Netflix: Heróis da ‘vida real’ têm ressaca e problemas familiares

Série The Umbrella Academy estreia dia 15, com trama inspirada em história em quadrinhos

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  • Laura Fernades

Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 06:00

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Quem disse que o super-herói tem vida fácil? “Eles salvam o mundo, mas a gente nunca vê as consequências: eles não têm ressacas, não vão ao banheiro...”, provoca o paulista Gabriel Bá, 42 anos, um dos primeiros brasileiros a ganhar o Prêmio Eisner, o mais importante da história em quadrinhos no mundo. Um dos produtores executivos da série canadense The Umbrella Academy, que estreia dia 15, na Netflix, Gabriel brinca: “Eles ‘apenas’ lutam contra o crime, mas a vida não é assim”.

Pois é justamente essa “vida real”, cheia de imperfeições, que aparece na série inspirada na HQ ilustrada por Gabriel e criada pelo escritor americano Gerard Way, vocalista da extinta banda My Chemical Romance. Para além dos poderes especiais que incluem a superforça e a viagem no tempo, a trama mostra personagens forçados a enfrentar os efeitos de uma infância abusiva.

Ansiedade, depressão e alcoolismo são só alguns dos fantasmas que fazem parte da história de seis irmãos que não se dão bem como família. Obrigados a se reencontrar após a morte do pai, eles prestam uma bela e sincera homenagem ao patriarca: “Ele foi um monstro”. Claro que tudo isso é apresentado, na trama, com toda a leveza e o humor ácido que uma série de heróis permite.

“Acho esses personagens muito humanos, por isso eles se diferenciam dos outros heróis tradicionais. São personagens normais, lutando por suas vidas diárias. Essa foi minha grande inspiração”, conta Gerard. Responsável por dar vida a um homem extremamente forte, o ator Tom Hopper ressalta que o elemento dos super-heróis serve, na verdade, como pano de fundo da trama. “Não são só super-heróis, a gente vê seres humanos. É muito mais que isso”, defende. Elenco de The Umbrella Academy conta com Ellen Page (à esquerda) e Tom Hopper (sentado na cadeira) (Foto: Christos Kalohoridis Netflix/Divulgação) Marginalizados O elemento humano, inclusive, se assemelha às histórias pessoais de alguns dos atores. A atriz canadense Ellen Page, por exemplo, conta que quando leu o roteiro pela primeira vez se identificou imediatamente com sua personagem. “Ela lida com ansiedade, depressão e outras coisas que estou familiarizada”, revela Page, estrela de filmes como Juno (2008) e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) que sempre sofreu pressão por se vestir de forma masculina e se assumir gay.“Nunca pude vestir o que gostava e tinha que lidar com pessoas dizendo ‘você não poderia usar uma saia?’. Estou tão cansada das mulheres terem que se comportar de determinado jeito. Não acredito que, em 2018, isso ainda é uma conversa. Simplesmente não consigo acreditar”, desabafou Page, durante o evento de lançamento da série em São Paulo, em dezembro do ano passado.Não só Ellen se identifica com a personagem fora do padrão e marginalizada, mas o próprio autor dos quadrinhos. “Eu era isolado, tentava ser invisível. Era o cara que sempre estava no fundo da sala, sentado, desenhando Wolverine nas aulas. A personagem da Ellen tem muito a ver como eu me sentia no ensino médio”, lembra Gerard.

União É assim, com lutas físicas e existenciais, que The Umbrella Academy provoca reflexões sobre as consequências de uma infância turbulenta. Na trama, os seis irmãos são criados por um pai abusivo que forçou os filhos a se tornarem super-heróis só para ganhar dinheiro. “Isso acaba se refletindo na forma como usam seus poderes e se relacionam com o mundo”, destaca Page.

Mesmo com suas diferenças, dificuldades e fantasmas emocionais, porém, os irmãos são convocados a se unir para evitar o apocalipse da humanidade. Gerard defende que “essa história é importante, especialmente nos dias de hoje, quando há tanta divisão no mundo”. “Acho que precisamos ser lembrados disso, de que somos mais fortes quando estamos juntos”, convida.

*A repórter viajou para São Paulo a convite da Netflix