No que você está pensando neste exato instante?

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  • Kátia Borges

Publicado em 13 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Eu penso nos algoritmos que tentam determinar nosso destino – antecipando encontros e distanciamentos. E nos conselhos dados pelo oráculo. E numa velhinha que conheci quando criança e que me pedia que levasse meias para ela todo Inverno. E nos poucos livros publicados, formiguinhas em fila indiana a estocar alimento. E nos meus amigos e inimigos, espumantes de incertezas.

E nos santos incorruptos, que dormem intactos à margem dos séculos. E nas pontes queimadas, pontes elevadas, escadarias para o céu. E eu penso no equilíbrio entre a coragem e os medos e naquilo que, neles, encontra o caminho do meio. E em meu pai e em minha mãe, entre zelo e erros, guarda-chuvas sempre abertos. E no rádio de pilha pequeno tocando Roberto a noite inteira embaixo do travesseiro.

E em como me sentia no vazio das ruas do centro melancolicamente percorridas. E nos algoritmos, com seus desacertos, e nos conselhos certeiros do oráculo. E em que tudo tem seu tempo. E eu penso no quanto navegar é impreciso, a despeito das bússolas, mapas náuticos, radares, instrumentos de orientação e localização. Mesmo se costeira, quando navegamos com os olhos no horizonte.

E que o amor não corresponde ao caminho mais curto e, dependendo do paralelismo, nunca retornaremos ao mesmo ponto. E em que navegar é lento. E eu penso no elefante de Drummond, nos inocentes do Leblon e no vício das rimas internas. E naquela foto que tirei com a estátua do poeta. Em como ficamos descombinados na imagem, ele magro e bronze naquele banco, eu de preto.

Saímos de táxi pelas ruas em busca de um tal de Carlos, perguntando onde ele ficava aos motoristas. E eu penso no desbunde da paisagem do alto do Cristo. E em como aquela cidade combinava em beleza com o que sinto, eternamente equilibrando-se entre

o que é leve e o que é denso. Era uma festa de aniversário e fomos festejar no Jardim Botânico. Passamos muito tempo no orquidário, observando a beleza das espécies. E nem sabíamos que vivíamos naquela época o nosso antes.

E eu penso que, neste exato instante, o Universo inteiro se expande e nem sabemos até onde. E que as estrelas que nós vemos já nem existem. E que nada podemos, nada podemos contra o tempo. E que nada, absolutamente nada, permanece. E que, no entanto, tudo isso é mesmo muito sublime.