O atacante Rodrigão e o risco dos ‘ídolos de barro’

Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos

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Publicado em 6 de agosto de 2017 às 16:12

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Fazer um gol, bater no escudo, correr para a torcida e mostrar as veias saltitantes no braço. Comemoração que a maioria dos jogadores faz, mas que reverbera ainda mais forte entre os torcedores do Bahia. Um povo que se identifica com aqueles capazes de representá-los dentro de campo. Por isso, não surpreende a empolgação dos tricolores com o começo do atacante Rodrigão, que já ostenta quatro gols em quatro partida com a camisa azul, vermelha e branca.

Personificar sentimentos é altamente natural dentro da Fonte Nova, sobretudo quando o Bahia está no gramado. Quem acompanha de perto o futebol baiano, sabe a facilidade que o torcedor tem em se apegar. Quem não lembra de Raudinei, autor de um dos gols mais importantes do clube na década de 1990? Lembra de Charles, aquele que balançou as redes contra o Fast Clube na famigerada Série C de 2007? E de Jael, “o cruel”, um dos protagonistas da Série B de 2010? Nomes de ídolos efêmeros, com a missão de balançar as redes adversárias, mas que, na prática, criaram uma história muito curta com o manto tricolor. A torcida foi quem deu a intensidade do sentimento.

Não quero dizer, claro, que Rodrigão será um ídolo efêmero, tampouco posso afirmar que se tornará um dos maiores da história do clube. Olhando para o presente, o centroavante era o que faltava para o time ganhar uma outra cara no Brasileirão. Parece paradoxal, mas o tricolor saiu da previsibilidade ao voltar a jogar com um atacante fixo na área, normalmente bem previsível por sua limitação técnica. Com alguns recursos na finalização, Rodrigão eleva a performance do ataque de sua equipe com poucos toques na bola. A média de um gol por jogo é algo a se ressaltar numa competição de nível técnico tão alto.

Talvez, o que mais preocupe o torcedor Bahia seja o pensamento dos atletas em jogar em função de seu atacante fixo. Jorginho, ao que parece, pensava dessa forma: na maioria dos jogos em que Rodrigão esteve em campo, a equipe insistia em alçar a pelota na área à sua procura. Deixou de ser um time que trabalhasse mais a posse de bola, acelerando o jogo no último terço do campo e contando com a movimentação intensa de seu quarteto ofensivo para, de maneira brusca, ser reativo e jogar por uma bola. Rodrigão é uma peça que deveria encaixar numa engrenagem que vinha dando certo, e não se tornar a solução de todos os problemas do ataque.

A volta da utilização de um atacante fixo, de certa forma, pode também ajudar a recuperar o futebol de alguns jogadores. O trio formado por Zé Rafael, Régis e Allione caiu de rendimento devido à intensidade que o jogo ofensivo do Bahia provocava, sobretudo com a utilização de um atacante móvel. O desgaste físico ficaria bem evidente quando a sequência de jogos fosse maior. O time, por sua vez, não tem no banco de reservas jogadores que mantenham a performance do time em alto nível. A cobrança passa a recair nos três jogadores e o centroavante, que veste a camisa e já faz quatro gols, torna-se o “Messias”.

Rodrigão tem sido fundamental na recuperação do Bahia no Campeonato Brasileiro, mas o time não pode viver novamente um ciclo vicioso de encontrar uma solução e se apegar apenas a ela. Para a admiração ao atacante não transformá-lo num ‘ídolo de barro’, é fundamental que a equipe tenha repertório. Idolatria é pessoal, mas depende do conjunto para acontecer.