Nossos terroirs: conheça o que só a Bahia tem

Clima, solo, técnicas e tecnologias ajudam estado a produzir frutos e grãos únicos em todo o mundo

Publicado em 15 de outubro de 2019 às 06:02

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Arte: Morgana Miranda/ CORREIO

Eles são únicos. Em nenhum lugar do planeta se produz algo com sabor parecido, textura similar, igual volume, tamanho ou cor. Produzidos em determinadas regiões, em condições climáticas exclusivas, eles vêm sendo relacionados até como “terroir” mesmo quando não se trata de vinho.

Com características peculiares eles ajudam a dar uma cara especial à agropecuária baiana no cenário mundial.

Podem até não ser produzidos em grandes quantidades, como as commodities soja e algodão do oeste da Bahia. Mas, sem dúvida, marcam presença definitiva na lista de muitos compradores internacionais que desejam um bocadinho deste diverso e saboroso pedação do Brasil.

São produtos do campo que vão ainda mais longe. Além de atiçar o paladar, geram empregos, influenciam na balança comercial, servem de insumos para agroindústrias ou se tornaram pilares econômicos de muitos municípios baianos.

Com base em informações de órgão oficiais como IBGE, Ministério da Agricultura, Embrapa, prefeituras municipais, associações e sindicatos de produtos rurais, o CORREIO montou um mapa com dez destes 'terroirs' baianos. Veja ao final da matéria.

São produtos com identidade própria, distintos de outros existentes no mercado, e gerados a partir de características vinculadas ao local de origem, como clima, temperatura, altitude, técnica de preparo, entre outras. Cada detalhe faz a diferença.

As amêndoas de cacau produzidas em 64 municípios do sul da Bahia estão nesta seleta lista. Em 2018 os cacauicultores desta região conquistaram o registro de Indicação Geográfica, conferido pela Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Também é única a cachaça produzida na microrregião de Abaíra, na Chapada Diamantina. A bebida, fabricada com aguardente de cana-de-açúcar em quatro municípios da região conquistou o registro do INPI em 2014.“A associação conseguiu provar, entre outros pontos, que esta cachaça possui base e relevância histórica, manejo diferenciado, e até a levedura que compõe a bebida só se desenvolve em ambiente natural nesta região específica da Bahia”, afirma Felipe Toé, assessor jurídico da Associação de Produtores de Aguardente de Qualidade da Microrregião de Abaíra (Apama).Se a Ásia é produtora de mangas, certamente as de lá não são iguais às frutas das mangueiras que brotam no Vale do São Francisco, no norte da Bahia. O clima da região semiárida, aliado às novas técnicas de produção, à ciência e ao empreendedorismo de centenas de agricultores fizeram surgir mangas diferenciadas. Hoje elas ajudam a tornar a Bahia uma das maiores produtoras de frutas do mundo. Em 2009, as mangas e as uvas de mesa do norte do estado foram os primeiros produtos da Bahia a conquistar o selo de origem. Dividimos a reputação com as frutas cultivadas no mesmo polo mas em pomares localizados em território pernambucano.

Também integram esta primeira lista vinte produtores rurais de 11 municípios do oeste baiano que cultivam o café verde em grãos, da espécie Coffea arábica. Este ano eles entraram para o grupo com indicação de procedência ao provar que os grãos são diferenciados.“É um café de corpo acentuado, acidez positiva, leve doçura, sabor agradavelmente frutado, gosto remanescente prolongado e aroma floral com boa densidade. O clima do cerrado, os ventos, o modo como os cafezais são manejados e a forma como os grãos são descascados e desmucilados fazem a diferença. Além disso, todos os produtores adotaram procedimentos de respeito ao meio ambiente, de conformidade com a leis trabalhistas e de preservação das reservas ambientais”, afirma José do Espírito Santo, Presidente da Associação dos Cafeicultores do Oeste da Bahia (Abacafé).Outros roteiros Outros produtos gerados na Bahia estão a caminho de conquistar novos selos e projeções. Com projetos de reconhecimento oficial já em andamento, ou em fase inicial de discussão, eles são considerados importantes pela relevância social, cultural ou econômica.

Entre elas estão as fibras de sisal da microrregião semiárida de Valente, os cafés premiados internacionalmente de Piatã, os charutos nacionais produzidos apenas no Recôncavo baiano, e as ostras do Recôncavo, na zona rural de Cachoeira, as margens da Baía do Iguape. As especiarias do baixo sul também integram o nosso mapa. A Bahia é o único estado do país que produz e exporta cravo da índia. O estado também tem a proeza de produzir ainda a melhor fibra de algodão de sequeiro do mundo. Fortes, resistentes e de alta qualidade elas brotam em pleno cerrado baiano.

E vem mais por aí. Outros produtos típicos podem ganhar no futuro novos selos de distinção. Entre eles estão as frutas vermelhas de clima temperado cultivadas em plena Chapada Diamantina, a farinha do Vale da Copioba no recôncavo baiano, o azeite da Costa do Dendê, os derivados de licuri do semiárido, os cafés do Planalto da Conquista, os vinhos de Morro do Chapéu.

À lista promissora pode ser adicionada ainda a carne de fumeiro de Maragogipe, as frutas da microrregião de Gandu, as laranjas do agreste em Rio Real, as surpreendentes azeitonas de Rio de Contas e os derivados de coco do litoral norte. Todos com potencial de inserção futura no mapa de indicação geográfica e de procedência.

Evento discute campo sustentável As peculiaridades dos ecossistemas baianos - responsáveis pelos nossos terroirs - são nossas riquezas. No Sul da Bahia, por exemplo, o clima e o solo característicos são responsáveis pela produção do chamado “chocolate da Mata Atlântica”. Do mesmo jeito, o  algodão baiano, plantado na região Oeste, foi reconhecido como a pluma de sequeiro de melhor qualidade no mundo. Estes e outros exemplos mostram que o aproveitamento responsável do potencial agrícola rendem à nossa economia.

As melhores estratégias para aproveitar o potencial ambiental do estado sem ferir o meio ambiente serão discutidas no próximo dia 24, no 1º FISC – Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade, no Senai Cimatec. O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibama) na Bahia,  Rodrigo Alves, destaca a importância de se apresentar as boas práticas na relação entre o setor produtivo e o meio ambiente. “A apresentação daquilo que dá certo é uma vertente do que queremos trabalhar na busca de um meio ambiente equilibrado. E tem muita coisa sendo feita corretamente”.

 Segundo o superintendente, o Ibama pretende provocar uma discussão sobre o desenvolvimento sustentável. Além do evento em Salvador, ele diz que vai realizar outros  em Vitória Conquista e Luís Eduardo Magalhães, em 8 e 22 de novembro. 

O presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, ressalta que a sustentabilidade é um interesse de toda a sociedade, mas de especial interesse para o agronegócio. “A sustentabilidade, em toda a sua essência, econômica social e ambiental, é fundamental para a nossa sobrevivência. A gente não pode ser simplista em achar que é só proteger uma floresta ou uma nascente. É uma questão que envolve a sobrevivência humana”, defende. 

O I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade é uma realização do jornal Correio, Ibama e WWI, com o patrocínio da ABAPA, Fazenda Progresso e Suzano S.A e apoio institucional da FIEB e FAEB.

Nossos sabores   Amêndoas de cacau do sul da Bahia

Volume produzido: Mais de 122,6 mil toneladas de amêndoas em 2018

Comercialização: US$ 1,1 milhão em exportações

Produtores: 30 mil cacauicultores e 15 fábricas de chocolate

Área de produção: Aiquara, Alcobaça, Almadina, Apuarema, Arataca, Aurelino Leal, Barra do Rocha, Barro Preto, Belmonte, Boa Nova, Buerarema, Caatiba, Camacan, Camamu, Canavieiras, Coaraci,Cravolândia, Dário Meira, Eunápolis, Firmino Alves, Floresta Azul, Gandu, Gongogi, Guaratinga, Ibicaraí, Ibicuí,; Ibirapitanga; Ibirataia; Igrapiúna; Iguaí; Ilhéus; Ipiaú; Itabela; Itabuna; Itacaré; Itagi; Itagibá; Itagimirim; Itaju do Colônia; Itajuípe; Itamaraju; Itamari; Itambé; Itanhém; Itapebi; Itapitanga; Itapé; Itororó; Ituberá; Jaguaquara; Jequié; Jiquiriçá; Jitaúna; Jucuruçu; Jussari; Laje; Maraú; Mascote; Mucuri; Mutuípe; Nilo Peçanha; Nova Canaã; Nova Ibiá; Nova Viçosa; Pau Brasil; Piraí do Norte; Porto Seguro; Potiraguá; Prado; Presidente Tancredo Neves; Santa Cruz Cabrália; Santa Cruz da Vitória; Santa Luzia; São José da Vitória; Taperoá; Teolândia; Ubaitaba; Ubatã; Ubaíra; Una; Uruçuca; Valença; Wenceslau Guimarães.

2) Cachaça de AbaíraVolume produzido: 100 mil litros por ano

Comercialização: R$ 3 milhões de reais por ano

Área de produção: Microregião de Abaíra (Abaira, Jussiape, Mucugê e Piatã).

Quantidade de produtores: 10 produtores

3) Café Verde em grãos do Oeste, da espécie coffea arábicaVolume produzido: 450 mil sacas de café por ano

Comercialização: R$ 184,5 milhões por ano

Área de produção: Baianópolis/BA; Barreiras/BA; Catolândia/BA; Cocos/BA; Correntina/BA; Formosa do Rio Preto/BA; Jaborandi/BA; Luís Eduardo Magalhães/BA; Riachão das Neves/BA; Santa Rita de Cássia/BA; São Desidério/BA.

Quantidade de produtores: 20 produtores

4) Uvas viníferas e Vinhos da Chapada DiamantinaVolume produzido: 20 mil garrafas em 2019

Comercialização: cerca de R$ 800 mil reais por ano

Área de produção: Morro do Chapeu, Mucugê e Ibicoara

5) Especiarias: Cravo da índia do baixo sulVolume produzido: 4 mil toneladas por ano

Comercialização: US$ 17,6 milhões de dólares em exportações em 2018

Área de produção: Valença, Taperoá, Camamu, Nilo Peçanha e Una

Quantidade de produtores: cerca de 14 mil produtores

6) Cafés da Chapada DiamantinaVolume produzido: 21,5 toneladas em 2018

Comercialização: cerca de R$ 128,9 milhões de reais

Área de produção: Piatã, Mucugê, Ibicoara, Barra da Estiva, Rio de Contas e Seabra

Quantidade de produtores: 35 produtores

7) Charutos do RecôncavoVolume produzido: 13 milhões de unidades por ano

Comercialização: Mais de US$ 14 milhões de dólares em exportações

Área de produção: São Gonçalo dos Campos, Cruz das Almas, São Félix e Cachoeira (todos no recôncavo)

Quantidade de produtores: 9 fábricas na Bahia. 

8) Ostras do Recôncavo, zona rural de Cachoeira, às margens da Baía do Iguape Volume produzido: 15 mil dúzias de ostras de cultivo e 3,8 mil de ostras de Camboa-de-Pau

Comercialização: Mais de R$ 400 mil por ano 

Área de produção: Zona Rural de Cachoeira

Quantidade de produtores: 80 famílias 

9) Algodão de sequeiro do Oeste da BahiaVolume produzido: 1,5 milhão de toneladas em 2019

Comercialização: US$ 375,3 milhões de dólares em exportações / 2018

Área de produção: Barreiras, Correntina, Formosa do Rio Preto, São Desidério, Luis Eduardo Magalhães e Jaborandi.

Quantidade de produtores: 150 produtores

10) Mangas e Uvas do Submédio Vale do São Francisco

Volume produzido: 600 mil toneladas de manga e 43 mil toneladas de uva

Comercialização: US$ 200 milhões com exportação de manga e US$ 93,6 milhões com exportação de uva Área de produção (Manga): Abaré/BA; Afogados da Ingazeira/PE; Afrânio/PE; Araripina/PE; Arcoverde/PE; Belém do São Francisco/PE; Betânia/PE; Bodocó/PE; Brejinho/PE; Buíque/PE; Cabrobó/PE; Calumbi/PE; Campo Formoso/BA; Carnaubeira da Penha/PE; Carnaíba/PE; Casa Nova/BA; Cedro/PE; Chorrochó/BA; Curaçá/BA; Custódia/PE; Dormentes/PE; Exu/PE; Flores/PE; Floresta/PE; Glória/BA; Granito/PE; Ibimirim/PE; Iguaracy/PE; Inajá/PE; Ingazeira/PE; Ipubi/PE; Itacuruba/PE; Itapetim/PE; Itaíba/PE; Jacobina/BA; Jatobá/PE; Jeremoabo/BA; Juazeiro/BA; Lagoa Grande/PE; Macururé/BA; Manari/PE; Mirandiba/PE; Moreilândia/PE; Morro do Chapéu/BA; Orocó/PE; Ouricuri/PE; Ourolândia/BA; Parnamirim/PE; Paulo Afonso/BA; Petrolina/PE; Petrolândia/PE; Pilão Arcado/BA; Quixaba/PE; Remanso/BA; Rodelas/BA; Salgueiro/PE; Santa Brígida/BA; Santa Cruz da Baixa Verde/PE; Santa Cruz/PE; Santa Filomena/PE; Santa Maria da Boa Vista/PE; Santa Terezinha/PE; Sento Sé/BA; Serra Talhada/PE; Serrita/PE; Sertânia/PE; Sobradinho/BA; Solidão/PE; São José do Belmonte/PE; São José do Egito/PE; Tabira/PE; Tacaratu/PE; Terra Nova/PE; Trindade/PE; Triunfo/PE; Tupanatinga/PE; Tuparetama/PE; Uauá/BA; Umburanas/BA; Verdejante/PE; Várzea Nova/BA.

Área de produção (uva): Abaré/BA; Afogados da Ingazeira/PE; Afrânio/PE; Araripina/PE; Arcoverde/PE; Belém do São Francisco/PE; Betânia/PE; Bodocó/PE; Brejinho/PE; Buíque/PE; Cabrobó/PE; Calumbi/PE; Campo Formoso/BA; Carnaubeira da Penha/PE; Carnaíba/PE; Casa Nova/BA; Cedro/PE; Chorrochó/BA; Curaçá/BA; Custódia/PE; Dormentes/PE; Exu/PE; Flores/PE; Floresta/PE; Glória/BA; Granito/PE; Ibimirim/PE; Iguaracy/PE; Inajá/PE; Ingazeira/PE; Ipubi/PE; Itacuruba/PE; Itapetim/PE; Itaíba/PE; Jacobina/BA; Jatobá/PE; Jeremoabo/BA; Juazeiro/BA; Lagoa Grande/PE; Macururé/BA; Manari/PE; Mirandiba/PE; Moreilândia/PE; Morro do Chapéu/BA; Orocó/PE; Ouricuri/PE; Ourolândia/BA; Parnamirim/PE; Paulo Afonso/BA; Petrolina/PE; Petrolândia/PE; Pilão Arcado/BA; Quixaba/PE; Remanso/BA; Rodelas/BA; Salgueiro/PE; Santa Brígida/BA; Santa Cruz da Baixa Verde/PE; Santa Cruz/PE; Santa Filomena/PE; Santa Maria da Boa Vista/PE; Santa Terezinha/PE; Sento Sé/BA; Serra Talhada/PE; Serrita/PE; Sertânia/PE; Sobradinho/BA; Solidão/PE; São José do Belmonte/PE; São José do Egito/PE; Tabira/PE; Tacaratu/PE; Terra Nova/PE; Trindade/PE; Triunfo/PE; Tupanatinga/PE; Tuparetama/PE; Uauá/BA; Umburanas/BA; Verdejante/PE; Várzea Nova/BA

Quantidade de produtores: Mais de 3 mil produtores rurais