Nizan Guanaes: Somos todos prefeitos de Salvador

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  • Nizan Guanaes

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Não tem nada que me irrite mais do que a conversa fiada, recorrente toda vez que eu me movimento para ajudar Salvador: a de que faço isso só porque quero ser prefeito da cidade.

O sujeito que mais me norteia nesse sentido é Caetano Veloso. Desde sempre, Caetano tem sido um leão em pensar e defender esta Cidade da Baía.

Outro dia eu fui jantar na casa dele e o assisti, fascinado, discorrer com paixão sobre a ocupação do Pelourinho. Caetano é foda (como a Bossa Nova). E eu adoro que ele se levanta como se estivesse falando de uma coisa sagrada. E Salvador é uma coisa sagrada. Ela é nossa cidade. Todos nós temos que ser prefeito dela. Cada um de nós.  

O povo da Bahia já está fazendo isso. Cansado de esperar pela vinda de um novo Edgar Santos, o povo da Bahia virou seu próprio Edgar Santos. E vamos ser justos: a cidade já tem um grande prefeito. Neto está mudando Salvador. Além do mais, Salvador já tem prefeito à beça. Regina Case é uma grande prefeita. Alberto Pitta é um grande prefeito. Pedro Tourinho é um grande prefeito. Paula Lavigne, nem se fala, sozinha é uma Câmara Municipal.

“We, the people” (nós, o povo), como diz a bela Constituição americana, vamos levar esta cidade para o patamar que ela merece.

Minha mãe, Esmeralda Mansur de Carvalho, líder comunista, me deu, desde pequeno, senso de pertencimento. Meu avô Demócrito, que foi preso várias vezes por Getúlio Vargas e enterrado com a bandeira do Partidão, me ensinou a declamar Castro Alves e me ensinava história todos os dias. Eu não lia O Patinho Feio, eu lia sobre a Revolta dos Alfaiates. Dá um Google sobre meu tataratio Bernardo Guanaes Mineiro, que fez uma revolta para depor Dom Pedro I e ficou preso no Forte de São Marcelo.

Eu nasci no Centro Histórico de Salvador, no Largo do Carmo, número 4. Fui coroinha da igreja do Carmo na época de frei Eliseu, na época que Dona Santa fazia terno de reis e discurso quando passava o caboclo no 2 de Julho.

A história deu pertencimento à geração de Caetano e à minha. É isso o que chamo de Bahia com h. É isso que fará a Bahia seguir o seu destino, o Odu que ela tem. Por isso, advogo história, história, história na veia.

Grandes líderes e homens públicos parecem liderar, mas na verdade estão seguindo. Dona Canô foi o maior prefeito que Santo Amaro já teve. Um dia ela me ligou em São Paulo para reclamar do caminhão da Antártica. Caetano, filho dela, ia sempre com uma listinha na mão despachar com Antônio Imbassahy (grande prefeito) para falar de coisas que ele achava importante para a vida da cidade. Isto é ser prefeito.

Não tenho vocação para político. Sou empreendedor e empresário. Fiz um dos 20 maiores grupos de publicidade do mundo e, agora, aos 60, começo apaixonadamente uma nova empresa que será grande. Nunca parei de empreender nem vou parar. Mas nenhum grande empresário no mundo pode deixar de ter papel público e o meu é ser embaixador global de Salvador.  

Todo mundo nos EUA tem um “night job”, que é se dedicar a uma causa. Como Lise Weckerle se dedica à Santa Casa de Misericórdia. Os escravos construíram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos à noite, depois de trabalharem o dia inteiro como escravos. Gil se candidatou a prefeito e dedicou muito tempo da sua vida a ser ministro da Cultura. O empresário Mario Dantas tem como “night job” comandar o Lide Bahia, aglutinando nossos empresários a trabalhar a favor da comunidade.

O povo da Bahia, com poucos recursos, tem mais vida pública que muita gente cheia de recursos. Mãe Menininha, Mãe Cleusa, Mãe Stella, Irmã Dulce dedicaram suas vidas aos outros. Mãe Nívia de Pirajá, jovem linda, vai dedicar, com sacrifício, a sua mocidade, sua vida, à Bahia. As irmandades, idem.

Cada um de nós tem que ser prefeito desta cidade linda. E a cada um cabe fazer o que está ao seu alcance e do seu jeito: aos monges, rezar; aos ricos, dar mais; à oposição, criticar; aos artistas, nos guiar com seu talento e sua voz.

Só não jogar lixo na rua nem urinar nem poluir nem vandalizar nada já é contribuir com a cidade. O povo de Trancoso cuida de Trancoso apaixonadamente, e prospera com isso. Linda Bezerra faz deste Correio um dos melhores jornais do Brasil. Caetano Veloso, do Morro da Paciência, que ele não tem, vigia sua cidade amada. E em sua casa, como na de Gertrude Stein em Paris no início do Século 20, mentes privilegiadas aplaudem e vociferam os acertos e atentados contra a cidade.

A cidade é assim. E este é o nosso papel, sermos todos prefeitos, seus ogans, seus vigias e seus gestores. Sermos todos milhões de prefeitos de Salvador ao som da BaianaSystem, plugando mais de mil decibéis nessa bandeira.

Nizan Guanaes é publicitário

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