu à escola para acompanhar o caso e uma reunião será realizada com o comando da Ronda Escolar para definir o reforço da segurança no entorno do colégio”, completou o órgão, através da assessoria. Além disso, a coordenação de infraestrutura da SEC foi encaminhada à escola para verificar o buraco feito pelos assaltantes e fechar o muro. 

Segundo o Departamento de Comunicação Social (DCS) da PM, a 3ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Cajazeiras) e a Operação Escolar foram acionadas para atender a ocorrência. Os policiais chegaram a fazer buscas em um matagal que fica atrás do colégio, mas ninguém foi localizado. 

A PM informou, ainda, que o policiamento será reforçado na região. A corporação afirmou que “3ª CIPM já realiza rondas e abordagens preventivas, inclusive com PMs a pé no entorno da escola, além de contar com a constante presença de viaturas da Ronda Escolar”.

*Sob supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier