No dia da baiana de acarajé, quituteiras comemoram tabuleiros abertos

Baianas relatam baixo faturamento em retorno da economia, mas têm esperança de melhora

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  • Wendel de Novais

Publicado em 25 de novembro de 2020 às 06:30

- Atualizado há um ano

Um dia de comemoração para lá de diferente. É isso que as quituteiras mais famosas de Salvador terão hoje, no dia das baianas de acarajé. Sem a missa tradicional de comemoração que acontece há 35 anos e com um faturamento bem abaixo do normal por causa da pandemia, para elas o que se tem para comemorar é a vida e a possibilidade de participar do retorno da economia.

Ainda em fase de recuperação, faturando de 50 a 60% do que obtinham antes da pandemia, as baianas lamentam o ano difícil mas compartilham da esperança do aumento das vendas desde o retorno. De acordo com informações da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Beiju, Mingau e Similares (Abam), em território soteropolitano, existem cerca de 3.500 baianas de acarajé - o número deve ter caído já que muitas quituteiras optaram por alternativas para superar as dificuldades.   Baianas comemoram possibilidade de manter os tabuleiros abertos (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Com esse panorama, as baianas ouvidas pela reportagem do CORREIO declararam que o dia delas se converte num momento de gratidão pela vida e pela oportunidade de ainda estarem fazendo o que mais amam: vender acarajé. Esse é o depoimento de Elaine Assis, 39, filha de Dinha do Acarajé, que reduziu em 80% as venda na pandemia. Para ela, trabalhar depois de um ano tão difícil é o motivo dos agradecimentos: “A gente tem que comemorar a vida e a possibilidade de estar trabalhando todos os dias já é uma vitória”.

Outras baianas de acarajé viram sua renda ser reduzida a zero com o isolamento social iniciado em março. Sem o delivery para reduzir as perdas, sofreram ainda mais. É o caso de Márcia da Cruz, 62, do Porto da Barra: “A pandemia acabou com a nossa renda, meu filho. Um período muito difícil que fez com que muitas colegas tivessem que deixar o tabuleiro. Eu tive a sorte de ainda continuar trabalhando, o que já me deixa contente e com motivos de sobra pra agradecer”.

Jussara Santos, 42, que trabalha no Acarajé da Cira, localizado no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, concorda que é preciso comemorar e lamenta a situação das colegas baianas que precisaram fechar o tabuleiro. “Não tá perfeito, longe disso. Sofremos com tudo que aconteceu, mas ainda estamos aqui, conseguimos voltar a vender e pagar as nossas contas. Com tanta baiana que precisou encontrar outras formas de ganhar dinheiro, me sinto abençoada“ de ainda abrir isso aqui", afirma”. Márcia afirma que movimento de vendas ainda é fraco (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Os relatos que informam a necessidade que muitas baianas tiveram de parar com a venda de acarajé são confirmados por Rita Santos, presidente da Abam. Ela conta que recebeu várias informações de que um número considerável de baianas precisaram optar por trabalhos alternativos, mas não sabe precisar quantas foram. “Não temos como fazer o censo no momento, mas as baianas de acarajé estão em menor número em Salvador e na Bahia como um todo”, explica.  Jussara se sente abençoada com o retorno positivo de vendas (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Para Jussara, o retorno das vendas tem dado esperança: “Hoje, já voltamos a vender 80% do que vendíamos antes. Então, apesar de não ter sido um ano fácil, ele vai terminando com aquela luz no fim do túne”. A situação é parecida no Acarajé da Dinha, que já fatura valores que fazem com que as contas fechem no verde. “Estamos com uma taxa de venda de 60% em relação aos valores de antes de toda essa crise. Dá pra fechar as contas, mas é uma situação diferente das baianas com pontos menores, que sofreram e ainda estão lutando para continuar com o tabuleiro aberto”, explica Elaine.

“Ainda tá tudo muito difícil, meu filho. Não voltou nem metade do que era antes. As barracas maiores estão se recuperando mais rápido, nós estamos mais atrás nisso. O bom do fim do ano é saber que não vou fechar”, diz Márcia.

Cole com as baianas

Além de Márcia, muitas outras baianas passam pela mesma situação e chegam até a depender da ajuda da Abam, que com uma campanha do CORREIO para arrecadar doações para as baianas, já distribuiu 2.800 cestas básicas.

A pandemia segue e as baianas continuam sofrendo com um faturamento inferior ao necessário, o que gera uma renda para suas famílias. Por isso, cole com as baianas e ajude depositando qualquer quantia na seguinte conta bancária para que as doações sejam revertidas em cestas básicas.

ABAM - Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Beiju  e Similares. Caixa Econômica Federal Código Operação: 003 Ag.: 4802  Conta corrente: 000056-1 CNPJ: 02561067000120

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo