'Nossas atitudes podem fazer a diferença entre a vida e a morte', diz médica

Profissional relata como a negação da ciência impacta na saúde pública

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  • Fernanda Santana

Publicado em 16 de janeiro de 2021 às 17:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Escrevo esse texto ainda estarrecida com as notícias vindas de Manaus. De todas as notícias que ouvimos nesta pandemia, essa foi a que mais me impactou. Estamos falando da necessidade básica de respirar sendo negada aos pacientes. Mortes por asfixia. Mortes evitáveis. 

Tento me colocar no lugar dos familiares desses pacientes; tento me colocar também no lugar dos colegas que estão enfrentando esse caos. É assustador, inaceitável.

Sou médica, oncologista pediátrica, e escrevo esse texto para falar com aqueles que, muitas vezes sem se dar conta, vêm negando a ciência, negando o vírus, promovendo tratamentos ineficazes, desacreditando a vacina.Nos últimos 400 anos, os indicadores de saúde, expectativa e qualidade de vida melhoraram significativamente. A causa fundamental dessa melhoria foi a aplicação do que conhecemos como Ciência Moderna. Desde Galileu no século XVII, as crendices, os “achismos”, os mitos foram gradativamente desmascarados pela aplicação do método científico. E a partir daí, chegamos na medicina dos dias atuais, que esse ano vivenciou uma avalanche de colaboração científica, de artigos publicados, de muito aprendizado. Como fruto disso tudo, confeccionamos, em prazo recorde, uma vacina eficaz contra a COVID-19.

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É muito triste ver parte da população retrocedendo, negando a ciência e voltando ao obscurantismo. É mais triste ainda ver colegas médicos participando desse movimento. Tenho presenciado médicos prescrevendo medicamentos comprovadamente ineficazes e já desaconselhados pelas entidades científicas, tenho recebido “fake news” compar-tilhadas por colegas em mídias sociais, tenho ouvido profissionais da saúde desestimulando a vacinação. Faz-se urgente e necessário entender o grande impacto que causa-mos como médicos. Nossas atitudes podem fazer a diferença entre a vida e a morte.

Estamos vivendo algo completamente novo para todos nós e não tenho dúvidas que, somente baseados no saber científico, tomaremos as melhores decisões, seguiremos as melhores condutas.

Para que a tragédia de Manaus não se repita em mais nenhuma cidade do Brasil, precisamos fazer a nossa parte. Precisamos estimular o uso de máscaras, precisamos esti-mular o distanciamento social, precisamos estimular a vacinação.  

Precisamos, sobretudo, deixar de pensar somente em nós.

Juliana Teixeira Costa Médica brasileira Voluntária já vacinada