Não se reprima! Há 35 anos, Menudos pararam Salvador

Grupo de adolescentes porto-riquenho passou quatro dias em Salvador e levou fãs à loucura

Publicado em 15 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Faltou espaço em frente ao Hotel da Bahia, no Campo Grande, para quem quis ir se despedir dos Menudos (Foto: Carlos Catela/Arquivo CORREIO) Você, jovem nos anos 1980, não se reprima! Se você estava nessa foto, em março de 1985, por favor, se manifeste. Não era Carnaval, nem procissão, nem Mudança do Garcia, nem saída de time de futebol para a Fonte Nova. Tinha gente chorando, gritando, pulando e até desmaiando: é que os Menudos, que tinham feito dois shows em Salvador – um na Fonte Nova, outro no Shopping Itaigara – estavam indo embora a bordo de um micro-ônibus da Itaparica Turismo. A segurança para a passagem do grupo de porto-riquenhos pela capital baiana, que durou quatro dias, contou com 1,3 mil policiais militares – 10% do efetivo para o Carnaval de 2020, só para se ter uma ideia.

O show do grupo em Salvador foi um acontecimento daqueles. O CORREIO dedicou mais de dez páginas à cobertura, entre os dias 2 e 5 de março de 1985. Mas, o espetáculo não foi só na mídia. Na chegada, Ricky, Ray, Roy, Robby e Charlie desfilaram num micro-ônibus pela Paralela, Magalhães Neto, Manoel Dias, Rua Pernambuco, Avenida ACM, Itaigara, Juracy Magalhães, Garibaldi, Vale Universitário (hoje, Vale do Canela) e Campo Grande, até chegarem ao Hotel da Bahia, onde ficaram hospedados.

O espetáculo foi produzido, à época, pelo Shopping Itaigara, que organizou também um lanche entre os integrantes do grupo e 15 diretores do Fã Clube, com direito a show no terraço do estabelecimento. A emoção foi tão grande que teve gente que desmaiou e precisou sair do lugar carregado por policiais.

Na edição do dia 2 de março de 1985, o CORREIO mostrou o clima da cidade para receber o grupo e deu o tom, inclusive, do que se falava sobre o fenômeno chamado ‘Menudomania’:“Os cinco adolescentes porto-riquenhos provocam, em todo o País, um autêntico mar de admiração, hoje conhecido como menudomania, provocando muitas contestações. Pichações, inclusive, alertam contra os males que a dança do grupo provoca, a exemplo da paralisia infantil e outros problemas idênticos. Mesmo assim, o movimento de procura de camisetas, cadernos escolares, adesivos e botões com inscrições e fotos dos componentes do grupo vem crescendo cada vez mais”, dizia um trecho da reportagem.Os ingressos para o show na Fonte Nova, por exemplo, variaram de Cr$ 12 mil a Cr$ 45 mil, mas ou souvenires do grupo, vendidos nas imediações do estádio, chegavam a Cr$ 200 mil. Também na edição do dia 2 de março, o jornalista e publicitário Jolivaldo Freitas escreveu no CORREIO sobre a Menudomania, chamando-a de ‘Terceira Onda’ – depois do rock e do jazz. Fã do grupo Menudo desmaiou durante sessão de autógrafos em março de 1985 (Foto: Carlos Catela/Arquivo CORREIO) De um tudo Os fãs – chamados de ‘menudetes’ – lotaram a Fonte Nova e chagaram cedo para o show daquele 2 de março. Veio gente do interior do estado, teve quem faltasse uma semana de aula em Ribeira do Pombal – mesmo diante dos protestos da mãe para que voltasse. Teve quem não se importassem com uma gripe e a febre de Roy, que se despedia do grupo ali.

Mas, talvez o caso mais emblemático tenha sido o da estudante Akadja Cybelle Ladeia, 16 anos, que, na tentativa de encontrar um lugar melhor para ver o show, caiu e quebrou o pé.“Chorando e contrariada, foi levada na ambulância do AME [Atendimento Metropolitano de Emergência, talvez um precursor do Samu] para o Cot do Canela, sem esperanças de poder voltar. Deu sorte: o médico tirou a radiografia, constatou a fratura, engessou o pé de Akadja e permitiu que ela retornasse à Fonte Nova. Com pena da garota, o motorista a deixou no estádio e ela acabou assistindo todo o show sentada bem em frente ao palco, no lugar mais caro, embora tenha pago apenas Cr$ 30 mil. ‘É o dia mais feliz da minha vida’, disse batendo de leve a mão na perna", dizia outra trecho de reportagem publicada em 4 de março. Show na Fonte Nova reuniu crianças, adolescentes e até adultos, que não seguraram o rebolado; ingressos custavam de Cr$ 12 mil a Cr$ 45 mil (Foto: José Carlos Ximbica/Arquivo CORREIO) Gripe ‘menudo’ Em tempos de coronavírus, é bom dizer que Roy, um dos integrantes do grupo, teve uma gripe forte, com direito a tosse e febre bem no dia da sessão de autógrafos com café da manhã tropical e show no terraço do Itaigara. A gripe foi logo batizada de ‘menudo’ – não seria a Bahia se a virose não tivesse um nome inventado aqui. E Roy não foi.

Mesmo assim, as menudetes lotaram o saguão do Hotel da Bahia no dia da despedida. Teve café da manhã de homenagem oferecido por membros da ‘alta sociedade’ e até quem pagasse diárias no hotel de luxo para ficar mais perto dos ídolos. Nem bem os rapazes saíram do elevador do hotel para então deixar Salvador, um grupo furou o bloqueio de mais de 300 policiais militares do Batalhão de Choque e voou sobre o jovem, pouco importando com a gripe, o resfriado, os sintomas de ‘menudo’ do artista.

Na época, os policiais que atuaram na segurança do grupo contaram que aquela foi a tarefa mais difícil já recebida:"Proteger Roberto Carlos e a Rainha Elizabeth foi muito mais fácil", disse um tenente do 'batalhão de elite' da Polícia Militar. Menudetes não se intimidaram com cerco policial e furaram bloqueio no Hotel da Bahia para ficar mais perto dos ídolos (Foto: Carlos Catela/Arquivo CORREIO) Dali, seguiram num micro-ônibus da Itaparica Turismo para um passeio de escuna pela Baía de Todos-os-Santos, depois foram recepcionados no Palácio de Ondina pela primeira-dama do Estado, dona Yeda Carneiro, e então seguiram para o Aeroporto de Salvador, onde embarcaram para o próximo show, em Goiânia (GO).