'Não mato bicho nenhum. Só barata', diz moradora que há 18 anos alimenta macacos em Brotas

A funcionária pública Karina Muniz alerta que os macacos não são transmissores da febre amarela

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  • Saulo Miguez

Publicado em 8 de abril de 2017 às 07:00

- Atualizado há um ano

Moradora do Engenho Velho de Brotas há mais de 18 anos, a pernambucana Karina Muniz, 40 anos, quer pôr fim à desinformação que vem colocando em risco a vida dos macacos em Salvador, desde que foi encontrado o primeiro primata com diagnóstico de febre amarela na capital baiana, há pouco mais de um mês. Desde então, mais de 30 macacos já foram apreendidos vivos e 80 corpos recuperados em cerca de dez áreas da capital baiana.

A servidora pública vive com a mãe, Sônia Maria Muniz, 65,  e conta que desde que se mudou para a região de Brotas, passou a conviver com os micos. “A gente cuida deles desde 1998. Passamos a dar frutas, principalmente bananas e mamão, e eles foram chegando. Hoje, vêm famílias inteiras e eles sempre chegam de manhã e de tarde”, diz.

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)O amor pelos animais é uma herança familiar que nasceu no Agreste pernambucano: “Minha avó, lá em Caruaru, já alimentava os animais que viviam soltos na natureza. Eram muitos passarinhos, macacos, então eu cresci com esse costume. Aprendi com ela”, diz. 

Praticamente membros da família, os micos que frequentam a residência Muniz são sempre muito educados. "Eles nunca chegam aqui para roubar comida. Os macaquinhos chegam na casa chamando a gente e só comem quando servimos", diz uma bem humorada Karina. Bons baianos, os micos apreciam os dias mais quentes do ano. "Às vezes, eles ficam tomando Sol aqui na varanda e quando está chovendo só vêm tomar o café da manhã e depois somem".

O respeito de Karina com os animais não se limita aos primatas. Ela ainda alimenta passarinhos e por muito tempo criou cachorros. “A gente gosta muito dos animais e eu não mato bicho nenhum - pausa dramática - Só barata”.

A moradora do Engenho Velho aproveita para contar uma história de quando a sua mãe, dona Sônia, ficou furiosa com um garoto que tentou derrubar um mico do poste. "O menino jogou um pneu no fio para tentar derrubar o macaquinho. Minha mãe viu e ficou retada e mandou ele nunca mais fazer aquilo. O menino perguntou se os micos eram dela e ela disse que sim, que tudo ali era dela".

Tamanha é a relação de fraternidade entre a família Muniz e os macacos que o rango deles está no orçamento da casa. “Nós já fazemos as compras pensando neles. Na lista vai mamão, banana e bolacha, que eles também adoram. É um gasto que vale a pena porque ninguém morre por causa de seis bananas e um mamão, então dá para alimentar eles sem quebrar a firma”, diz.

Sobre o medo que vem se instalando em parte da população de contrair a doença pelos primatas, Karina acredita que a desinformação é o principal responsável. “As pessoas entram em pânico e não procuram nem saber o que transmite a doença, saem atirando para todo lado”.

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)Quando apareceram os primeiros animais mortos pelo vírus da febre amarela, Catarina disse que ficou mais preocupada com os animais do que com ela própria. “Fiquei com medo d'eles se contaminarem e morrerem, a preocupação foi muito mais com os macacos do que comigo, porque sei que eles não transmitem o vírus”.

Ela lembra que os macacos funcionam como sentinelas, alertando sobre a presença do vírus. "Os macacos são nossos aliados. Eles estão aqui para nos ajudar. As pessoas devem sim se preocupar em combater os focos de insetos que transmitem a febre amarela e outras doenças". Karina diz que irá lançar nas redes sociais a campanha Macaquinho Amigo, para tentar conscientizar as pessoas.

Nas últimas semanas, ela diz ter sentido que os animais estão mais assustados do que o de costume. "Percebi que agora com qualquer zuadinha eles já saem correndo, sobem nas árvores. Estão assustados, mas aqui na minha casa eles sabem que ninguém fará mal a eles", diz. Karina conta ainda que por nunca ter feito mal aos macacos também jamais sofreu qualquer tipo de ataque. "O animal só retribui aquilo que você dar para ele", completa.