'Nunca vou esquecer dela caída na poça de sangue', diz avó de menina morta no Santo Inácio

Geovanna Nogueira da Paixão morreu durante confronto da polícia com bandidos

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  • Nilson Marinho

Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 10:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Montagem CORREIO

"Nunca vou esquecer da minha primeira neta, minha filha, caída em uma poça de sangue", disse a dona de casa Valdete Maria Paixão, 66 anos, avó materna de Geovanna Nogueira da Paixão, 11, morta com um tiro na cabeça durante uma incursão policial na Comunidade Paz e Vida, bairro de Jardim Santo Inácio, em Salvador, na manhã de quarta-feira (24). A avó, na manhã desta quinta-feira (25), voltou pela primeira vez à casa onde vivia na companhia da neta, do marido e de um outro neto, irmão de Geovanna. Hoje pela manhã, um ônibus foi queimado no bairro cerca de 500 metros perto do local do crime. 

A dona de casa estava hospitalizada em Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Santo Inácio e, sozinha, resolveu voltar à cena do crime. "Tenho que voltar, eu preciso ver onde foi, preciso desabafar", disse enquanto era amparada por moradores e vizinhos da comunidade. Geovanna foi baleada na cabeça quando corria para ver o avô (Foto: Reprodução/Carol Aquino/CORREIO) No dia do crime, conta a avó, Geovanna estava sentada ao seu lado, no sofá, quando resolveu sair para rua - ela viu o avô que chegava. Minutos depois, caiu na porta da residência após ser baleada. Um estilhaço do projétil que matou a menina caiu no sofá onde ela estava sentada, relatou a avó ao CORREIO. A comunidade e a família da vítima culpam a polícia pela morte."[Policiais] Não venham dizendo que foi troca de tiros, vocês precisam ser homens e assumir que mataram a minha neta. Se querem bandidos, vão procurar fora daqui", desabafou Valdete. De acordo com a vice-presidente da associação de moradores da comunidade, Cileide Gomes da Silva, os policiais estavam em um carro modelo Ford Ka, preto e sem padronização. O local, ainda de acordo com ela, é tranquilo e seguro. "Foi um absurdo. Aqui só mora mãe e pai de família, crianças que brincam na rua. Não é a primeira que a polícia entra aqui dessa forma", afirma a vice-presidente. 

A comunidade surgiu há cinco anos e moram lá 250 famílias. Geovanna morava há cerca de oito meses com a avó, depois que os pais se separaram. O irmão mais novo dela, de apenas 5 anos, presenciou o crime. A garota era aluna da Escola Municipal Jardim Santo Inácio."Meu neto quando viu ficou sem saber o que estava acontecendo com a irmã.  Ele me perguntou: 'por que ela estava deitada, vó?'", conta Valdete.O sepultamento de Geovanna acontece na manhã desta sexta-feira (26), às 10h, no Cemitério Municipal de Pirajá. A família da garota pretende denunciar o caso à Corregedoria da Polícia Militar. A avó relembra o momento em que a neta foi morta. 

Investigação Em nota, a Polícia Militar informou que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar e esclarecer de onde partiu o disparo que vitimou a menina. "Segundo informações dos policiais militares da 48ª CIPM, eles foram recebidos a tiros por criminosos ao chegarem na localidade Paz e Vida e houve confronto. Logo em seguida um homem pediu socorro à guarnição, pois uma garota havia sido ferida. Imediatamente os policiais militares socorreram a vítima à UPA de Santo Inácio, onde ela não resistiu. O prazo de conclusão do IPM é de 40 dias e pode ser prorrogado por mais 20 dias", afirmou a PM. Policiamento foi reforçado no bairro na manhã desta quinta-feira no bairro  Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO A PM disse ainda que, em relação aos desdobramentos e investigações sobre o caso, a competência é da Polícia Civil, que age como polícia judiciária. "Sobre a denuncia da família da menina, a Polícia Militar orienta que a(s) vítima(s) dirijam-se a sede da Corregedoria da Polícia Militar para formalizarem registro sobre o ocorrido", afirmou a PM. 

A Polícia Civil informou, através da assessoria de comunicação, que a investigação está em andamento e que familiares e vizinhos já foram ouvidos.

A Secretaria Municipal de Educação (Smed) emitiu uma nota sobre a morte da garota. "É grande o pesar por uma morte tão prematura e em circunstâncias que causam revolta e indignação. Geovanna era uma aluna muito querida por todos, colegas, professores, funcionários e equipe de gestão, na Escola Municipal Jardim Santo Inácio, onde estudava. A Smed presta sua solidariedade à família, amigos, parentes e comunidade escolar nesse momento de grande dor".