O Brasil é o país do passado

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  • Paulo Sales

Publicado em 10 de fevereiro de 2020 às 05:00

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“E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado”. Nunca a frase clássica de F. Scott Fitzgerald, que encerra O Grande Gatsby, definiu tão bem a deterioração de um país. Retrocedemos tanto em um ano que atingimos nosso marco zero, retornando até aquele contato primordial ocorrido numa praia da Bahia, eternizado por Pero Vaz de Caminha. Sejam bem-vindos à Ilha de Vera Cruz."Nessa jornada penosa de regresso, esquecemos o pouco que construímos enquanto sociedade nos últimos 520 anos, os avanços que em determinado momento nos inseriram no mundo civilizado. Esquecemos tudo e voltamos ao breu da mais completa ignorância."A história comprova que o progressivo contato com o homem europeu foi preponderante para o extermínio dos povos que viviam no imenso território brasileiro e a consequente devastação das terras indígenas a partir do século 16. O que restou – quase nada – é hoje protegido por leis que impedem a interferência em tribos isoladas, algumas delas sem qualquer contato com o homem branco. Trata-se de um tesouro, uma preciosidade quase sem paralelo no mundo. A manutenção desses primeiros habitantes do nosso mundo e de toda a biodiversidade que os cerca e que eles preservam é o que faz da Amazônia um ecossistema singular.

Tudo isso está sob sério risco de perecer. A visão de mundo civilizada, humanista, está dando lugar a um percepção tosca e predatória, cujos efeitos começaram a ser vistos em meados do ano passado, com as queimadas em série que destruíram territórios significativos de floresta. Não bastou. Sempre é possível tornar o cenário ainda mais sombrio. O que se arquiteta agora – a céu aberto e sem disfarces – é um etnocídio planejado e institucionalizado. O atual governo acaba de enviar ao Congresso um projeto de lei que permite a exploração de minério, petróleo, gás e energia elétrica em terras indígenas, além de turismo, agricultura, pecuária e extrativismo florestal. Na prática, é o fim da Amazônia.

A esse projeto se soma a escolha de um ex-missionário evangélico para ser coordenador de indígenas isolados e de recente contato da Funai. Uma escolha que ignora a longa trajetória de abusos contra essas populações vulneráveis. Durante a Ditadura Militar (que, por mais desastrosa que tenha sido, serve de inspiração ao atual presidente), a integração forçada de indígenas resultou em miséria, aculturação, devastação e doenças. Mas, bem, não há qualquer compromisso com indígenas. O compromisso é com garimpeiros, pecuaristas, invasores de terras, madeireiros ilegais e líderes evangélicos."Não sei mais o que dizer. É como se o mundo no qual assentei meus princípios morais estivesse se despedaçando aos meus pés. O grau de ignorância e de beligerância é abissal. Como chegamos a esse estágio? Como deixamos isso acontecer? Como a estupidez chegou tão longe? "Na educação, na cultura, no meio ambiente, nas relações com outros países, no respeito à dignidade humana. Tudo virando poeira, enquanto observamos impotentes como peças de um presépio. É que estamos nos guardando para quando o Carnaval chegar.