Novo Batman é ótima combinação de desespero e poder brutal

Sexto ator a viver o Morcego no cinema, Robert Pattinson foi escolha acertada do diretor Matt Reeves

  • Foto do(a) author(a) Doris Miranda
  • Doris Miranda

Publicado em 3 de março de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Um homem consumido pela fúria da vingança e sem muita noção dos limites que o separam  do crime. Você aí, que achou o Batman de  Christian Bale atormentado, se prepare para ver Robert Pattinson afundar o Homem-Morcego ainda mais no caos e emergir o herói em outro tom. Agora, além da ação propriamente dita, o justiceiro gasta energia psíquica para lidar com a violência decadente de Gotham. Um Batman detetive,  que aprofunda o thriller policial do diretor Matt Reeves (Planeta dos Macacos) e encorpa as referências ao noir dos anos 1940, a clássicos como Taxi Driver (Martin Scorsese) e aos  serial killers de David Fincher (Seven e Zodíaco). 

Como se trata de um dos personagens mais  populares das HQs, com 83 anos de uma trajetória que ainda não mostra sinais de cansaço, Reeves fez também uma viagem nos quadrinhos. Pinçou três títulos para se nortear: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzucchelli; O Longo Dia das Bruxas, de Jeph Loeb e Tim Sale; e Ego, de Darwin Cooke. Essa última o ajudou a lapidar seu herói: “Ego foi  muito importante no processo de escrever o roteiro porque lida com a psicologia em ser o Batman, com a ideia de ter um monstro interior numa constante batalha. Era exatamente o que eu buscava”. Robert Pattinson se sai muito  bem na pele de Bruce Wayne (divulgação) Batman entrega  um resultado muito bom e comprova que a aposta do diretor Matt Reeves em Pattinson  foi acertada. Revelado na saga Crepúsculo, o ator traçou uma meticulosa jornada e se deixou desafiar por diretores do quilate de Christopher Nolan (Tenet), Robert Eggers (O Farol) e David Cronenberg (Cosmópolis).  

Veja o trailer de Batman:

Como Kristen Stewart, ele já provou que é ator de  verdade. Mais soturno que o habitual, seu Morcego/Bruce Wayne tem um olhar tristíssimo e uma expressão corporal sempre tensa, que traduzem a amargura de ter visto os pais assassinados.

Os vilões Uma das coisas mais bacanas deste novo Batman é que Reeves não repete a cena da morte de Thomas e Martha Wayne. Parte do pressuposto sensato de que todos sabemos e segue livre para apresentar o vingador em seus dois primeiros anos, quando ainda não sabia por quem se arriscar.

A Gotham City que Christopher Nolan apresentou na trilogia do Cavaleiro das Trevas já era bem hardcore. Essa é só lama e escuridão, onde a máfia e a miséria são os principais problemas. É neste cenário pessimista que surge a parceria do Batman com o comissário Jim Gordon (Jeffrey Wright). Juntos, tentam encurralar os mafiosos Carmine Falcone (John Turturro) e Pinguim (Colin Farrell, irreconhecível e numa atuação espetacular). Zöe Kravitz interpreta a Mulher-Gato e vira detetive junto com o Batman (divulgação) No processo, descobrem um psicopata que espalha pistas bizarras. O Charada  de Paul Dano, numa performance tão realista quanto assustadora. O clima de investigação crescente casa com o vilão, desenhado numa pegada totalmente diferente do trabalho histriônico de Jim Carrey, em Batman Eternamente.

Um dos pontos altos do longa, que tem quase três horas de duração, é a deliciosa Mulher-Gato de Zöe Kravitz. Aliás, está nela o início da história: sua namorada some e, enquanto tenta descobrir pistas, ‘esbarra’ no Morcego. Essa versão de Selina Kyle/Mulher-Gato, assim como Bruce Wayne/Batman também está aprendendo a ser quem é e o porquê disso. E, sim, a química entre Kravitz e Pattinson é massa.  Colin Farrell está irreconhecível e brilha como Pinguim (divulgação) Inspiração no Nirvana Curioso é como o Batman de Pattinson responde bem à energia deprê de Something in the Way,  faixa do antológico álbum Nevermind (1991), do Nirvana, apresentada como tema do personagem. Segundo Matt Reeves, a canção foi fundamental para o desenvolvimento do roteiro, partindo de um angustiado Kurt Cobain para inspirar a essência de Bruce Wayne.

“Quando estava escrevendo, Something in the Way começou a tocar. Foi então que me dei conta que, além da versão playboy que já vimos de Bruce, existe outra versão que passou por uma tragédia e ficou reclusa. Então, comecei a fazer essa conexão com ‘ Últimos Dias’, do Gus Van Sant, e a ideia da versão ficcional de Kurt Cobain em uma mansão decadente”, explica Reeves. 

Dá para enxergar a energia de Cobain no caos interno do personagem. “É um filme triste. Bruce está tentando encontrar esperança em si próprio, e não apenas na cidade. Normalmente, ele nunca questiona a própria habilidade, ele questiona a habilidade da cidade em mudar”, opina Pattinson.

Ouça a música do Nirvana que inspirou a composição do novo Batman: