Novo livro do poeta Tiago D. Oliveira será lançado no Rio Vermelho; leia trechos

'As solas dos pés de meu avô’ traz poemas escolhidos pelo autor baiano

Publicado em 28 de fevereiro de 2020 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Foto: Divulgação O escritor, poeta e professor Tiago D. Oliveira, 35 anos, apresenta, no próximo dia 14 de março (sábado), o seu novo livro, 'As solas dos pés de meu avô'. O lançamento da obra, que é uma coletânea de poemas, será no Dois Cafés (Rua Odilon Santos, 89), no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.

O evento terá apresentação da escritora Clarissa Macedo, com leituras Da colunista do CORREIO Kátia Borges, e dos também escritores Alex Simões, Denisson Palumbo, Demétrio Torres e Tina Tude. O músico Gabriel Póvoas, que musicou dois poemas do livro, também estará presente.

'As solas dos pés de meu avô', que será publicado pela Editora Patuá, é o quarto livro do poeta, que também pretende fazer o lançamento em cidades do interior baiano ainda neste primeiro semestre. Imagem: Divulgação Natural de Salvador, o autor tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados no Brasil, Portugal e Espanha. 

Participou também de antologias no Brasil e em Portugal, dentre elas: Contos nos is (Edições Ecopy, 2011, Portugal), Entre o sono e o sonho – tomo I, II e IV ( Chiado Editora, 2013 e 2016, Portugal), Publicou Distraído, poesia (Editora Pinaúna, 2014), Debaixo do vazio, poesia (Editora Córrego, 2016) e Contações, poesia (Editora Patuá, 2018). Graduado e mestrando em Letras pela UFBA, ele passou também pela UNL (Portugal). 

Leia trechos de poemas do livro cedidos por Tiago D. Oliveira:

i.

é pelos pés de meu avô que entendo a vida. morto de cima de nove décadas esculpidas nas rachaduras das solas duras, naquele mesmo quarto de estreitos e sonhos. caminho nos cascos a figurar seu povo, na herança do sangue no olho que o eco de sua voz ainda vive. é pelos pés do morto, numa cama de pau, que vejo a luz do dia chegar. o choro, a reza, a morrinha de paz que fica.

ii.

meu pai chegou à capital menino. de domingo a domingo perdeu o que hoje não consegue mais lembrar. veio para tentar a vida e ficou – foram as primeiras frases que li naquelas solas duras de pés juntos, como os de quem reza. era o título de um texto que continuava – depois fui eu a partir para Lisboa em busca da manilha e o libambo que idealizei. ecos em silêncio vindos de outra existência, idas de 1800, ou não, ou de um call center, atendendo às ligações e sendo mandando de volta a cada três minutos, recebendo ecos de outras partidas. quando meu pai veio para a capital tinha a metade de mim, a outra descobri quando retornei de Portugal. há mais ou menos quarenta anos ele chegava, após quatro eu voltei para o Brasil. as rachaduras nas solas duras de meu avô escreveram estas palavras também.

xxxvi.

quando a lágrima caiu dos olhos de meu pai sobre a terra, erigiu no tempo a marca dos homens Oliveira. desde o menor impresso ao último, de uma vida abafada por vida. a lágrima de meu pai fundou o corpo morto de meu avô. depois, de um punhado de terra, dignificou a sua alma [ vai com o pai, meu pai e lançou à eternidade a permissão para o comer de sua carne. manezinho, morto de cima de nove décadas esculpidas de sol a sol, nas solas sujas com a terra que a todos consola [ que morrer de vida não é para entristecer.