Nossas cidades vão poder melhorar

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Publicado em 14 de março de 2021 às 16:00

- Atualizado há 10 meses

Desde meados do Século passado nossas cidades viveram sob um forte estresse provocado pelo crescimento contínuo e descontrolado da população, decorrente de dois intensos fluxos migratórios envolvendo grandes deslocamentos de população: os retirantes da seca do Nordeste e a migração rural-urbana. Isto tudo, além de um intenso crescimento vegetativo, por conta das altas taxas de fecundidade então predominantes.

Por longas décadas as principais cidades do então “Sul Maravilha”, particularmente São Paulo,  receberam as hordas de retirantes da seca nordestina – verdadeiros refugiados – que se deslocavam em massa em busca da sobrevivência. As cidades capitais, no próprio Nordeste, também receberam esses fluxos massivos de pessoas sem instrução e sem renda, que pressionavam as estruturas urbanas, por casa, trabalho, saúde, educação, transporte, saneamento, para si e seus familiares.

O mesmo correu sempre e quando surgia em algum lugar algum investimento público ou privado que representasse a criação de oportunidades de trabalho, seja a construção de uma barragem para geração de energia, a implantação de um complexo industrial, a formação de uma nova lavoura. Essa massa humana se deslocava, independentemente de sua adequação à necessidade e ao perfil demandado, desesperadamente, em busca de inclusão e acolhimento. E, claro, não retornava. 

Paralelamente ocorria o intenso deslocamento de população da zona rural para as cidades, sempre em busca de melhores condições de vida. Nenhuma cidade – metrópole nacional, capital de estado, polo regional ou sede municipal – que recebeu o impacto desses fluxos imigratórios conseguiu dar conta dessa demanda, desorganizando-se por completo, uma situação que persiste ainda hoje. Até porque não houve qualquer política nacional que buscasse apoiar os municípios na absorção desse excedente populacional. O resultado foi a formação das favelas, com seus 12 milhões de habitantes – que se refletem ainda agora, na crise do coronavírus – porque continuam desprovidas de adequadas condições habitacionais, sem regular abastecimento de água, sem esgotos e sem saúde, seus moradores indefesos ante a pandemia. 

Somente com o esgotamento do fluxo migratório rural-urbano e a estabilização do crescimento demográfico nacional nossas cidades vão ter agora a oportunidade de se reestruturarem (ainda uma vez por conta própria?), para corrigir as distorções acumuladas.     

A estabilização do crescimento demográfico contudo coloca agora para as cidades uma outra e nova problemática: o envelhecimento da população, o que vai demandar a adequação do desenho e das estruturas urbanas para conviver com um contingente crescente e significativo de idosos, com suas dificuldades de locomoção, seus problemas de saúde, suas restrições alimentares, seu tempo livre, e nem sempre portando seu benefício previdenciário.

Outros fatores se apresentam como sinais de transformações sociais e culturais, como o declínio do uso do carro, a mudança do padrão de sua utilização, que foi tão predatória ao longo dos últimos cinquenta anos. Com isto, abrem-se novas possibilidades para o redesenho das cidades, sua readequação à escala humana, propiciando melhor qualidade de vida. 

Essa oportunidade vale para todas as cidades – pequenas, médias e grandes. Sairão na frente e se tornarão melhores primeiro aquelas cujas sociedades e gestões municipais conseguirem perceber com mais rapidez o novo cenário e forem capazes de deflagrar imediatamente o processo de transformação.   

São boas e promissoras as perspectivas para termos cidades melhores, boas para viver, saudáveis, socialmente integradas, humanamente sustentáveis. A oportunidade aí está, basta que tenhamos boa gestão. Vai que é tua, Prefeito!

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional.