Nelson Cadena: os Encourados do Pedrão

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2017 às 02:35

- Atualizado há um ano

Uma das ausências mais notórias, e sentidas pelo povo baiano, no tradicional desfile do 2 de Julho é o dos Encourados do Pedrão, os vaqueiros com figurino de chapéu e gibão de couro e outros apetrechos característicos, que participaram do préstito da grande festa desde 1948, sem solução de continuidade até 2010 quando ONGs com interesses não muito claros, e um poder público omisso, botaram para correr os sertanejos que evocavam a bravura de Frei Brayner e seus 39 cavaleiros nas lutas pela Independência da Bahia.Em 2011, os Encourados deixaram de participar pela primeira vez por conta do improviso, a quebra dos dois caminhões que transportavam os equinos; em 2012, foram humilhados publicamente por uma ONG com a complacência de algumas instituições, inclusive a mídia, com raras vozes dissonantes: Consuelo Pondé de Sena e Roberto Albergaria, em especial. Em 2013, desfilaram pela última vez com alguns dos vaqueiros bancando seus próprios custos.Foto: ReproduçãoÉ de se desejar que no  próximo ano quando se comemorarem 70 anos do primeiro desfile, o grupo reapareça em grande estilo, com apoio oficial, sem medo das falanges que combatem as tradições populares em favor de seus próprios interesses e convicções. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia-IGHB poderia liderar esse processo que teria o apoio popular e assinalaria o resgate de um dos mais marcantes simbolismos da festa cívica. Sugiro uma entrada triunfal refazendo o caminho das boiadas desde Pirajá, antes de se agregar ao desfile, no Largo da Lapinha.De todos os símbolos incorporados à festa ao longo de sua existência, os Encourados são um dos mais relevantes, ainda que tardiamente lembrados, apenas em 1948, diferente da carroça, dos caboclos, palmas e flores, Maria Quitéria, Joana Angélica e outros, já presentes desde as primeiras manifestações, ainda no século XIX. Representava a marcha de Frei Maria do Sacramento Brayner, ex-combatente da revolução pernambucana de 1817, após, preso quatro anos em Salvador, que alistou um grupo de voluntários (40 homens com ele incluídos, os bravos cavaleiros de Pedrão, então distrito de Irará) para lutar, sob o comando do General Labatut com  destemor e garra, característicos dos sertanejos, nas batalhas decisivas que antecederam o 2 de julho.Frey Brayner recorreu aos mais habilidosos vaqueiros da região para montar a sua guerrilha particular, colocada à disposição da junta provisória de governo do Recôncavo; trabalhadores das fazendas Retiro, Limoeiro, Baraúna, Boa Vista, Massapé, Coqueiro, Povoação, Contendas, Europa, Rosado e Cabaças. Eram homens comuns, acostumados a lidar com o gado e a lavoura, cumprindo duras jornadas entre os espinhos ao espavento da caatinga. Chamavam-se Manoel (12 deles), José (sete incluindo o frei), Francisco (cinco) e Joaquim e João, entre os nomes mais assíduos. Mas, também Antônio, Alexandre, Inácio, Domingos, Ludovico, Ângelo, Pedro e Simão.Vestiam chapéu (com uma chapa de latão oval) calça e gibão de couro, algibeiras longas, surrão nas costas, cartucheiras; armados com clavinas, espingarda, bacamartes e facas. Frei José Maria do Sacramento Brayner conduziu-a, naqueles idos, chamada Guerrilha Imperial dos Voluntários de Pedrão, ou, Companhia da Cavalaria de Couraças, com bravura, exaltada pelos seus comandantes. Faleceu 27 anos após o conflito, em 1850. Era o vigário da Igreja do Santíssimo Sacramento de Itaparica, onde seu corpo foi sepultado. Tinha 72 anos de idade.