Negócios sociais melhoram a realidade das cidades

Oficina ensinou aos baianos como criar iniciativas na área

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 9 de agosto de 2018 às 11:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Arisson Marinho/CORREIO

Qual a responsabilidade das empresas privadas na solução de problemas sociais? Em tese, nenhuma. Mas, na visão de Tulio Notini, que ministrou a oficina Yunus: A Transformação das Cidades pelos Negócios, no seminário Sustentabilidade do Agora, nesta quarta-feira, 8, no Fórum Agenda Bahia 2018, a própria sobrevivência dessas empresas (e da humanidade) depende do fim desses problemas. Ou seja, se uma empresa quer revolucionar e ter uma vida longa, ela precisa ser um negócio social.

Essa ideia, criada a partir de cases pesquisados pela Yunus Negócios Sociais, foi testada na prática no Agenda Bahia em um exercício que envolveu a plateia na criação de empresas fictícias. Cada uma das empresas, formadas por grupos diferentes e heterogêneos, identificou problemas nas comunidades em que atuam e buscou soluções para estes problemas. O primeiro passo que deve ser dado para que isso ocorra é “olhar para fora dos muros das empresas em que se trabalha”, disse Tulio Notini.

Não importa o tamanho da empresa. Qualquer uma delas, por maior ou menor que seja, pode não só fazer a diferença nas comunidades em que estão inseridas como podem também resolver diretamente os problemas dessas comunidades. Ao observar com atenção esses problemas, as empresas podem se tornar agentes transformadores. “Negócios são excelentes formas de resolver problemas. É preciso apaixonar-se pelo problema antes de criar suas soluções”, disse Túlio.

Um dos cases divulgado pela Yunus é da gigante Danone, que junto com a Grameen criou um negócio social em 2006 para reduzir os índices de desnutrição em Bangladesh, cuja a população tinha 56% das crianças com menos de 5 anos sofrendo de desnutrição moderada ou grave. A missão do negócio social foi criar um iogurte enriquecido com vitaminas e minerais, que, ingerido duas vezes por semana ao longo de um ano, pode tirar uma pessoa da desnutrição.      

Método

Com tabelas, organogramas e desenhos, a Yunus apresentou um método para que uma empresa faça como a Danone e transforme seu negócio em um negócio social. “O formato que a gente chegou hoje foi criado a partir de cases que a gente criou empiricamente. Fomos testando. Este é um dos métodos, mas existem outros que estamos continuamente testando e aprimorando. É muito do fazer mesmo. Primeiro a gente faz e depois teoriza”. Tulio Notini apresentou método da Yunus para criação de negócios sociais A partir do método da Yunus, as empresas fictícias criadas pela plateia apontaram soluções para diversos tipos de problemas. Desenvolvido em diferentes etapas, o método parte de um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas, que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030. Cada grupo escolhia um dos ODS e, a partir das possibilidades de cada empresa, pensava em soluções.

“Criamos uma montadora de veículos e pegamos como ODS o controle das mudanças climáticas. Nas discussões, entendemos que a nossa montadora era responsável por produzir muito lixo”, afirmou a funcionária pública Rafaela Rodrigues, integrante de uma das “empresas”. Estava posto o problema. Aí então era preciso pensar em uma solução.   

“Criamos um conceito de logística reversa. O ferro velho das peças, os pneus velhos e o óleo produzido por nós voltariam para a empresa e ela daria um destino sustentável a esse material”, disse Rafaela. Em muitos momentos, a oficina de Negócios Sociais era tomada pelo burburinho. É que na lógica que ainda reina por aqui, esses novos conceitos precisam ser digeridos.

Conceito novo

Muitas vezes, a plateia se viu sem entender o que era proposto. “Esse conceito ainda é novo no Brasil. Começamos agora a criar negócios sociais por aqui. Fomos entendendo as necessidades e vendo o que funcionava. As empresas brasileiras ainda estão entendendo como isso funciona”, afirmou Tulio Notini.

A Oficina de Negócios Sociais se insere justamente no conceito de cidade resiliente. Em 2017, Salvador foi a terceira cidade brasileira a ingressar na rede 100 Cidades Resilientes (100RC). Porto Alegre e Rio de Janeiro já faziam parte da iniciativa, que foi criada em 2014. A ação visa mapear os problemas e desafios da cidades e criar estratégias para solucioná-las. As empresas, claro, estão inseridas neste contexto.

“O olhar de resolução de problemas que a gente traz é muito para preparar uma realidade melhor. Se a gente tá falando de cidade resiliente, a gente tá falando de uma humanidade melhor, de cidades preparadas, de olhar para a mobilidade, para a saúde e para a educação. Quando a gente olha para negócios sociais a gente quer justamente preparar um futuro melhor”, afirmou o representante da Yunus.  

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Revita e Oi, e apoio institucional da Prefeitura de Salvador, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Fundação Rockefeller e Rede Bahia.