Nova minissérie da Globo reflete sobre barbárie e civilidade

A trama de dez episódios estreia quinta (2), no Globo Play, e está prevista para estrear na Globo em janeiro de 2018

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  • Laura Fernades

Publicado em 29 de outubro de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

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Debora Bloch interpreta Gilda, diretora financeira da construtora e aliada de Saulo por Foto: Ramon Vasconcelos/TV Globo/Divulgação

Se um prédio desabasse e soterrasse todos ao seu redor, o que você faria? Qual é o limite quando se trata da luta pela sobrevivência? Existe certo e errado? Esses são alguns dos questionamentos provocados pela minissérie Treze Dias Longe do Sol, que estreia dez episódios para os assinantes do serviço de streaming Globo Play, na quinta-feira (2), e para o público em geral, em janeiro, na Globo/TV Bahia.

A partir da história de nove soterrados que lutam pela vida debaixo dos escombros, a série questiona o comportamento humano e a dualidade entre barbárie e civilidade. O pontapé de tudo está no engenheiro Saulo (Selton Mello), que sonha em realizar a construção mais grandiosa de sua vida mas, para economizar na obra, acaba entregando um serviço mal feito e cheio de falhas.

Basta uma chuva forte chegar para uma infiltração tomar conta do prédio onde funcionaria um centro médico e tudo cair em ruínas, levando junto o engenheiro, a filha do dono do prédio (Carolina Dieckmann) - seu grande amor - e os operários envolvidos na construção. Enquanto as vítimas lutam para escapar da tragédia, lá embaixo, os que ficaram na superfície fazem de tudo para se livrar da culpa pelo acidente.

“Onde se esperava civilidade, rolou barbárie e onde se esperava barbárie, aconteceu a civilidade”, destaca a autora Elena Soarez, 53 anos, que assina a trama com Luciano Moura, diretor artístico da série. “Lá embaixo, onde você poderia imaginar que seria olho por olho, dente por dente, eles se organizam, as diferenças são mediadas e aquilo vira um grupo. Lá em cima, onde está todo mundo ‘salvo’, é uma guerra de foice para fugir da culpa”, compara Elena.

Herói sem conserto A dualidade está presente não só na base da história, mas também na própria concepção dos personagens, explica a autora que também assina a série Cidade dos Homens (2002), o filme Eu Tu Eles (2008) e o roteiro da série sobre a operação Lava-Jato, O Mecanismo, que estreia na Netflix em 2018. O engenheiro Saulo é um exemplo disso, já que é o responsável pela tragédia e, ao mesmo tempo, o herói que vai tentar ajudar os soterrados.

“Não acho que o motivo seja ganância, porque a ganância já é um jeito da gente moralizar a coisa. Saulo tem esse impulso: ‘eu quero ser o maior construtor do mundo’. Ele faria qualquer negócio por isso, só que não dá para passar por cima das coisas: prédios caem e nosso corpo não aguenta”, pondera Elena. “Nosso herói é um herói sem conserto”, resume.

Jogado de forma inesperada em uma situação limite, Saulo tem questões de sua vida reveladas com intensidade e isso provoca nele uma forte reflexão. “Tem a culpa de tudo aquilo que aconteceu, tem a revisão da vida, do que fez ele parar ali com a mulher da vida dele. Isso mexe muito com todos que estão ali embaixo”, ressalta o ator mineiro Selton Mello, 44, que em muitos momentos da série lembrou do irmão, Danton Mello, sobrevivente de um acidente de helicóptero, há 19 anos.

“Felizmente, nunca vivi nada tão pesado, mas meu irmão viveu. Muitas vezes pensava nele, era uma inspiração. Ele viveu algo realmente pesado e por um bom tempo a gente pensou que ele tivesse morrido. Danton sobreviveu mesmo, foi resgatado do meio da floresta, foi operado, e hoje está aí fazendo novela”, lembra Selton.

Carolina Dieckmann, 39 anos, por outro lado, conta que a experiência da série a fez refletir sobre a maternidade. “Mãe não pode morrer. Você tem que cuidar do seu filho, tem que ver ele casar, ter filho, se formar, tem que perguntar se ele não vai sentir frio, se não ficou com febre. Só mãe faz isso”, justifica a atriz carioca que dá vida a médica Marion.

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Mergulho O mergulho emocional e físico na série incluiu mais de um mês de ‘confinamento’ em um cenário de desconstrução viabilizado com a ajuda de 90 caminhões de entulhos. “Eles viraram mesmo aquele grupo que está lá embaixo, porque foi um mês filmando dentro do buraco. Impressionante essa entrega que só o ator pode fazer”, elogia Elena Soarez.

O núcleo de soterrados inclui atores de teatro do Nordeste, como o baiano Antônio Fábio, 56, que interpreta o mestre de obras Jesuíno. “A gente cansava fisicamente. Estávamos muito devotados àquele trabalho”, conta Antônio. “Foi uma experiência fantástica”, completa o ator que já participou de séries como O Canto da Sereia (2013), O Rebu (2014) e Amores Roubados (2014).

Outro baiano que faz parte do elenco é Fabrício Boliveira, 35, que interpreta o bombeiro responsável por fazer a ponte entre subsolo e superfície. “Nesses momentos de dualidades tem alguém no meio, acreditando com o coração, agindo humanamente”, destaca Fabrício. Para o ator, seu personagem traz importantes reflexões para a trama.

“É muito importante, porque não param de matar jovens negros dentro das comunidades. Se a gente não ressaltar que esse homem negro - talvez da comunidade que foi assassinado - podia estar preparado para salvar outras vidas, a gente teria com certeza outros retratos de Brasil, outros retratos de política”, defende.