Negar piso à enfermagem é voltar à escravidão

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Publicado em 21 de dezembro de 2021 às 05:10

- Atualizado há 10 meses

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O ano de 1888 foi marcado pela abolição da escravatura no Brasil. Após quase meio século, assistimos hoje o poder econômico comprimir a remuneração salarial dos trabalhadores da saúde, obrigando-os a submeterem-se a cargas de trabalho sobre-humanas, ocupando múltiplos vínculos empregatícios.

O esmagamento salarial dos profissionais de saúde - a enfermagem é apenas a ponta do iceberg - aos poucos faz nascer uma camada de profissionais escravizados.

Semelhante ao que ocorreu no período abolicionista, temos visto empresários e gestores (da saúde) sinalizarem a desestabilização econômica do sistema de saúde, público e suplementar, pela iminente perspectiva de garantia de um piso salarial que ofereça dignidade à profissão dos enfermeiros, técnicos e auxiliares. É impressionante como o mesmo discurso usado no Século XIX pelos escravistas contra a abolição se faça repetir nos dias atuais. 

Indiferentes às demandas por melhor remuneração e valorização profissional, oito entidades de classe privadas que prestam serviços de saúde enviaram ofício ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para não colocar em votação o projeto de lei 2564/20, de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que estabelece um piso salarial nacional para a categoria.

Não se pode querer segurar os crescentes custos da Saúde, às expensas da exploração de uma categoria profissional. É fundamental que o sistema se adapte para absorver esse realinhamento salarial, assim como faz, regularmente, com os materiais, medicamentos, órteses e próteses. 

No fim da linha, temos pais e mães de famílias, que se qualificaram tecnicamente durante anos e que, para muitos de nós, serão os últimos a segurarem nossas mãos nesse mundo.

 Fábio Vilas-Boas é cardiologista e ex-secretário estadual da Saúde.