Nordestão: uma questão de conceito

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Publicado em 12 de abril de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A semente plantada pela insatisfação do Sport germinou e agora a Copa do Nordeste, nossa querida Lampions League, passa por um momento de transformação. Os sete principais clubes da região, denominados de G7 – Bahia, Vitória, Sport, Santa Cruz, Náutico, Ceará e Fortaleza -, estão convictos que a competição é subaproveitada comercialmente e buscam meios para arrecadar mais. O ponto é: como fazer isso sem excluir os times pequenos da região? Ou ainda: é justo mudar o conceito da Copa e fazê-la sem os nove estados nordestinos?

As alterações definidas pelos clubes mais tradicionais são a mudança da fórmula de disputa e do número de participantes. Explica-se: na visão do G7, a competição seria mais atraente em público no estádio e em renda de patrocinadores se tivesse mais jogos grandes.

Foi amparado nessa convicção que as sete agremiações citadas propuseram inicialmente, em reunião interna realizada pouco antes da Semana Santa, um Nordestão com apenas 10 equipes, 12 no máximo. Ou seja, menos times no campeonato, aumentando a proporção de partidas interessantes em relação ao todo. Atualmente, são 16 clubes na fase de grupos, com mais quatro em uma seletiva prévia.

Solução para uns, problema para outros. Em uma região com nove estados, fazer um campeonato com 12 times implica em cortar o Nordeste na carne seca. A alegria dos clubes tradicionais da Bahia, Pernambuco e Ceará implica diretamente na exclusão dos participantes do Piauí e de Sergipe, por exemplo.

Aí entra uma questão conceitual: o que é a Copa do Nordeste? Atualmente, além do caráter futebolístico, ela tem um viés de integração, de fortalecimento de um bloco e é, numa esfera regional, embrião do que nacionalmente nunca foi para frente, a organização de competições feita pelos clubes - ainda que não tenha conseguido eliminar as federações enquanto intermediárias que recebem um percentual do valor do campeonato. Seu caráter cultural mobiliza torcedores e engrandece o campeonato.

E o que é a nova proposta feita pelos clubes do G7 (ou G6, já que o Sport tem atuado só nos bastidores)? Fazer uma espécie de “torneio Rio-São Paulo do Nordeste”. Por um lado, um produto mais interessante para o mercado. Por tabela, menos envolvido com a definição da região, que tem nove estados, da Bahia ao Maranhão.

O G7 chegou a cogitar a criação de uma segunda divisão, o que seria um paradoxo. Se a queixa é que a primeira não tem sido bem vendida, quem bancaria uma segundona da Lampions para colocar em campo times sem torcida e tradição? Na prática, os próprios clubes da primeira divisão.

Na quarta-feira (11), houve uma reunião da Liga de Clubes do Nordeste aqui em Salvador, e essa proposta de excluir os estados de menor PIB e tradição futebolística parece bem encaminhada, ainda que não de imediato. A nova fórmula, como mostra a reportagem de Vitor Villar aqui no CORREIO, manteria 16 clubes em 2019 e reduziria para 12 a partir de 2020. Exclusão lenta e gradual.

Não vejo solução salomônica. Ou os grandes jogam com os pequenos, pois isso é o Nordeste, ou alteram o conceito atual e fazem um Nordestão sem representantes dos nove estados, focado no peso da camisa. A segunda opção está vencendo. Para ter um pedaço maior do bolo, os grandes querem reparti-lo entre menos gente. E sem os pequenos, acreditam que dá para aumentar o bolo.

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.