‘Não vai dar em nada’, diz Rute Fiúza sobre julgamento de PMs por juízes militares

TJ-BA enviou processo contra PMs acusados de sequestro para justiça militar

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 20:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Rute Fiúza, mãe de adolescente desaparecido, ainda tem esperança de que PMs sejam punidos (Foto: Betto Jr./CORREIO)  Quatro anos após uma luta incansável por justiça, para que os responsáveis pelo desaparecimento do seu filho sejam finalmente julgados, Rute Fiúza estava esmorecida com a própria Justiça. Na manhã desta quarta-feira (19), a mãe de Davi Santos Fiúza deixou o Ministério Público Estadual (MP-BA) desolada, ao buscar informações sobre as chances de reverter a decisão do Tribunal de Justiça do Bahia (TJ-BA), que determinou que os sete policiais militares serão julgados pela Justiça Militar no dia 12.

Com a decisão da juíza Ailze Botelho Almeida Rodrigues, o processo e todos os documentos relacionados ao caso, que tramitavam no TJ-BA, serão remetidos para a Justiça Militar. A juíza baseou sua decisão na Lei 13.491/17, de outubro de 2017, segundo a qual todos os crimes cometidos por policiais militares devem ser julgados pela Justiça Militar, com exceção de homicídios, que continuam na justiça comum.“É óbvio que não vai dar em nada. Ao invés de irem a júri popular, serão beneficiados pelo corporativismo, porque, dos cinco juízes que irão decidir, quatro são militares. É um retrocesso. Infelizmente, esse é o Estado que temos”, declarou Rute Fiúza, ao saber que promotores Ana Rita Nascimento e Gildásio Galrão não poderão recorrer do caso.“Os promotores não mais poderão atuar porque não é mais da competência da vara deles”, explicou o advogado, e até então assistente de acusação junto ao MP-BA, Paulo Kleber Carvalho Filho. Ele disse que vai até a Justiça Militar para saber quem é agora o promotor do caso, e se este irá ou não recorrer da decisão da juíza.

“Mas, independentemente de qualquer coisa, não tenho como desistir. Não tenho como voltar atrás. É uma questão de sobrevivência. Vou em busca de justiça. Vou até o fim. O Estado tem culpa, o Estado foi quem sequestrou, tirou Davi de nosso convívio, interrompeu os sonhos dele. Então, o Estado é responsável por ele”, declarou novamente a mãe do jovem.

[[publicidade]]

No último dia 10, o MP-BA denunciou os policiais pelo sequestro e cárcere privado de Davi Santos Fiúza, 16 anos, nunca mais visto desde 24 de outubro de 2014, durante uma operação da Polícia Militar no bairro de São Cristóvão, em Salvador.

Os denunciados são: Moacir Amaral Santiago, Joseval Queiros da Silva, Genaro Coutinho da Silva, Tamires dos Santos Sobreira, Sidnei de Araújo dos Humildes, George Humberto da Silva Moreira e Ednei da Silva Simões. Eles são acusados de cometer os crimes de sequestro e cárcere privado (artigo 148, parágrafo 1º, incisos III e IV, combinado com os artigos 29 e 61, inciso II, letra g, do Código Penal). Davi Fiúza tinha 16 anos quando desapareceu (Foto: Reprodução) Relembre uma cronologia do caso: 24 de outubro de 2014 - Davi Fiúza, 16, desaparece durante uma operação final para obtenção do diploma de soldado. Ele foi abordado na Rua São Jorge, na localidade de Vila Verde. Uma testemunha viu quando o levaram num carro.  27 de outubro de 2014 - A madrasta do garoto, Jucimaria de Jesus, vai até uma delegacia de bairro e registra o fato 7 de novembro de 2014 - Família vai à Corregedoria da PM e ao MP-BA 10 de novembro de 2014 - PM confirma que as apurações sobre "um suposto envolvimento de policiais militares" está sendo conduzida pela Corregedoria Geral da Corporação 11 de novembro de 2014 - A PM divulga nota com o título "Corregedoria da PM continua apurando o desaparecimento de Davi Fiuza" e Rute, mãe de Davi, foi ouvida por deputados da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia e procurou a Secretaria da Justiça e Direitos Humanos para entrar no programa de proteção a testemunhas.  15 de novembro de 2014 - A  Corregedoria da PM, que também iniciou uma investigação, informa através de nota não ter encontrado indícios da participação de policiais no desaparecimento 18 de novembro de 2014 - A família do adolescente é ouvida pelos vereadores da Comissão de Defesa da Criança e Do Adolescente na Câmara Municipal de Salvador 19 de novembro de 2014 - Rute Fiúza, mãe de Davi, é ouvida no Ministério Público da Bahia, em Nazaré. 20 de abril de 2016 - veio à tona que DHPP indicou 23 PMs por homicídio, ocultação de cadáver e formação de quadrilha 06 do de agosto  de 2018 - o DHPP indiciou 17 PMs por homicídio qualificado  10 de setembro de 2018 - Ministério Público da Bahia denuncia 7 PMs por sequestro e cárcere privado.