Não tem coisa mais bonita do que uma mulher que goza

Flavia é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 18 de março de 2018 às 13:50

- Atualizado há um ano

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Tô me sentindo um pouco como se postando receita de bolo enquanto a minha casa pega fogo, claro. E (acho que) não preciso explicar o que chamo de incêndio. Mas é que ontem, antes de dormir, acabei assistindo a esse videoclipe aqui (Vâ lá ver e volte, se puder).

Assisti outra vez e mais uma. Eba! Eu tava rindo (bastante) enfim. Primeiro porque a música é divertida e as caras que as mulheres fazem, maravilhosas. Depois, porque entrei num daqueles momentos em que a gente desproblematiza muito uma coisa e até a palavra "masturbação" me pareceu pomposa demais pra um troço tão bobo, tão bom, tão evidentemente natural.

Que ridículos podemos ser, né não? Inacreditavelmente, há convenções entre sua periquita e suas mãos. E a mentira de que mocinhas não se masturbam e homens que acham horrível que a gente dê "uma ajudinha" mesmo na presença do pinto (que nem sempre é suficiente, ainda que esteja bom). A caretice humana é uma fonte inesgotável de tédio, inclusive sexual.

Felizmente, há os encontros com amigas e muita gaiatice entre nós, como naquela vez em que discutimos se usar a duchinha para estimular o clitóris seria antiecológico, em tempos de crise hídrica. "Penso nos rios e não gozo", alguém disse. Quase morremos de rir e falar de sexo devia ser sempre assim. Não era pra ser nosso parque de diversões? Então.

Enfim, talvez não seja postar "receita de bolo enquanto a minha casa pega fogo". É que, no começo, eu queria  apenas mostrar a música pra vocês e comemorar o fato de termos vulvas e mãos. Só que tem essa letra  dizendo "não tem coisa mais bonita nem coisa mais poderosa do que uma mulher que brilha, do que uma mulher que goza" e levantando outras questões. 

Flaira Ferro tá toda certa, do começo ao fim. E o único homem que já me falou algo que passasse perto da compreensão do que ela disse foi um amigo meu que concluiu, por observação:"orgasmo de homem leva energia e o de mulher faz exatamente o contrário". Sim. E de várias formas.

Eu não sei se é biológico ou ganhou um sentido profundo por todas as sacanagens sociais, mas orgasmo feminino tem poder sim. E mais do que gozar ou não no sexo com outras pessoas (porque aí entram mais coisas no jogo), muda tudo a gente saber se tocar. E fazer isso com naturalidade e frequência, assim como escovamos os dentes, bastando pra isso querer. Exatamente: é pra ser cotidiano e banal. Porque é!

(Fora que saber os seus caminhos ajuda na hora do(a) outro(a) encontrar)

Primeiro porque é divertido e não tem qualquer contraindicação. Pelo contrário,  ajuda num monte de coisas, inclusive a amenizar cólica menstrual. Depois, é uma apropriação do que é nosso. O seu corpo sendo seu, do seu jeito e dando prazer a quem primeiro deve ter: você! O que AINDA é necessário racionalizar. Experimente entender mesmo que é dona do seu corpo, que ele não tem nenhum outro senhor. Que ele é apenas seu. Todo. Todinho. Dentro e fora. Da cabeça aos pés. Isso ainda é revolucionário.

E se não for por nada disso, tem uma questão prática: na era das relações frágeis, no tempo das neuras sexuais, é bom se garantir. Aprender a se divertir (mesmo!) sozinha, evita a gente se gastar em viagens erradas por pura carência de prazer. Fora isso, inunda corpo e alma de boas energias, nos deixa mais belas e fortalece a autoestima, esse sentimento querido sem o qual a gente se lasca toda em qualquer relação por aí.

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