'Não pode faltar cachaça e nem ligar pra ex': como sobrevivi a 10h de arrocha

Repórter do CORREIO conta o que viu no Maior Show de Arrocha do Mundo

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  • Rafaela Fleur

Publicado em 12 de agosto de 2018 às 15:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

A presença dele nas trilhas sonoras é indispensável em qualquer festa soteropolitana que se preze. Se o evento for digno, anote aí: vai ter arrocha. Esse é o primeiro fato. A segunda convicção é que todo arrochadeiro de valor, ardentemente apaixonado pelo ritmo, compareceu, na noite desse sábado (11), ao Maior Show de Arrocha do Mundo, no Parque de Exposições. E aguentou, com facilidade, dez horas de pura sofrência.

Por volta de 19h, o cantor Aldair Playboy abriu a noite. A segunda atração a subir ao palco foi o cantor Zezo, seguido de Unha Pintada. Pablo veio logo depois. Além deles, Tayrone, Kevi Jonny, Silvanno Salles e Huguin, que fechou a noite (que já era dia) também se apresentaram.

Eu, que estava lá com a missão ilustre de cobrir/reportar o evento, descobri, logo na entrada, que se tratava de uma festa nobre. Entre as mulheres, quase não se via sinal de tênis. Era na base dos 10 cm de salto alto e das roupas suntuosas que elas, graciosamente, desfilavam. Quase todas, maquiadíssimas. Já os homens, pareciam ter selecionado a dedo o look da noite. Elegância pura. Não podemos esquecer, também, de dar os créditos para os perfumes - esses aí, exalavam.

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Bem perto do palco, na área mais cara, onde os ingressos chegavam a R$ 290, Renan Reis, 19 anos, e Marcílio Lopes, 18, ostentavam uma garrafa de uísque. E não estavam segurando na mão, viu? Tinha mesa, baldinhos de gelo e energéticos para acompanhar. Pra eles, só com muita cachaça pra aguentar o tranco.

“Eu sou apaixonado pra caramba por arrocha. Hoje é só amanhã. Quando o sol nascer, eu vou parar de beber. Você pode me procurar, minha filha, vai me ver aqui no chão, deitado, acabado”, revelou Renan, que é técnico em refrigeração. Os amigos Marcílio e Renan (Foto: Rafaela Fleur/CORREIO) Notei que suas unhas estavam pintadas de preto e perguntei, curiosa, se isso tinha algum motivo específico. E tinha. A produção caprichada foi para homenagear o artista Unha Pintada, que, segundo ele, é um mito do arrocha. 

Já Marcílio não tinha muito interesse pelas músicas. O que vier, afirmou ele, “tá valendo”. Tinha, porém, duas preocupações colossais. “Não pode faltar bebida, não, que isso! E também não pode ligar pra ex, pelo amor de Deus…” comentou. Estaria ele, então, apaixonado? “Que nada! Não vim pra pegar ninguém, mas se aparecer, né?! Se pintar, a gente vai e traça”, revelou ele, perguntando se eu aceitava uma dose de uísque. Recusei. 

Lá pelas 20h, os palcos ainda estavam sob o domínio de Aldair Playboy, primeiro artista da noite. Dono do hit Amor Falso (se você não reconhece pelo nome, jogue no YouTube. Tenho certeza que, nos primeiros 15 segundos, vai identificar a canção) o rapaz de 21 anos arrancou gritos apaixonados do público. 

Entre as que se esguelavam estava a autônoma Jucilene Cardoso. Notei que a maquiagem ainda estava intacta e perguntei se ela havia chegado há pouco tempo. “Menina, eu cheguei agorinha! Vim de metrô, fiz essa burrice, me atrapalhei, nem pensei direito”, comentou a jovem de 23 anos que mora no Subúrbio Ferroviário. Porém, apesar do atraso, ela chegou a tempo de ver seu ídolo maior, o cantor Zezo. “Eu sou looooouca por esse homem. Só vim pra ver ele. Ainda bem que ainda não cantou”, comemorou.  Jucilene Cardoso é fã do cantor Zezo (Foto: Rafaela Fleur/CORREIO) No Maior Show de Arrocha do Mundo, outra coisa que notei é que não havia isso de faixa etária. Haviam muitas - muitas mesmo - pessoas mais velhas esbanjando gingado e animação. A aposentada Lili Martins, por exemplo, era puro molejo. Aos 57 anos, não parava de dançar e ainda equilibrava um copinho de cerveja entre os movimentos.

Talvez por isso, seu único incômodo era com o calor. “Tá muito quente, tô derretendo! O calor tá demais, mas, fora isso, tô adorando”, pontuou ela, que é fascinada pelo cantor Tayrone, antigo Cigano.  A aposentada Lili Martins estava ansiosa para ver o showman Tayrone (Foto: Rafaela Fleur/CORREIO) E por falar em fascínio, não faltavam, também, caravanas de fãs-clubes. Com direito a camisa personalizada e tudo. Josiane Oliveira, 30, faz parte do fã-clube Pablo Um Novo Passo, que tem gente do Brasil inteiro. O objetivo, claro, é venerar ao máximo um dos maiores ícones do arrocha.

“Sou fã dele há mais de seis anos. vou em todos os shows. Tem que ir, né? Já encontrei com ele pessoalmente várias vezes, mas sempre sinto aquele frio na barriga”, confessou. Josiane Oliveira é, literalmente, fã de carteirinha de Pablo (Foto: Rafaela Fleur/CORREIO) Lá pelas 2h, com Pablo saindo e Tayrone prestes a subir ao palco, cedi ao cansaço e resolvi ir embora, devendo três longas horas de malemolência. Enquanto andava em direção à saída, percebi que caminhava quase sozinha, exceto pelos vendedores das barraquinhas de comida. Nem sinal de gente querendo ir embora. Nem um par de pés descalços despedindo-se da diversão. Zero vestígios de fim de festa.

Lembrei, imediatamente, do que Renan, meu primeiro entrevistado, me disse logo no início da festa: “hoje é só amanhã”. Ponto pra ele. Saí do Parque de Exposições em completa solidão.