Nelson Pereira dos Santos era 'poeta da luz', diz presidente da ABL

Cineasta morreu aos 89 anos em hospital do Rio de Janeiro

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  • Da Redação

Publicado em 21 de abril de 2018 às 20:07

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo

O poeta Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras, lembrou o engajamento de Nelson Pereira dos Santos no dia a dia da Casa de Machado. O cineasta morreu na tarde deste sábado, 21, aos 89 anos. Ele foi o primeiro cineasta a ingressar na instituição, eleito em 2006. Nelson fazia a curadoria do projeto "Cinema na ABL", que exibia filmes todas as sextas-feiras no teatro do prédio anexo à ABL. As sessões tinham entrada gratuita e eram abertas para o público em geral. Em 2009, Nelson filmou o documentário "Português, a língua do Brasil", para o qual foram ouvidos acadêmicos. "Era uma pessoa absolutamente adorável no convívio. Um dos acadêmicos mais assíduos. Distribuía seu luminoso bom humor na casa", contou Lucchesi. Segundo ele, Nelson estava presente nos chás das quintas-feiras e em eventos. "Ele manejava uma caneta de luz, escrevia assim sua poesia sobre o Rio e o Brasil. Em 'Rio, 40 graus', temos ali um Visconti dos espaços, um Rossellini, não devia nada a eles". Para Lucchesi, o modo de Nelson pensar o País enriqueceu os debates da ABL. "Ele sempre pensou grande, de uma perspectiva continental, e com leveza, intensidade. Estamos perdendo intérpretes do Brasil. Será uma grande saudade."

Veja outras personalidades que também lamentaram a morte do cineasta:

Michel Temer, presidente: "A cultura brasileira está de luto. Perdemos hoje um dos mais importantes e premiados cineastas do país, Nelson Pereira dos Santos. Ele levou para a tela as mais importantes obras da nossa literatura. E o seu cinema retratou fielmente o âmago do povo brasileiro"

Caetano Veloso, cantor: "Quando #NelsonPereiradosSantos foi à Bahia para filmar #VidasSecas, choveu no sertão e as filmagens tiveram de ser adiadas. Para não perder o dinheiro gasto e a equipe já em campo, Nelson resolveu fazer um filme com história escrita por ele mesmo - e atuar como protagonista. O filme se chama Mandacaru Vermelho e é uma obra menor do grande cineasta. Mas, vendo o filme em Salvador, fiquei surpreso de ver como ele era bonito. Nelson tinha trazido para o cinema brasileiro um núcleo que lhe faltava. Tínhamos chanchadas e Vera Cruz: sucesso da bagunça e esforço de respeitabilidade. #Rio40Graus abriu uma espaço diferente. Tínhamos força própria, A Voz do Morro ecoa ainda hoje o que significou aquilo. Rio Zona Norte, com #ÂngelaMaria fazendo uma aparição no backstage da Rádio Nacional, confirmou. Eu conhecia o nome de Nelson ligado a essas conquistas que tornaram possível a realidade ainda mal avaliada do Cinema Novo. Vê-lo como um rapaz bonito na tela era fascinante. Depois veio Vidas Secas, com o rosto inesquecível de Maria Ribeiro, a harmonia entre as imagens, o som do carro de boi como música na cena da morte da cadela Baleia. Mais bonito do que o livro de Graciliano em que se baseou. Isso já era Cinema Novo feito por quem o fizera viável. Depois vieram coisas fortes. O meu preferido é Memórias do Cárcere, um dos melhores filmes já feitos no Brasil. Nelson Pereira dos Santos é um dos construtores deste país. A obra dele e sua memória hão de seguir sustentando os alicerces".

Cacá Diegues, diretor: "O Nelson inventou uma maneira de fazer cinema no Brasil, todo o cinema moderno foi inventado por ele. Ele foi o primeiro a filmar a favela como um tema nobre, foi o primeiro a fazer cenas na rua como a gente precisava conhecer o Brasil. Ele inventou um cinema para o país e o país coube dentro do cinema dele. O Nelson é uma chama que não se apaga, que vai ficar permanentemente aí na cabeça de todo mundo. Ele encerra uma época, mas é uma época que se encerra com ele, mas não se encerra tragicamente. Se encerra até num momento muito bom, que os meninos estão fazendo filmes por aí. Eu acho que mesmo aqueles jovens cineastas que não viram filmes do Nelson, nos filmes dele cada fotograma tem uma influência do Nelson. A influência dele na minha obra é total, não havia escolas de cinema no Brasil na época, então, aprendíamos com ele".