Neuropediatra é investigado por atos de pedofilia contra pacientes

O profissional também era professor de medicina da Universidade de Brasília

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  • Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2019 às 15:04

- Atualizado há um ano

Um neuropediatra, que não teve seu nome divulgado, é alvo de inquérito instaurado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Brasília, que apura denúncias de pedofilia referentes a abusos que ele cometia em seus pacientes. De acordo com o site Metrópoles, a polícia cumpriu nessa quarta-feira (17) mandado de busca e apreensão no consultório do médico.

Na operação, policiais da DPCA buscavam provas que confirmassem as denúncias, feitas por pais e pelas próprias vítimas em depoimentos prestados. Equipamentos como computadores, HDs, mídias, telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos foram apreendidos e encaminhados para perícia no Instituto de Criminalística da Polícia Civil.

De acordo com o Metrópoles, o médico alvo da operação é considerado um profissional de renome em neuropediatria. Ele só atende consultas particulares, não aceita convênios e a fila de espera chega a meses. Ele também é professor de medicina na Universidade de Brasília (UnB).

De acordo com as apurações da DPCA, a unidade especializada registrou duas ocorrências, nos anos de 2013 e 2014, nas quais o neurologista infantil é acusado de molestar crianças. Contudo, as denúncias foram arquivadas pelo Poder Judiciário a partir de manifestação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

No entanto, em dezembro de 2018, os policiais voltaram a receber denúncias contra o médico e reabriram as investigações, após instaurar novo inquérito.

Traumas A reportagem do Metrópoles entrevistou duas mães e um dos adolescentes envolvidos, que, mesmo sem se conhecerem, relataram histórias semelhantes sobre os supostos abusos sexuais cometidos pelo médico. Uma advogada de 49 anos contou com detalhes como seu filho, então com 11 anos e hoje com 17, se tornou vítima do profissional.

Segundo a mulher, em 2013, o filho começou a apresentar sinais de déficit de atenção. Ela foi orientada pela escola em que o menino estudava a marcar uma consulta com o especialista em neurologia infantil no Distrito Federal. A mãe, que acompanhou todas as consultas do filho durante o período de um ano, começou a desconfiar da atitude do médico logo nas primeiras visitas.

A advogada relatou que a disposição dos móveis, paredes e biombos evitava que a criança fosse vista no momento em que era examinada na maca do consultório. “Eu estava a uma distância muito próxima enquanto meu filho era abusado. Apesar de tantos anos terem se passado, ainda sinto uma enorme culpa, misturada com raiva e indignação", desabafou a mãe. Segundo a advogada, o próprio garoto disse o que ocorria durante as consultas: “Sempre pedia para meu filho ficar de cueca e depois tirá-la. Em uma oportunidade, ele revelou que o médico examinou sua perna e acabou passando a mão em sua genitália”.

O adolescente, à época, admitiu à mãe que o neuropediatra havia tocado em seus órgãos genitais e de ter dito a ela que não voltaria mais ao consultório. “Ele passou a mão em mim de uma forma diferente”, desabafou para a mãe.

Na época, a mãe e o filho decidiram prestar queixa contra o neuropediatra. O médico foi intimado prestou depoimento, mas foi liberado em seguida. O caso acabou arquivado por falta de provas.

Revoltada com o arquivamento, a advogada procurou o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal e o Ministério Público local para relatar os supostos abusos, mas ambas as denúncias não avançaram. De acordo com ela, após ter sido molestado, o garoto precisou passar por tratamentos psicológicos e psiquiátricos, com uso de medicação.

Crises de ansiedade O caso se assemelha ao de uma professora aposentada de 53 anos. Ela revelou que seu filho se tornou vítima dos abusos do médico a partir de outubro de 2016. “Esse neurologista foi muito bem recomendado. Mesmo morando longe da Asa Norte (local de seu consultório em Brasília), resolvi levar meu filho para as consultas”, disse. O garoto, então com 13 anos, apresentava dificuldades na escola e as notas oscilavam.

Mais uma vez, o neuropediatra fazia todos os exames de reflexos, equilíbrio e coordenação motora. Em seguida, o paciente era deixado apenas de cueca, sem que a mãe percebesse. “O consultório é montado de forma a deixar uma falsa sensação de segurança. De fato, não é o que ocorre”, lamentou a professora.

Após as primeiras consultas, a mãe percebeu que o filho começou a apresentar um comportamento que sinalizava crises de ansiedade. O adolescente passou a lavar as mãos a todo instante, ir ao banheiro diversas vezes por dia e até a arrancar tufos do próprio cabelo. “Além disso, ele se recusava a tomar a medicação, escondendo os remédios nos bolsos do uniforme escolar e nas gavetas de casa.”

Dois anos de assédio A professora desconfiou de que algo estava errado com o tratamento do filho e sobre a forma como o médico agia. “Me incomodava o fato de, no momento de se despedirem, o médico abraçar meu filho de forma tão demorada e intensa”, afirmou.

Com a piora no comportamento do filho, a mãe decidiu intensificar as conversas e perguntava sempre se o médico tratava o filho com respeito. “Em um primeiro momento, ele disse que sim, mas depois ficava calado diante dos meus questionamentos”, lembra-se.

Já em novembro de 2018, o adolescente resolveu contar à mãe que estaria sendo assediado pelo neurologista pediátrico. “Ele falou que seu pênis era examinado e tocado constantemente”, afirmou. Nunca mais o rapaz, atualmente com 15 anos, retornou ao consultório do médico.