Neojiba inaugura sua primeira sede; conheça detalhes

Projeto é assinado por empresa japonesa que fez a Walt Disney Concert Hall, de Los Angeles

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  • Laura Fernades

Publicado em 28 de junho de 2019 às 18:45

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“Antes a sensação era de estar na casa dos outros, agora aqui é minha casa”, agradeceu a violinista Priscila Silva, 23 anos, na manhã desta sexta (28), durante visita guiada à primeira sede dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba). Após quase 12 anos funcionando no Teatro Castro Alves, o programa ganhou um espaço para chamar de seu no Parque do Queimado, na Soledade, cuja inauguração acontecerá no dia 9, às 9h, com participação de Mateus Aleluia, Elomar e Ilê Aiyê.

Esse era um desejo antigo não só do fundador do programa, o maestro e pianista Ricardo Castro, mas dos próprios alunos. “Sempre sonhei com essa sede e espero que outros alunos possam aproveitar muito por nós”, desejou Priscila, que é moradora do Vale das Pedrinhas, está no Neojiba há onze anos e acabou de ser selecionada para estudar música na Suíça. Em setembro, ela embarca junto com o namorado, o percussionista Fábio Santos, 27, que conheceu no Neojiba há dez anos e também foi selecionado.

“Viajar com ela é um estímulo, porque sempre me apoia. Crescemos juntos”, conta Fábio. Para custear passagens e estadia na Suíça, onde estimam gastar cerca de R$ 100 mil por ano, cada, Priscila e Fábio estão vendendo brigadeiro (@brigadeirosdobob) e vão lançar uma “vaquinha coletiva”. Além deles, a contrabaixista Kívia Silvia, 26, que está no Neojiba desde o início, também participará do financiamento e da venda de brownies (@browniedaboneca), já que foi selecionada para fazer mestrado em Genebra.

Enquanto não viajam, os três seguem estudando nas salas de ensaio da sede projetada pela empresa japonesa Nagata Acoustics, também responsável por algumas das principais salas de concerto do mundo como a Nova Philharmonie, de Paris, e a Walt Disney Concert Hall, de Los Angeles. “O Neojiba é fundamental. Sem ele, me sentiria só mais uma pessoa no mundo. Hoje, sinto que também faço a diferença na vida de outras pessoas. A gente quer que crianças e jovens tenham esperança”, desejou Priscila, que já foi professora do Neojiba.

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Não tem preço O programa, que atende mais de 6 mil crianças e adolescentes em 13 núcleos espalhados por Salvador e interior do estado, tem agora um espaço só seu para dar continuidade à política de desenvolvimento social através da prática musical. A sede do programa está instalada em uma área de dez mil mestros quadrados, com mil metros de área construída no Parque que está localizado entre os bairros Soledade, Lapinha, Liberdade e Caixa d’Água.

O projeto contempla uma sala de espetáculos para música de câmara com capacidade para 140 pessoas e seis salas de ensaio entre 10 e 70 m², além de depósito para instrumentos e isolamento acústico e térmico. A segunda etapa prevê um refeitório, oficinas de luteria (confecção de instrumentos) e a implantação de fibra ótica que permitirá que a realização de videoaulas e concertos simultâneos da capital com o interior e outros países.

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Os recursos investidos na primeira etapa foram de R$ 13,5 milhões. Destes, R$ 8,3 milhões são provenientes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) do governo federal, com contrapartida de R$ 4 milhões do Tesouro Estadual. Além disso, o Instituto de Ação Social Pela Música (IASPM), organização social sem fins lucrativos responsável pelo Neojiba, investiu em torno de R$ 600 mil de recursos próprios na obra, além de ter colocado à disposição instrumentos musicais importados e equipamentos de informática.

Foram investidos, ainda, cerca de R$ 100 mil para trazer a empresa japonesa Nagata Acoustics, que elaborou o projeto acústico de todo o prédio principal do Parque do Queimado que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Essa parceria foi feita via contrato entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU (PNUD) e a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), onde o Neojiba está abrigado.“A gente está oferecendo para a base da sociedade, que é a infância e a juventude, principalmente em situação de vulnerabilidade social, o que há de melhor em equipamento e infraestrutura no mundo”, comemorou Ricardo Castro, que já tinha 30 anos de carreira quando criou o Neojiba, em 2007.“Alegria em saber que nós, brasileiros, podemos fazer muito mais por nossa juventude”, completou, ao CORREIO, sobre o programa que reúne mais de 1,8 mil beneficiados, entre 6 e 29 anos.

“Esse é o programa socioassistencial através da música mais exitoso do país. Não é só fazer com que a criança desperte para a música, mas há um apoio integral à família”, destacou o secretário da SJDHDS, Carlos Martins. “O programa faz com que o jovem em situação de vunerabilidade social, principalmente de bairros mais populares, tenham uma oportunidade cidadã para buscar, através da música, reconhecimento pessoal e profissional. Ver uma criança de 8 anos se arrumando para viajar de avião pela primeira vez e dizer ‘vou tocar em Paris’, não tem preço”, completa.

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