O clube acima de qualquer ídolo

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  • Miro Palma

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quando o assunto envolve ídolos do futebol, parece que temos um cuidado excessivo em apontar erros. Criamos um certo pedestal e qualquer comentário vira um ataque àquele que um dia foi o responsável por triunfos em campo. Mas a vida não se resume às quatro linhas e nem sempre há um herói por baixo do uniforme. Faço essa reflexão porque, em meio a uma era em que tudo é considerado “mimimi”, uma reclamação sobre quem se posiciona contra – ou nem chega a tanto – um ídolo do futebol ainda gera polêmica.

O novo presidente do Santos, José Carlos Peres, por exemplo, deu uma declaração em que descartava, a princípio, a contratação de Robinho. Ídolo revelado pelo clube, o jogador não renovou contrato com o Atlético-MG. Muito cortês em suas palavras, o cartola disse que “não prometi Robinho. Entendo que é um jogador identificado, tem que ser bem tratado na Vila, é um ídolo, mas há essa questão da Itália”. A questão mencionada é a condenação a nove anos de prisão pelo estupro coletivo de uma jovem albanesa cometido em uma casa noturna de Milão, no dia 22 de janeiro de 2013.

A decisão da 9ª Seção da Corte de Milão, que afirma que os abusos foram cometidos junto com outros cinco brasileiros, é passível de recurso em mais duas instâncias. Mas, ainda que ele seja inocentado, como aconteceu em 2009, quando Robinho foi investigado sob a suspeita de uma agressão sexual que teria ocorrido, também, em uma casa noturna, dessa vez na cidade de Leeds, na época em que atuava pelo Manchester City, a notícia e a condenação mancham a sua história.

Por isso, é compreensível que um gestor de um time com o mínimo de bom senso não queira contratar um profissional que esteja condenado por tal crime. Não é mesmo? Parece que não. José Carlos Peres deve ter acordado com a orelha coçando de tanto que falaram dele. E pior, de tanto que criticaram a sua posição. O ex-jogador William, comentarista no Sportv, chegou a discordar da jornalista Mayra Siqueira, que falou em apoio ao presidente do Peixe, porque achou o comentário “muito perigoso”.

Perigoso seria o Santos contratar um jogador até então condenado por um crime absurdo. Perigoso seria ter um jogador em campo que, depois de todos os recursos possíveis, fosse condenado em última instância por estupro. Perigoso seria a repercussão dessa possível condenação final levar sempre ao lado do nome do profissional, o nome da instituição em que ele trabalha. Isso, sim, seria bastante perigoso para o clube.

E mais perigoso ainda, provavelmente, o maior risco que qualquer instituição poderia sofrer, seria passar uma imagem de complacência com tal violência. Porque seria essa a mensagem que um presidente de clube iria passar se contratasse um jogador condenado por estupro. Perigoso, mesmo, seria ver as torcedoras do Santos sentindo que a sua segurança não é importante para o clube do coração. Porque, mais uma vez repito, mesmo que a inocência de Robinho seja comprovada posteriormente, hoje ele tem uma condenação sobre suas costas.  Perigoso -  caros amigos homens que, assim como eu, não têm medo de sair à noite sozinho ou de usar uma roupa específica entre outras coisas - seria sobrepor um ídolo do futebol a uma atitude que reforçaria a cultura do estupro.

*Miro Palma é subeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras